Em homenagem ao pai, moradora resgata memória do Jaçanã
Eternizado por Adoniran Barbosa na música “Trem das Onze”, o bairro do Jaçanã, na zona norte de São Paulo, tem sua história e memória resgatadas na página do Facebook “Bairro do Jaçanã SP. Ontem e Hoje” criada este ano por uma moradora.
Katia Mahrenholz, 48, formada em Turismo, vive no bairro desde que nasceu e decidiu criar a página após o falecimento do pai. “Eu queria prestigiar meu pai que sempre viveu e amou o Jaçanã e também porque sempre que eu buscava alguma informação ou fotos antigas do bairro, não encontrava na Internet”.
Katia alimenta a página com imagens antigas e atuais do bairro. Amante da fotografia, ela registra locais do Jaçanã e conta um pouco de sua história. Algumas fotos são do acervo pessoal de sua família e outras enviadas por seguidores.
A página acabou promovendo o reencontro entre pessoas. “Muitos seguidores acabam se encontrando, como pessoas que trabalharam numa mesma fábrica e alunas do antigo Colégio Santa Rita de Cássia, que se viram na foto depois de muitos anos”, relata Kátia.
Hermínio Naddeo, 70, aposentado, é um dos seguidores da página. Atualmente reside em outro estado, mas nasceu e frequentou o bairro na infância. Ficou sabendo dela pelo cunhado e acredita que ela consegue resgatar a memória do Jaçanã.
Aos sábados e domingos, ia com a família visitar o tio, que era chefe da antiga estação de trem que lá existia. “O Jaçanã tinha um pátio de manobra e os trens que não estavam circulando ficavam parados nos finais de semana. Meu irmão e eu íamos pra lá e brincávamos nos vagões com minhas primas”, relembra.
Para ele, é preciso falar das fábricas e da importância econômica do Jaçanã na época, como a metalúrgica Aliança (existente até hoje), no qual Hermínio começou a trabalhar aos 16 anos. “Era um bairro autossustentável, vinha gente de fora trabalhar lá”, afirma.
A jornalista Renata D’Elia, 30, mora no bairro desde que nasceu. Soube da página por indicação de uma amiga moradora de Moema. Para ela, mais do que divulgar a história do bairro, a página preserva sua memória. “Sobretudo a afetiva de quem vive aqui e de quem já viveu e está em outros bairros, ou dos curiosos sobre a cidade de São Paulo”.
Renata espera que a página ajude as pessoas a se mobilizarem para a conservação do bairro. “O povo que está morando que ficou por aqui, está muito desinteressado e anda mais nem aí para o bairro”.
Leandro Fonseca, 22, é correspondente do Jaçanã.
@lefonsec
leandrofonseca.mural@gmail.com
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Obrigada Leandro! A matéria ficou excelente! Espero que você continue com seu ótimo trabalho. A memória de um bairro deve ser sempre respeitada e valorizada. Jaçanã agradece seu carinho! Um forte abraço!
A Associação Geração Educadora, sediada no bairro do Jaçanã, parabeniza a senhora Katia Mahrenholz por sua dedicação em prol do resgate e conservação da história do povo desse bairro e por viabilizar reencontros entre pessoas que há muito não se viam. O seu pai está sendo eternizado através do seu trabalho. A comunidade saberá reconhecer o valor dessa sua ação.
Adorei a reportagem também, Leandro, é muito bom ver nosso bairro sendo lembrado somente com fatos de recordações boas, histórias que nos remetem ao passado, como a Katia publica em sua página, e nos trazem saudades, e não vergonha do lugar que moramos. Moro no Jaçanã há 39 anos e não quero sair daqui. Amo meu bairro.
Katia, parabéns pela iniciativa. Você soube transformar a dor, a saudade em uma linda homenagem a seu pai. Além do mais, esta fazendo um bem ao bairro que você ama. Parabéns.