Osasco relembra ditadura e envia relatório à Comissão da Verdade
Em meio ao relatório da CNV (Comissão Nacional da Verdade), a cidade de Osasco, na Grande São Paulo, também teve um grupo de trabalho que elaborou um documento com informações sobre a história e os abusos ocorridos no município durante a ditadura militar (1964 – 1985).
A CMVO (Comissão Municipal da Verdade de Osasco), criada por lei, trabalhou durante três meses nas apurações sobre o período do regime e continuará até fevereiro quando emitirá um relatório final.
O texto parcial foi enviado à CNV neste mês e mostra o momento crucial da repressão na cidade, durante a greve dos funcionários da empresa de trens urbanos Cobrasma, em 1968, com a prisão de centenas de funcionários e a ação contra dirigentes do Sindicato dos Metalúrgicos. Torturadores e pessoas que se infiltraram nos movimentos foram citados.
“De certa maneira a cidade foi a síntese do que aconteceu em nosso país durante o período ditatorial”, afirma o jornalista Antonio Espinosa, 68, que participou da luta armada contra o regime pela Vanguarda Popular Revolucionária, mesmo grupo integrado pela presidente Dilma Rousseff.
“Osasco ficou marcada pelas mobilizações e manifestações de rua. Foi a primeira cidade a ser marcada pelas manifestações”, ressaltou.
A apuração foi dividida em subcomissões que apuraram vítimas, locais, agentes de Estado e o equilíbrio federativo, cuja função foi mostrar a relação entre a administração municipal e os militares.
Houve, por exemplo, a colocação de um interventor próximo aos militares à frente da prefeitura, cita o relatório. O golpe ocorreu apenas dois anos depois da emancipação de Osasco, que era um distrito da cidade de São Paulo.
Havia receio por parte dos vereadores. Quando a greve da Cobrasma ocorreu, alguns parlamentares declararam apoio aos operários, mas tentaram se esquivar de represálias.
“Alguns vereadores alegam que este evento teria ocorrido em consequência da fome. A discussão foi pautada em demonstrar apoio aos trabalhadores, [mas] estabelecer um posicionamento contrário àqueles que pudessem tentar usar deste evento como palco para oposições políticas ao regime vigente”, aponta o relatório.
TORTURA
“Osasco lamentavelmente também foi o lugar que abrigou centros de tortura”, diz o texto, citando a delegacia seccional, os quartéis 2º grupo de canhões antiaéreos de 90 milímetros e o 4º Regimento de Infantaria, com sede no bairro de Quitaúna.
“A família foi totalmente destruída pelo regime militar. Meu irmão, João Domingos, ficou trinta e três dias no hospital. Ele chegou em casa com um único tiro e até chegar ao hospital (hospital das Clinicas), tinha quatro”, relatou Iracema Maria dos Santos, irmã de um dos líderes sindicais mortos no período.
A procura por Carlos Lamarca, que desertou do 4ºRI, e José Carlos Barreto, ex-funcionário da Cobrasma, mortos em 1971, foi um dos principais motivos para os abusos denunciados por pessoas ouvidas pela CMVO.
“Ficamos numa situação difícil, isolados dos vizinhos, que diziam que não podíamos mais frequentar suas casas, eles tinha muito medo”, contou Olival Campos Barreto, irmão de Zequinha Barreto.
Paulo Talarico, 24, é correspondente de Osasco
@PauloTalarico
paulotalarico.mural@gmail.com
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Houve sim abusos inadmissíveis por parte do Regime Militar, mas houve também muito avanço em todas as áreas, o país evoluiu com aquele regime que nos colocou na liderança da região, enquanto movimentos sociais equivocados levaram países vizinhos a um decréscimo da economia e retrocessos sociais visíveis. Não vemos muitos defendendo o que houve de bom naqueles tempos, teria sido somente coisas tão ruins? Como o regime nazista que conseguiu avanços até hoje desfrutados por todos, mas que cometeu crimes graves. O que foi de bom deveria também ser comentado, precisamos de autoconfiança e orgulho para seguir.