Há 30 anos, aeroporto não foi bem recebido por moradores em Guarulhos
Década de 1970. Congonhas já estava superlotado e não havia como aumentar o tamanho de suas pistas para receber voos internacionais. Era preciso um novo aeroporto e o local escolhido para ele foi o bairro de Cumbica, em Guarulhos. Porém, a ideia nem sempre foi essa e não ganhou o apoio dos moradores da cidade.
Funcionários da Base Aérea de Guarulhos alertavam sobre os possíveis problemas de um aeroporto em Cumbica que, em tupi, significa “nuvem baixa” ou “nevoeiro”. De fato, quem trabalha no aeroporto, ou chega de viagem na madrugada, está acostumado às constantes neblinas no local.
A população de Guarulhos também foi contra a construção do terminal por temer as desapropriações que a obra poderia causar. De acordo com a imprensa da época, o prefeito da cidade, Néfi Tales, reivindicou à Aeronáutica que fosse feito um plebiscito com os guarulhenses; já havia um abaixo-assinado correndo a cidade com mais de cinco mil assinaturas contra a obra.
“Minha mãe assinou o abaixo-assinado”, relembra a contadora Auxiliadora Oliveira, 49. “Nossa casa fica em uma rua que dava no final da pista do aeroporto, então ela teve medo de desapropriação. Nós não tivemos que sair e hoje nossa rua virou ponto de observação: todo mundo vai lá de fim de semana ver os aviões. É bem legal.”
Em 1979, uma comissão formada pelo prefeito, vereadores e outros líderes da cidade viajou à Brasília para tentar barrar a construção do aeroporto, e apresentaram estudos que mostravam que o espaço era impróprio, além de indicar transtornos aos moradores devido a poluição, principalmente sonora, e as desapropriações.
A sugestão proposta era a ampliação do aeroporto de Viracopos, em Campinas, mas Guarulhos tinha um grande espaço doado pela família Guinle para obras aeroportuárias, onde, em uma pequena parte, já operava a Base Aérea. Então, em 20 de janeiro de 1985, o Aeroporto Internacional Governador André Franco Montoro foi inaugurado.
Com duas pistas para pousos e decolagens – uma com 3.000 metros de extensão e outra com 3.700 metros – era previsto que seu porte daria conta do movimento no terminal até 1998. Somente em 2012 o terminal 4 foi entregue, e o terminal 3 no ano passado.
O aposentado Benedito Décio de Melo, 71, ex-atendente da alfândega para passageiros da Varig, começou a trabalhar em Cumbica em 1985, depois de 20 anos em Congonhas. “Logo no começo o serviço era bem improvisado: os balcões mudavam de terminais, os acessos ainda tinham barro, os setores ficavam longe uns dos outros. Era ainda o fim da época da aviação mais romântica, foram meus melhores anos”.
Segundo informações da GRU Airport, empresa que administra o aeroporto, até novembro do ano passado, aproximadamente 36 milhões de passageiros passaram por Cumbica. A tendência é crescer e conquistar mais passageiros, assim como conquistou os guarulhenses, que veem seus problemas, mas não imaginam mais a cidade sem o terminal.
Carolina Porne, 25, é correspondente de Guarulhos
carolporne.mural@gmail.com
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