Apesar de convites, bloco da zona norte descarta virar escola de samba
Em 15 janeiro de 1993, o comerciante Nelson Amaro dos Santos, 65, em uma conversa de bar com amigos, decidiu transformar o time de futebol que coordenava na escola municipal Humberto Dantas em bloco carnavalesco.
Da brincadeira, surgiu o bloco Garotos da Vila Santa Maria, da zona norte de São Paulo, oficializado em 1994 na UESP (União das Escolas de Samba Paulistanas).
Com 600 integrantes, com oito troféus [conquistou o título em 1999 e 2006 da Uesp], e tendo a Camisa Verde e Branco como madrinha e o apoio cultural de 16 comerciantes, não faltaram propostas para que o grupo se transformasse em escola de samba.
Contudo, a intenção é continuar no bairro. “Fomos convidados quatro vezes, mas queremos continuar como bloco. Não queremos correr o risco de ficarmos ‘de castigo [ser rebaixado]’”, brinca Josefa dos Santos, 56, esposa de Nelson, mãe de seis filhos, comerciante e diretora.
O grupo, composto na maioria por moradores do bairro, desfilou de baixo de chuva, na segunda-feira (16), e terminou em quinto lugar. No entanto, o trabalho começa com antecedência, semelhantes ao das escolas de samba tradicionais.
“Preparamos fantasias a mais para não perdermos ponto, pois também chamamos pessoas de última hora para não faltar gente”, diz Josefa. Nada é cobrado pelas fantasias, garante.
O local usado é sua casa, com pequenos cômodos e que fica cheia de máscaras, tecidos e papéis brilhantes. Apesar das 10 pessoas responsáveis pela confecção, que se inicia em meados de junho, todos se empenham. “Cada um faz de tudo um pouco. Quando chega novembro, o bicho pega”, afirma Katia Coutinho, 35, integrante há 15 anos.
O grupo é composto por diversas faixas etárias e moradores da região, porém, aberto para todos. Dentre os requisitos está o comprometimento em ir aos ensaios e ter no mínimo sete anos, com acompanhamento dos responsáveis.
Kátia é mineira e mãe de dois filhos que também participam. “Quando cheguei aqui, não conhecia ninguém. Eles me acolheram de braços abertos”, diz. Ainda segundo ela, que esteve como lua entre os destaques na abertura, representa uma conquista para a comunidade. “O samba une mais as crianças, faz elas não desistirem de seus sonhos”, ressalta.
Discreto e de poucas palavras, o fundador do bloco Nelsão, como é conhecido, faz questão de mostrar os prêmios no decorrer de 22 anos, e sente-se orgulhoso ao reunir várias gerações em sua residência.
O bloco teve quatro alas, com o samba-enredo Sol e Lua- Uma História de Amor, inspirado no eclipse lunar, previsto para ocorrer em setembro, composto por Paulinho Casa Verde e Murilo da Morada. O carro alegórico chamou a atenção pelas luzes de led, com destaque para o planeta Terra, a Lua e o Sol.
Kelly Mantovani, 20, é correspondente da Vila Nova Cachoeirinha
@mantovanikelly
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