Em Perus, coletivo discute imagem da mulher da periferia na mídia
Como as mulheres moradoras da periferia são retratadas pela mídia? O que vemos em novelas, propagandas e noticiários condiz com a realidade? Foi buscando chamar atenção para questões como essas que o coletivo “Nós, Mulheres da Periferia” desenvolveu o projeto “Desconstruindo Estereótipos #eumulherdaperiferianamídia” – contemplado pelo VAI (Programa de Valorização de Iniciativas Culturais da Prefeitura de São Paulo) em 2015.
A primeira edição do ciclo de oficinas teve início nos últimos sábados, dias 13 e 20, na Casa das Crioulas, em Perus, zona noroeste de São Paulo, e segue até setembro, em diferentes bairros da cidade.
“O projeto surgiu da tentativa de aproximação entre o coletivo e seu público. A ideia é que, a partir do diálogo e da troca de experiências, possamos problematizar como nos sentimos representadas pela mídia e qual lugar queremos ocupar nos meios de comunicação”, conta Lívia Lima, co-fundadora do “Nós, Mulheres da Periferia”.
Por meio da análise de vídeos e trechos de reportagens difundidas pela grande mídia, as participantes avaliaram de que maneira propagandas de TV, novelas ou programas de humor, disseminam preconceitos e discriminação de gênero e sobre a periferia.
Durante a oficina, em algumas cenas de novelas, como Salve Jorge e I love Paraisópolis, as mulheres analisaram como as moradoras de favelas sempre aparecem brigando umas com as outras, e como levam a fama de “barraqueiras”
“Foi chocante perceber quão cruéis e carregadas de preconceitos são determinas cenas de filmes ou novelas. Por outro lado, é reconfortante ver que não estou sozinha nesta luta por igualdade e representatividade”, compartilha a técnica de edificações Gabriela Santos, 22, moradora de Perus.
Segundo as integrantes do coletivo, um dos principais estereótipos a ser desconstruído ainda é o de que a mulher periférica é inferior às demais, seja quando ela é subestimada por sua inteligência, quando é vitimizada ou julgada por suas práticas sexuais.
“Hoje ocupamos diferentes espaços na sociedade, então é importante que os meios de comunicação retratem essa pluralidade. Não somos somente a funkeira, a doméstica, somos também advogadas negras que dançam funk, enfermeiras que gostam de rock ou MPB, ou empreendedoras que fazem pilates”, afirma Regiany Silva – co-fundadora do “Nós, Mulheres da Periferia”.
“Naturalizar as diferentes posições sociais que já ocupamos, por meio de nossas próprias conquistas, é fundamental para a quebra dos estereótipos”, complementa.
Para Manoela Gonçalves, fundadora da Casa das Crioulas, a união entre as mulheres é indispensável para a quebra desses preconceitos. “Isso tudo é muito mais complexo do que imaginava. Como é que a gente desconstrói algo que nos é ensinado desde que nascemos? Acho que antes de tudo precisamos ser mais solidárias umas com as outras”.
Próximos Destinos
Em julho, o bairro de Guaianases, na zona leste de São Paulo, receberá o projeto “Desconstruindo Estereótipos”. As oficinas serão realizadas na Casa Viviane dos Santos.
No final do ano, a ideia do coletivo é encerrar o trabalho com uma exposição multimídia que reunirá fotos, vídeos, depoimentos e trabalhos produzidos pelas mulheres das várias regiões de São Paulo durante as oficinas realizadas.
Thaís Santana, 25, é correspondente de Anhanguera
thaissantana.mural@gmail.com
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