Sem cobrador, motorista acumula trabalho enquanto dirige ônibus
Quem pega ônibus regularmente sabe que o ofício de cobrador vai além de validar o bilhete único ou trocar a passagem em dinheiro. Seu trabalho inclui otimizar o espaço quando o veículo está lotado, pedindo “um passinho, por gentileza”, e impedir a circulação do carro enquanto há algum idoso, grávida ou deficiente físico em pé, conforme determina uma lei municipal.
“O motorista lá na frente não consegue ver isso”, explica a diarista Maria Aparecida,53.
No entanto, os motoristas, atualmente, estão acumulando todas estas funções. Eles dirigem, recebem passagens em dinheiro e liberam a catraca. Precisam estar atentos ao retrovisor nas paradas durante o desembarque de passageiros.
No caso de cadeirantes, o motorista abandona o volante, deixa o veículo e manuseia o elevador para embarcar ou desembarca o passageiro com necessidades específicas. Somente depois, volta e dá partida para o ônibus seguir viagem.
O condutor Heronildo Paulo da Silva, 62, que está há 9 anos na linha 8016-10, que vai do Terminal Pirituba ao Jd. Rincão, afirma que está trabalhando há cerca de 5 meses sem cobrador. A informação é de que a cooperativa em que trabalha desligou 90% do efetivo por motivo de “contenção de despesas”. “Na realidade, foi reajustada a tarifa, mas não foi repassada à eles”, relata.
Quanto à rotina, ele desabafa: “No começo, a gente estranha a falta do companheiro [cobrador] ali, mas com o passar dos dias a gente vai se habituando. Não é bom, não vou mentir. Mas a gente se habitua”. E deixa claro que o trabalho dobrou, mas o salário não. “Não houve reajuste”.
Os passageiros sentem a falta dos cobradores. “Atrasa as viagens porque os motoristas têm que ficar dando troco e liberando a catraca. [Isto] tira sua atenção do motorista do trânsito”, opina a funcionária pública Ana Cristina Gomes, 37, moradora da zona norte.
Os cobradores, além de ajudarem com itinerários quando os passageiros não sabem se estão próximos de seus destinos, também têm a função de auxiliar no embarque e desembarque de deficientes. Eles armam o elevador, descem até a calçada e os ajudam a descer dos coletivos.
Muitas vezes, de forma improvisada, manuseiam uma porca de parafuso presa num elástico para avisar, com o sinal sonoro, que o motorista pode seguir viagem após a descida de um passageiro.
“É melhor quando tem cobrador. A situação fica pior nos horários de pico. Atrapalha muito porque nem todo mundo tem cartão. Às vezes, o motorista tem que parar em um lugar proibido ou continuar dirigindo enquanto atende passageiros”, conclui Maria Aparecida ,53 moradora de Guiaianases.
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Já fui cobradora e sei bem como é dificil o motorista ter que fazer tudo sozinho realmente é a verdade enquanto o motorista fica destraido fazendo outras funções nos passageiros corremos perigo