Crianças colorem muro de escola no Glicério com a ajuda dos pais
“Quando a gente brinca, todos são amigos de todos, ficamos juntos”. A fala de Tainá Nunes, 6, foi grafitada abaixo do seu desenho, que trazia meninas brincando de corda, no muro da Escola Municipal de Educação Infantil Alberto de Oliveira, no Glicério, região central da capital.
“A Tainá ficou muito feliz ao ver o seu desenho no muro”, afirma Francis Maria Nunes Pereira, 38, tia da aluna.
Desenhos e falas sobre o brincar foram pintados pelas crianças e pais no dia 3 de outubro durante o “Dia da família na Escola”, promovido pela própria EMEI em parceria com as famílias, a comunidade e o Projeto Criança Fala na Comunidade – Escuta Glicério. O movimento foi iniciado a partir de um curso de formação para os professores e se fortaleceu com a participação dos moradores.
A proposta era reeducar o olhar dos educadores e auxiliar na construção de um projeto pedagógico que considerasse a fala das crianças.
“É um dia muito importante para todos. Ajudei a pintar o muro para que as crianças pudessem colori-lo”, explica Selma Ribeiro da Silva, 29, mãe de duas alunas da EMEI.
“As crianças estão mais próximas umas das outras”, comenta Manuel Alves de Araújo Filho, 42, pai de Émile. “Participei da pintura dos brinquedos que ficam dentro da escola. As crianças escolheram as cores”, ressalta.
Os brinquedos foram pintados das cores lilás, roxo e rosa. “Os meninos viram que não havia azul e passaram a não usar os brinquedos. Pintamos uma faixa azul e aí as meninas não aceitaram”, conta Esmeralda Ribeiro, 43, diretora da escola. “Esse conflito gerou uma reflexão: as questões de gênero precisam ser tratadas desde a educação infantil”, ressalta Ribeiro.
A ação buscou também reaproximar a escola aos moradores do bairro. Segundo educadores, devido à mudança no quadro dos gestores e professores, há pelo menos três anos, a escola se fechou para a comunidade.
“Conseguimos conquistar alguns pais e mães que hoje são parceiros”, afirma Dilma Ângela da Silva, 44, coordenadora pedagógica da EMEI. “A escola se abriu, o que possibilitou conhecer onde as crianças moram. Nunca tinha entrado numa pensão e vi ali uma situação de moradia precária. Não imaginava encontrar isso no centro”, afirma a coordenadora.
A EMEI é cercada por um condomínio, porém a maioria das crianças que estudam nela são do Glicério. A escola tem 252 alunos e 100 em fila de espera.
Outros grupos do bairro também foram mobilizados para a realização da ação, como a UBS do Glicério, o CEI Quintal da Criança, o Coral Lins em Canto, o grupo de capoeira Abadá, o Batuq do Glicério e DJ Xand.
Dilma percebeu que as crianças mudaram. “Agora, elas brincam de corda. Os maiores acolhem os menores. Os conflitos diminuíram”, expõe.“Tivemos que reconstruir o muro. As crianças trouxeram a necessidade de um espaço maior. O terreno aqui em frente está ocioso e poderia ser usado por nós”, completa Silva.
Uma carta que pedia a ampliação e mais condições para a escola foi entregue a primeira-dama Ana Estela Haddad, coordenadora do São Paulo Carinhosa.
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Carina Barros, 30, é correspondente do Glicério
@carinabarros
carinabarros.mural@gmail.com
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