Aposentado cria murais de mosaicos em viela de Guarulhos

Quem passa pela viela Itacoatiara, no Jardim Cumbica, em Guarulhos, não fica indiferente às obras de mosaico em um de seus muros e na casa à sua esquina. O mural de arte a céu aberto criado por Francisco D’Ambrozio – o Seu Quinho, de 78 anos, tornou-se um ícone de destaque no bairro.
Coloridas e minuciosamente detalhadas, as obras feitas com pedaços de azulejos representam, desde bandeiras até símbolos de times de futebol, de signos da astrologia a figuras religiosas. Também trazem personagens inspirados em pessoas do bairro, além de mensagens de cidadania e conscientização ecológica.
Para retratar cenas cotidianas e históricas, Francisco encontra inspiração no que observa em seu dia a dia e nos livros. “Eu leio muito sobre história geral e do Brasil, principalmente sobre o nordeste”, comenta.
Nascido na Vila Maria, na capital paulista, Francisco se mudou para Guarulhos com a esposa em 1972 e vive na mesma casa desde então. Viu o bairro crescendo e se transformando com o passar dos anos. “Quando me mudei, nesta rua só tinham três casas. Depois do poste de luz desta esquina, só tinha vegetação”, lembra.
Formado como técnico em eletrônica e em mecânica, hoje é aposentado. Devido a uma enfermidade da esposa que causou sequelas, teve de passar mais tempo em casa para cuidar dela. E, em 2002, iniciou-se na arte como um passatempo.
“Eu já colava uns ‘caquinhos’ sobre o piso, mas era algo comum, não tinha muita ideia. Um dia, assistindo televisão, vi um rapaz da Bahia mostrando o trabalho dele. Era um mural em mosaico que formava a imagem de uma noiva, algo bem simples. Naquele instante pensei: vou começar a desenhar”, conta.
Autodidata, iniciou as ilustrações que serviriam de base para o mosaico e desenvolveu a técnica sozinho. Sua primeira obra foi um vaso. Em seguida, decorou as paredes de sua casa e só depois passou para os muros externos. “Eu pintava e outros pichavam, pintava de novo e voltavam a pichar. Então, como sei que eles respeitam os desenhos, os graffiti, decidi fazer os mosaicos lá”, relata rindo.
Francisco conta que a arte se tornou uma terapia e o auxilia a manter a mente ocupada. “Durante o processo eu ‘viajo’, me esqueço do que está ao redor.” A elaboração de cada mural, que dura cerca de um mês, exige paciência. “Faço o desenho no papel. Quando acho que está bom, vou desenhando com tinta acrílica pra depois colar pedrinha por pedrinha.”
A moradora Bárbara Samira Ferreira, 24, que já residiu na mesma rua de Francisco durante a infância, conta que os murais chamam a atenção de pessoas de todas as idades que passam por eles. “Quando eu era criança, tirava até fotos lá. Hoje a minha filha passa, olha e já identifica os desenhos.” Para ela, a pluralidade dos símbolos é o mais interessante. “Ele não teve preconceito, fez para todos os gostos.”
Apesar de afirmar que não tem pretensões com sua expressão artística, Francisco participou de quatro edições do Concurso Banco Real Talentos da Maturidade e ganhou, na categoria de artes plásticas, uma viagem para o Rio Grande do Sul.
Tamires Tavares é correspondente de Guarulhos
tamirestavares.mural@gmail.com
Parabéns pela criatividade, bom gosto e iniciativa, Sr, Quinho, e obrigado por tornar a cidade mais agradável! Uma verdadeira lição de arte que é feita às claras, sem vandalismo e proporciona cores à cidade. O oposto das autoproclamadas “artes” dos pixadores que só demonstram sua vaidade ao expor suas “assinaturas”, que não passam de toscas garatujas como reflexo da ignorância, revolta e ódio que carregam em si.