Moradores acusam prefeitura regional de maquiar patrimônio histórico em São Miguel
As pedras no entorno das Ruínas do Sítio Mirim, localizadas na Vila Jacuí, em São Miguel Paulista, foram alvo de uma polêmica ação de zeladoria da Prefeitura Regional na semana passada.
Moradores alegam que as pedras foram pintadas e a paisagem descaracterizada. Esse é mais um episódio envolvendo a praça, que abriga as ruínas e é objeto constante de embates entre moradores e poder público.
A prefeitura regional nega que foi feito pintura do espaço e alega que houve apenas higienização.
O local se constitui como um rico e importante patrimônio histórico do país pois era onde se encontrava Casa Bandeirista do Sitio Mirim, com vestígios do que foi o Brasil Colônia. O sítio é tombado a níveis municipal, estadual e federal. Mesmo assim, os moradores sempre denunciaram o abandono da praça, que também foi noticiado pelo Blog Mural em 2012.
Desde 2015, a comunidade começou a se mobilizar por conta própria para cuidar do local. Uma das ações nesse sentido foi a criação do Sarau Urutu, que reúne mensalmente diversas atrações culturais na praça, e que busca dar significado ao espaço e despertar a comunidade para a importância de mantê-lo limpo e bem cuidado.
Como resultado, os moradores também passaram a cobrar mais ação do poder público em relação ao local. Foi com espanto, porém, que receberam a ação da Prefeitura Regional de São Miguel Paulista, que teria pintado as pedras do entorno das ruínas de branco e cinza, descaracterizando um dos principais patrimônios históricos da região.
“As pedras são um objeto da praça, muito particular, que a deixam do jeito que ela é. Quando a gente passa pelo local e vê pedras pintadas de branco e de cinza, parece uma grande maquiagem sendo feita”, afirma o morador e organizador do Sarau Urutu, Edson Lima, 31.
Para muitos moradores, a praça não é mero local de passagem e uma ação como essa tem impactos significativos. É o caso de Mateus Moreira dos Santos, 16, que costuma sentar na praça para apreciar a “bela vista” proporcionada pelas ruínas do Sítio. Para ele, a ação da Prefeitura Regional foi um desperdício.
“É uma verba jogada fora. Não tem necessidade de pintar rocha, ela é muito mais bonita na sua cor natural. [A verba] poderia ser utilizada para colocar latas de lixo na praça”, opina Mateus.
Para além da questão estética, os moradores também questionam a legalidade da ação. De acordo com a portaria 420/2010 do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), para realizar intervenções nas áreas envoltórias de bens tombados, como o Sítio Mirim, é preciso autorização dos órgãos responsáveis.
O Mural não conseguiu contato com o Iphan para saber se houve essa autorização no caso do Sítio Mirim. O Conselho de Defesa do Patrimônio Histórico, Arqueológico, Artístico e Turístico (Condephaat), do governo estadual, informou que pinturas em áreas de bens tombados pelo órgão estadual também necessitam autorização, mas não informou se houve essa autorização no caso em questão.
A Secretaria Municipal de Cultura, à qual se vinculam o Departamento de Patrimônio Histórico e o Conselho Municipal de Preservação do Patrimônio Histórico (Conpresp), responsáveis pela preservação do patrimônio histórico e cultural da cidade de São Paulo, encaminhou as perguntas da reportagem para os setores responsáveis, mas não respondeu até o fechamento.
EFEITO NATURAL
Questionado, o prefeito Regional de São Miguel Paulista, Edson Marques, afirmou em nota que as pedras não foram pintadas, mas sim higienizadas, o que gerou uma “aparência de pintura” e que a Prefeitura Regional tem conhecimento sobre o tombamento e as restrições impostas ao local.
“O cal é composto de Germicidas que são substâncias químicas capazes de destruir todos os microrganismos, incluindo também suas formas de resistência (esporos), como aqueles produzidos por bactérias do gênero Clostridium sp e Bacillus sp. abundante no local, sobretudo sobre as pedras”, afirmou.
“Foi nesse contexto que surgiram algumas pedras e a mureta, com aparência de pintura, mas na verdade, higienizadas. Sim, temos conhecimento do tombamento e das restrições, impostas. Não houve descaracterização do local, pelo contrário”, ressaltou.
De acordo com ele, os serviços foram realizados porque a região se encontrava o Sítio mirim era ‘deplorável’. ”Não se fazia limpeza e higienização por ali há muito tempo. Devido ao abandono, a área era ocupada por viciados em drogas, moradores em situação de rua e, com o mato alto, pedras e muretas que serviam como camuflagem, pessoas ali faziam sexo.”
O prefeito regional afirma que foram encontrados capsulas de cocaína, preservativos, carcaças de animais mortos. “Como prevíamos, chegaram as chuvas que está se encarregando de naturalmente lavar as pedras higienizadas e retornar a suas belas cores que tanto nos encanta, sem risco à saúde das pessoas”, conclui.
Gustavo Soares é correspondente de São Miguel Paulista
Resposta ignorante do prefeito regional…
Fica claro um atentado da PMSP contra um patrimônio nacional, estadual e municipal.
Pintar rochas de branco (cal) e caules de árvores também, é fruto da ignorância de nossa cultura caipira….
Uma vergonha os orgãos decpatrimônio não reagirem prontamente!
Muito interessante esse assunto. Vou acompanhar.