Com escola fechada, 600 alunos são espalhados por unidades da zona leste
Desde o começo do ano, duas escolas funcionam em apenas um prédio no jardim Ângela, bairro da região de São Mateus, na zona leste de São Paulo. O motivo é o fechamento de onde ficava a escola municipal Visconde de Taunay, na Vila Cunha Bueno, para uma reforma que não foi iniciada, em um impasse que começou na gestão passada da prefeitura e permanece no atual governo.
Ao todo, 670 alunos foram espalhados por outras unidades, sem data de retorno. A maioria está na escola municipal Rubens Paiva, onde duas estruturas funcionam de maneira improvisada.
Há duas secretarias e duas direções, diferentes professores e funcionários que atuam em horários distintos. A rotina dos estudantes também é diferente, com pouco contato entre as turmas de cada colégio.
O diretor da Visconde Taunay Laud Borges, 53, afirma que as salas em que os novos alunos ficam estão em um corredor que não era usado no período da tarde e não há superlotação.
Porém, não sabe quando o trabalho voltará ao normal na antiga sede. “O que está em documentação é o seguinte: que uma parte seria demolida e uma parte reformada, mas até agora não tem nenhuma coisa oficial, seja uma data de demolição ou de reforma”, diz o diretor.
“O prazo era para começar em dezembro de 2016 e o término era de um ano e meio. Então, a gente já está indo para um ano e sequer colocaram uma placa de reforma ou de qualquer outra coisa desse gênero sobre a obra”, afirma a dona de casa e representante do conselho dos pais, Regiane Rodrigues de Godoy, 43.
A saída dos alunos da Visconde levou a um protesto no ano passado, por causa da mudanças na rotina dos estudantes da região, além da incerteza dos pais sobre onde os filhos estudarão em 2018.
Apesar de a distância entre as duas escolas não ser grande, cerca de 800 metros, a Rubens Paiva não foi a única unidade para onde os alunos foram transferidos.
Dentre algumas escolas que receberam os estudantes, está a Brasílio Machado Neto, no Parque Santa Madalena, zona leste, a cerca de 2 km. Ali a recepção foi menos calorosa.
“Tivemos alguns episódios de hostilidade de algumas pessoas que se diziam ali do bairro, pedras foram atiradas no pátio, até mesmo bombas”, afirma a técnica de enfermagem Keide Gustavo, 43, mãe de um aluno realocado no Brasilio. “Uma dessas bombas veio e caiu ao lado do meu filho. Ele teve um dano superficial no tímpano e ficou um dia sem ouvir”.
Alguns pais optaram por tirá-los de lá e conseguiram vagas no Rubens Paiva e outros na escola Aroldo de Azevedo, também na região.
Um outro problema é o deslocamento, pois algumas crianças voltam em um horário em que já anoiteceu. “As crianças foram esparramadas, estão indo estudar em Sapopemba e vão a pé”, diz a dona de casa Fernanda Maria Pinheiro, 43, que não conseguiu o benefício de transporte gratuito para o filho.
SEM OBRA E SEM PREVISÃO
No segundo semestre do ano passado, pais de alunos acamparam em frente à escola Visconde de Taunay para tentar impedir o fechamento e demolição do prédio.
De acordo com um memorando da Prefeitura, do dia 28 de março de 2016, com base em uma vistoria feita no dia 2 do mesmo mês, a interdição era necessária para reforma e segurança dos alunos era necessária.
Porém, houve uma outra posição no ano passado de um coordenador da defesa civil que apontou que não era necessária a interdição, mas reformas em geral e obras de drenagem e telhado.
Procurada, a assessoria da secretaria de Educação alega que não há prejuízos para as crianças da região, pois os alunos da escola Visconde de Taunay estão todos estudando. Porém, não informou sobre a previsão para iniciar a reforma nem se os alunos irão de fato voltar para a unidade.
Arlan Aguiar é correspondente do Jardim Ângela (zona leste)
arlanaguiar.mural@gmail.com