Criador da Batalha da Leste canta, monta podcast e rejeita rimas preconceituosas
Leticia Marques
Quando terminou o curso de sistemas da informação e análise de sistemas em 2011, Augusto Oliveira, 27, sentiu que precisava buscar um novo rumo para fazer o que gostava.
Morador de Cidade Tiradentes, na zona leste de São Paulo, ainda trabalha na área de tecnologia, mas deu início a projetos sobre a cultura negra e é o organizador da Batalha da Leste.
A disputa de rimas é realizada na passarela da estação Itaquera do Metrô todos os sábados às 15h. Em maio, a batalha completou sete anos.
A ideia surgiu em 2011. O Mc frequentava a batalha da Santa Cruz na Vila Mariana, na zona sul de São Paulo, e resolveu levar o modelo para a zona leste.
“Eu trocava muitas ideias com meus amigos e isso precisava ir para algum lugar. Outras pessoas precisavam ouvir o nosso ponto de vista sobre música, política, histórias em quadrinhos, filmes, literatura, seriados e empoderamento”, diz Augusto.
O objetivo do evento é de transmitir conhecimento, não só de freestyle (rima improvisada), mas a troca de ideias sobre a realidade de cada um por meio do rap.
Hoje, alguns amigos ajudam na organização das batalhas em sua ausência.
Para participar das batalhas tem que se inscrever em um papel que fica disponível antes de começar as disputas. Quem desenvolve a melhor rima passa de fase e, a cada duelo, o oponente é sorteado. Os jurados são o público, que acompanha de fora e votam por meio da intensidade de aplausos e gritos.
O modelo se espalhou nos últimos anos em várias regiões como Guaianases e jardim Ângela, na zonas leste e sul da capital, e cidades da Grande São Paulo como São Bernardo do Campo e Osasco.
“Durante a batalha nós prestamos muito atenção no que os mc’s estão falando, porque não toleramos rimas machistas, homofóbicas, racistas e qualquer tipo de preconceito religioso. Não aceitamos qualquer tipo de rima, tem que ter respeito e ideologia”, comenta Augusto.
O OUTRO LADO DA FORÇA
Depois de três anos a frente da Batalha da Leste, em 2014, Augusto criou um outro projeto. Ele juntou um grupo de amigos especializados na área da comunicação para criar o site “O Lado Negro da Força”, que contém notícias e podcasts.
No site, o rapper conduz um programa sobre a representatividade negra em filmes, quadrinhos e séries. “Eu nunca me via representado nos quadrinhos, filmes e séries. Então senti a necessidade de falar sobre isso e debater esse tema”, diz.
DISCO
Em 2017, o mc gravou seu primeiro CD “Oásis”, com a participação especial do seu padrinho musical Rincon Sapiência e os amigos Torres, Rico Dalasam e Drik Barbosa.
Augusto começou a se interessar pela música aos 9 anos. Ele escutava blues, rock, jazz, samba, rap, entre outros estilos que seu pai, Antonio Sergio, colocava para tocar em casa. A influência também veio da escola.
“A professora Cida, na quarta série, não foi só minha primeira professora negra, mas foi quem me incentivou a cantar. Por conta disso entrei no coral da escola, depois entrei numa banda marcial e de rock”, conta.
Augusto aposta no estilo retrô: black power, óculos escuros e uma camiseta verde com listras verticais estampadas.
O rapper afirma sentir orgulho de como os negros estão se montando na moda. “Nós que somos a moda”, afirma. “Um relógio só passa a estar na moda se a gente usar, então podemos nos vestir da maneira que queremos”.
Letícia Marques é correspondente da Brasilândia
leticiamarques.mural@gmail.com