Moradores reformam túnel em São Miguel Paulista e cobram iluminação

Danielle Lobato

Há 25 anos, o túnel da União, que liga a avenida Doutor Assis Ribeiro à rua Papiro do Egito, em São Miguel Paulista, na zona leste de São Paulo, é passagem frequente dos moradores. Com mau cheiro e falta de iluminação, as pessoas caminhavam rápido pelo reduto de 50 metros embaixo dos trilhos da linha 12-safira da CPTM.

Entretanto, há dois meses, o cenário mudou: as paredes brancas ganharam novas cores e o odor de fezes e urina deixou de existir. O espaço perto da estação Ermelino Matarazzo se tornou um painel com desenhos de animais aquáticos.

Falta apenas a iluminação. Os moradores pedem apoio da subprefeitura para realizar o trabalho. Eles mesmos já compraram 23 lâmpadas e 15 metros de fios para por no local.

A Vila União abriga 40 mil moradores e, diariamente, cerca de 3 mil utilizam a passagem subterrânea, mas reclamam da falta de segurança no local devido à escuridão.

Mais de 15 pessoas participaram da revitalização; no dia da inauguração, moradores foram convidados (Divulgação/Varre Vila)

Segundo quem mora no local, a Subprefeitura de São Miguel Paulista e a Ilume – empresa responsável pela luz pública, foram acionadas; dois agentes foram enviados para analisar o projeto, mas nada foi feito.

A REVITALIZAÇÃO

A revitalização do túnel começou quando o morador Ionilton Aragão, 49, mobilizou moradores e amigos para a reforma. Ele é idealizador do projeto Varre Vila, implantado na comunidade e que visa acabar com os problemas causados pelo excesso de lixo.

“O túnel da União fez jus ao nome, pois, também consegui chamar pessoas do bairro vizinho, Santa Inês, para essa ação”, conta Aragão.

Ionilton Aragão foi um dos idealizadores da revitalização em frente ao “Túnel da União” (Divulgação/Varre Vila)

No início, a maior dificuldade foi fazer com que cada integrante do mutirão acreditasse que era possível a transformação da área. “Quando disse o que iria fazer me chamaram de louco, disseram que não iria dar certo”, diz Aragão.

A reforma durou duas semanas e 15 pessoas participaram. Foi feita com recurso dos moradores e do projeto Varre Vila. Foram doadas mudas de plantas, tintas, lâmpadas, fios, cimentos e alguns colaboraram com a própria mão de obra.

Foi o caso dos varredores de rua José Bili, 50, Jilmar da Silva Dias, 49, e Antônio Rodrigues, 41, que para eliminar o mau cheiro, fizeram um novo piso no espaço. “Água sanitária ou sabão em pó não vencia ali, [o odor] estava impregnado mesmo com a gente limpando”, afirma Bili.

Ratone com diversas tintas ao lado. enquanto grafita um polvo marinho (Robson Bó/Divulgação)

As paredes do interior do túnel ganharam novos contornos e cores com desenhos de animais aquáticos. O mural foi batizado pelos artistas e moradores como “túnel aquático”.

A arte foi feita pelos artistas Robson Bó, 33, e Jefferson Salustiano, 36, o Spinha, integrantes do Arte Cultura na Kebrada, que coordenaram o projeto e chamaram outros grafiteiros para ajudar.

“De início foi difícil sem iluminação, tivemos que aproveitar a luz do dia”, explica o Bó. “Pensamos em fazer algumas ondas,  mas pelo formato do reduto não ficaria bom. A ideia dos animais aquáticos prevaleceu, e hoje, as pessoas até param pra tirar foto”.

Os moradores mais antigos como o síndico Adecildo Alves de Oliveira, 58, mais conhecido no bairro como o ‘Lampião’ também não ficaram de fora da ação. “Eu me considero o segurança do espaço. Moro em frente. Fico sempre de olho para que não estrague”, ressalta Adecildo.

Adecildo mais conhecido como “Lampião” no bairro em frente ao túnel (Danielle Lobato/Agência Mural/Folhapress)

Atualmente, os próprios moradores varrem ou aplicam uma mistura de essências de melancia e flores no túnel para tirar o cheiro ruim.

“Quando eu passava aqui era um cheiro de terrível, agora o aroma é agradável”, diz a dona de casa Creusa Ribeiro Ferreira, 52.

SEM PREVISÃO

Procurada pela reportagem, a subprefeitura de São Miguel Paulista informou que qualquer esclarecimento sobre a iluminação do túnel deve ser feita pela Ilume.

A empresa, por sua vez, alega que a parceria público-privada que cuida da iluminação tem atuado de forma parcial por determinação da Justiça. Com isso, apenas serviços de manutenção no parque de iluminação existente na cidade estão sendo realizados.

Danielle Lobato é correspondente do Itaim Paulista
daniellelobato@agenciamural.org.br

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