Itaquaquecetuba entrega kits escolares com atraso e há três anos não oferece uniforme

Jéssica Lima

As aulas da rede municipal de ensino de Itaquaquecetuba, na Grande São Paulo, começaram no dia 5 de fevereiro. Mas a prefeitura só começou a entregar os kits escolares em meados de abril – 70 dias após o início do ano letivo – e segue sem oferecer os uniformes aos alunos pelo terceiro ano consecutivo.

Ao todo, 40 mil crianças de 57 escolas que compõem a rede de educação infantil e do ensino fundamental 1 foram prejudicadas com o atraso. A entrega em alguns casos coube ao próprio prefeito, Mamoru Nakashima (PSDB), que gravou vídeos no Facebook para divulgar a ação.

Mamoru esteve em seis colégios entre os dias 15 e 17 de abril para fazer a entrega dos kits junto a alguns vereadores. O prefeito culpou “problemas que não dependiam muito da prefeitura” pelo atraso, que seriam de caráter técnico e logístico.

No ato, ele também fala aos alunos. “Esse material, cuida com carinho porque foi difícil da gente conseguir, mas está aqui. Nada de fazer orelha nesses cadernos. Orelha já basta a que a gente tem”, brincou o prefeito. “Vocês prometem que vão cuidar bem?”

PESOU NO BOLSO

A entrega dos materiais não é obrigatória, mas se tornou comum no município e é considerado um dos investimentos na educação.

“Muitas crianças não têm condições de comprar material”, diz a manicure Bianca Benvindo Silva, 30, mãe da estudante Brenda Gabrielly Benvindo de Souza, 6, da Emeb (Escola Municipal de Ensino Básico) Doutor Charles Henry Tyler Townsend, no Jardim Nápoli I.

Alguns dos pais ouvidos pela Agência Mural contaram ter pago ao menos R$ 70 com materiais básicos como caderno, lápis, borracha, lápis de cor, cola e tesoura.

 

Josilaine gastou R$ 140 com a compra dos materiais do filho Carlos e da enteada Mikaely (Jéssica Lima/Agência Mural/Folhapress)

Quem tem mais de um filho matriculado na rede sentiu ainda mais no bolso, como a dona de casa Josilaine Almeida Antônio, 29. O filho Carlos Eduardo Silva Feitosa e a enteada Mikaely Nascimento Souza, ambos de 10 anos, estudam na Emeb Joaquim Perpétuo, no Jardim Itaquá.

“São R$ 140 gastos com material que eu poderia ter empregado em outra coisa. A prefeitura deveria entregar no início das aulas”, disse a mãe. “Sobraram materiais do ano passado e eu guardei, então fui usando este ano”, contou Carlos, do 5º ano.

Outros pais também reaproveitaram as sobras, como a dona de casa Patrícia Aparecida Maranho, 27, que é mãe da estudante Ana Nicolly Maranho da Costa, 5. Desempregada, ela conta que se não tivesse feito isso, passaria por um aperto. “Se tivesse atrasado um mês, a gente improvisava, mas dois meses e meio não têm condições.”

“Todo ano atrasa, mas este ano foi demais”, reclamou a costureira Jéssica Dorico Chrisostomo, 30, que é mãe dos estudantes André Luís Pereira Santos Júnior, 7, e Murilo Pereira Santos, 4, da escola Professor Michel Alves de Souza, no Jardim Maragogipe. Ela gastou R$ 130 na compra de materiais para os dois.

Apesar da insatisfação com o atraso, os pais elogiaram a qualidade dos materiais.

Rosimeire com o filho Guilherme após entrega do kit na Emeb Joaquim Perpétuo (Jéssica Lima/Agência Mural/Folhapress)

UNIFORMES

“E os uniformes, senhor prefeito?” foi o segundo assunto mais comentado nas postagens de Mamoru sobre a entrega dos kits. Há três anos a Prefeitura de Itaquá não fornece os uniformes escolares aos alunos. A gestão afirma que houve cortes em repasses de recursos do governo federal e estadual, o que impediu a compra em 2017 e 2018.

“Seria tão bom se entregassem os uniformes também. As crianças iam sujar menos roupas”, disse a dona de casa Rosimeire Ferreira de Oliveira, 30, mãe do estudante Guilherme Ferreira de Oliveira, 5, da Emeb Joaquim Perpétuo.

“Este é o segundo ano da minha neta na escola e nunca ouvi falar de uniforme”, contou a dona de casa Eliane Almeida Antônio, 43, que cuida da neta Sophia Vitória Antônio Izídio, 5.

André e Murilo foram estudar no dia 24 de abril, na Emeb Prof. Michel, com camiseta de super-heróis. “A gente vai se virando com o que tem”, disse a mãe.

Patrícia com a filha Ana. Há três anos não há uniformes disponibilizados pela gestão (Jéssica Lima/Agência Mural/Folhapress)

PREFEITURA

Por meio de nota, a Prefeitura de Itaquaquecetuba disse que o atraso dos kits aconteceu devido ao processo licitatório e o processo de montagem dos materiais, que chegaram separadamente, “pois a compra é realizada por itens, sempre com o menor preço e a melhor qualidade”.

A nota diz ainda que neste ano também foi entregue material aos professores, uma novidade no município, e que as entregas foram concluídas no dia 24 de abril.

Sobre os uniformes, a gestão de Mamoru Nakashima disse que estão em processo licitatório e que poderá ser entregue ainda este ano, caso a “burocracia” não atrapalhe, e que a Secretaria de Educação está providenciando o início da medição do tamanho das roupas dos alunos.

Jéssica Lima é correspondente de Itaquaquecetuba
jessicalima@agenciamural.org.br

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