Em Itaquaquecetuba, vereadores dão metade das homenagens para políticos ‘forasteiros’

Lucas Landin

O deputado federal Marco Bertaiolli (PSD) constituiu a vida política em Mogi das Cruzes, na Grande São Paulo, onde foi prefeito por duas vezes. Mas recebeu ano passado um agrado da cidade vizinha de Itaquaquecetuba, onde a Câmara Municipal resolveu homenagear o parlamentar com o título de cidadão municipal.

Ele não foi o único. Bertaiolli foi um dos 13 agraciados com o título de “Cidadão Itaquaquecetubense”, concedido pelos vereadores da cidade do Alto Tietê. O ex-prefeito foi o quinto mais votado para a Câmara Federal no município com 5.604 votos.

Esse tipo de homenagem a políticos que disputariam a eleição foi comum no ano passado. Mais da metade das honrarias foram entregues a políticos de fora do município e nem sempre com uma clara ligação do que fizeram pela região.

Além do ex-prefeito mogiano, outros seis “forasteiros” foram contemplados: os deputados federais Alex Manente (PPS) e Samuel Moreira (PSDB); os estaduais Estevam Galvão (DEM), Luiz Gondim (SD) e Marcos Damásio (PR); e a engenheira Juliana Cardoso (PR). Todos concorreram a cargos eletivos em 2018.

Esse tipo de homenagem tem um custo. A Câmara de Itaquaquecetuba informou que para cada placa de bronze, entregue aos homenageados, foi gasto R$ 635.

Só em 2018 foram R$ 8,2 mil com a concessão dos 13 títulos. Numa legislatura de quatro anos, se o número de homenageados for mantido, esse valor pode chegar até R$ 33 mil.

Ex-prefeito de Registro, o deputado Samuel Moreira também recebeu título ano passsado (Divulgação/Câmara Municipal de Itaquaquecetuba}

LEGISLAÇÃO

De acordo com a Lei Orgânica do Município, a honraria pode ser entregue à qualquer cidadão, desde que ele tenha, comprovadamente, prestado serviços relevantes à cidade. A concessão é feita mediante decreto, aprovado por, no mínimo, dois terços dos vereadores.

Bertaiolli recebeu o título no mesmo dia que Damásio, também mogiano. A homenagem para os dois foi proposta pelo vereador Carlos Alberto Santiago (PSD). Ao receber o título, os deputados disseram que irão buscar ajudar a cidade no parlamento.

“Acho ridículo essas concessões. O título deveria ser entregue para quem fez algo pela cidade, para motivar as pessoas a fazerem algo pela cidade”, desabafa a ativista Ana Mattos, 26, moradora de Itaquá há três anos. “Minha esposa Renatta Kelly, por exemplo, é promotora legal e tem um histórico de militância na cidade. Já prometeram para ela um título de cidadã, mas nunca cumpriram”.

Para alguém receber esta honraria, cabe aos vereadores entrar com a proposta na Casa e conseguir convencer dois terços dos colegas.

Plenário da Câmara de Itaquaquecetuba em dia de sessão (Lucas Landin/Agência Mural/Folhapress)

Outro parlamentar a ser homenageado foi o tucano Samuel Moreira, indicado para receber a honraria pela vereadora Adriana Félix (PSDB), um mês antes do início da campanha eleitoral. Samuel constituiu a carreira política em Registro, no interior de São Paulo, foi duas vezes deputado estadual e está no segundo mandato federal.

Na propositura apresentada por Adriana, não consta a comprovação de que Moreira tenha prestado serviços relevantes para Itaquá. A Casa afirmou na época que o deputado atuou “no apoio ao andamento dos trabalhos e projetos na esfera federal, quanto à contenção de enchentes no município”.

Atualmente, o parlamentar é o relator da reforma da Previdência na Câmara dos Deputados.

O título entregue para Juliana Cardoso, candidata a deputada federal nas eleições passadas, também não teve justificativa apresentada. Moradora de Suzano, Juliana nunca ocupou um cargo público. É filha do empresário José Cardoso, sócio da Empreiteira Pajoan, responsável pelo aterro de lixo homônimo na periferia de Itaquá.

Além dos políticos de fora da cidade, cinco moradores de Itaquá também tiveram seus títulos aprovados: o ex-secretário municipal de transportes Dalton Dename, a diretora de escola Valdelice Tonhá, o empresário Sebastião Soares, a professora Verônica Cosmo, e o policial militar Anderson Lima.

Morador da capital, o filantropo Lin Shing completa a lista de homenageados do ano passado.

Passada a eleição, contudo, o ímpeto homenageador dos parlamentares parece ter sido freado.

Neste primeiro semestre de 2019, a Câmara de Itaquá indicou apenas duas personalidades para receber o título de cidadão: o empresário Christhian Cimino e o padre Wally Soares, ambos moradores do município.

O padre ainda aguarda a votação enquanto Cimino teve a homenagem derrubada na votação dos vereadores.

Lucas Landin é correspondente de Itaquaquecetuba
lucaslandin@agenciamural.org.br

VEJA TAMBÉM:

Itaquaquecetuba entrega kits escolares com atraso e há três anos não oferece uniforme

Aluno de Itaquaquecetuba transforma tarefa escolar em livro

Voto secreto ainda existe em Câmaras da Grande São Paulo