Em Osasco, cena do rock movimenta comerciantes, produtores e web rádio
Ariane Costa Gomes
Apaixonado por rock, o produtor de eventos Adriano Tavares Soares, 39, mais conhecido como Adriano Patotas, tinha o costume de tirar fotos pelo celular dos shows que comparecia. Tempos depois, passou a utilizar uma câmera para fazer a cobertura dos eventos.
“Quando a minha câmera quebrou pensei ‘tenho que fazer alguma coisa para [divulgar] o rock em Osasco e região’. Foi assim que comecei a pesquisar como montar uma web rádio”, relembra o morador do Piratininga, na zona norte da cidade. Em 2015, foi lançada a web rádio Patotas Rock.
Tavares é um dos exemplos de amantes do rock que têm buscado manter vivo o gênero na cidade da Grande São Paulo. Apesar da falta de espaços disponíveis, há ao menos cinco bares que tocam o estilo e produtores têm trabalhado para incentivar a produção local.
Desde 2013, Osasco tem a Semana Municipal do Rock, criado por lei, com a ideia de “fortalecer, apoiar e incentivar o movimento do estilo na cidade”. A secretaria de Cultura ainda vai divulgar os grupos escolhidos para se apresentar neste ano. Outras bandas têm se mantido apenas na cena independente e lutado para sobreviver.
Patota é uma gíria dos anos 1970 que significa galera ou turma. Sem estúdio, todo conteúdo é produzido de casa pela equipe de 11 “loucutores” que enviam o material para Soares colocar no ar.
Começou com dois programas. Um deles é o Rock Made in Brazil que continua no ar e toca o som de bandas nacionais. São 13 programas que mesclam informação e música.
O trabalho é voluntário e todos desenvolvem atividades paralelas à rádio. Porém, eles atraíram o apoio de microempreendedores da região. “É um valor fixo por mês onde conseguimos pelo menos a metade do necessário para manter a rádio. E a outra parte vem do nosso bolso”, diz Soares.
PRODUÇÃO
Também na zona norte da cidade está a Conspiração Records, conhecida como Lau Estúdio, no Rochdale.
Há 18 anos, o local oferece espaço para gravação, mixagem, ensaio e eventos. O proprietário Lau Andrade, 42, se define como um “operário do rock”.
Músico, já deu aulas de bateria, baixo e guitarra. Com funcionamento de terça a domingo, ele explica que o trabalho requer dedicação integral. Como os componentes de bandas se dividem com outros trabalhos, muitas vezes é nos feriados em que buscam o estúdio.
“Precisamos achar uma maneira de conseguir sustento. É difícil tocar um som autoral e ter um retorno financeiro com isso”, avalia. “Há muitos lugares onde as bandas vão tocar em que os equipamentos são ruins e o som não fica legal”, observa Lau.
A promoção de pocket shows, apresentação de curta duração, é uma das formas usadas pelo estúdio para aumentar a receita.
“A cena rock em Osasco em bares é muito ocupada por bandas cover. Quando comecei a trabalhar tinha essa ideia de trazer o cenário independente autoral para participar. Sentia que faltava isso”, lembra o produtor Lucas Laranjeira, 31, morador do Pestana, na zona sul do município.
Lucas foi guitarrista, é curador artístico de um site e criador da Produtora Orangeira Music. Criada em 2015, a produtora conta com um casting de sete artistas: Vespas Mandarinas, Riviera, Teorias do Amor Moderno, Bemvirá, Polako, Arte Kerosene e Rodrigo San. Em 2019, tornou-se também um selo para lançar artistas independentes.
Em 2018, a Orangeira Music realizou o festival Z/O Atomic Festival que trouxe shows das bandas Dead Fish, Forgotten Boys e Dry Life.
Para ele, ainda falta uma casa especializada de rock na região. “Quando não há um movimento tão grande do rock, os artistas também tendem a esfriar por falta de incentivo. Muitas pararam, foram cansando”, ressalta.
DE MUDANÇA
Alguns bares chegaram recentemente na cidade como o Lata Velha Rock Bar. Apesar de caminhar para o primeiro ano em Osasco, o estabelecimento surgiu sete anos atrás em Carapicuíba.
Criado por Henrique Oliveira, 42, o bar começou em um contêiner localizado dentro de um lava rápido da cidade vizinha. Foi daí que veio a inspiração para o nome.
“Foi um gosto pessoal. Tinha dificuldades para ouvir rock na região onde morava. Antigamente na Cohab, em Carapicuíba, predominava o samba, pagode, rap. Para me divertir, tinha que ir para Vila Madalena, São Paulo. Então a ideia foi fazer um espaço para curtir a música que gosto”, conta o proprietário.
O bar oferece shows de bandas cover, sinuca, fliperama e pebolim e funciona de quarta a domingo, das 18h às 2h. O Lata Velha Rock Bar fica na avenida Crisântemo, 116, no Jardim das Flores.
No caso do Gargamel Rock Bar (avenida João de Andrade, 1786 – Santo Antônio), o proprietário Alexandre Magno Cabral, 43, assumiu o negócio criado pela mãe, Vera, uma fã de rock e membro de um moto clube.
Foi criado há nove anos com a intenção de ser um espaço para que integrantes de diferentes moto clubes pudessem se reunir e receber algumas bandas. “O lance do moto clube foi ficando de lado e ficou só o bar. O pessoal foi se distanciando, minha mãe saiu. Começamos a receber as bandas independentes da região com som autoral”, conta o proprietário.
O local funciona de terça a sábado, das 19h às 4h, e conta com karaokê às quartas, apresentações acústicas às sextas e sábados. Cabral planeja voltar a trazer ao menos uma vez por mês shows de bandas independentes aos sábados.
Ariane Costa Gomes é correspondente de Osasco
arianecosta@agenciamural.org.br