A importância de mulheres produzirem e serem fontes de reportagens jornalísticas
Cíntia Gomes
Na semana em que celebramos a luta pela igualdade entre homens e mulheres, faço uma observação e até um convite aos (e às) colegas jornalistas.
As mulheres são ouvidas em suas reportagens? E quando não são, você se pergunta por quê?
Quando comecei como correspondente na Mural não tinha a certeza que tenho hoje de como falar de igualdade de gênero e do quanto ainda se faz tão necessário. Mas talvez só não era tão consciente.
Minha primeira reportagem publicada foi sobre a dificuldade de uma mulher levar a filha no carrinho de bebê em uma calçada de barro, no Jardim Ângela. Hoje reflito se um repórter mais longe desta realidade teria visto naquela situação uma pauta.
No período das eleições de 2020, nossa correspondente de Cotia, Halitane Rocha, escreveu para o site da Mural sobre mulheres que se articularam para acabar com os 30 anos sem vereadora na cidade. Ela enxergou ali uma notícia.
E como podemos contribuir para aumentar a visibilidade dessas muitas vozes da igualdade e da equidade por meio da prática jornalística?
Na minha opinião, há algumas maneiras: para além das pautas e reportagens, é preciso trazer essa realidade continuamente nas discussões, seja na Redação ou nos espaços em que serão realizadas as entrevistas, em participação de eventos e congressos, em processos seletivos. A busca da equidade tem de ser diária, cotidiana e em todas as esferas.
Mas também acredito que não precisamos “etiquetar” as produções. Mulheres não são as únicas a saberem contar histórias sobre outras mulheres. Mas ter maior diversidade em uma Redação faz com que toda a equipe tenha um olhar mais atento para a multiplicidade de histórias, de narrações e de fontes possíveis.
Durante a campanha eleitoral, ao abordar como candidatos estreantes das periferias tentam mudar perfil da Câmara Municipal de SP” produzida pelo repórter Lucas Veloso, ele observou que durante a produção estava entrevistando apenas mulheres e seguiu atrás de encontrar um candidato.
É um exemplo de que boa parte das reportagens pode trazer essa diversidade, independente do tema. Quando abordamos como a população de Perus se mobilizou em torno dos riscos de barragens da região, as correspondentes Ira Romão e Jéssica Moreira ouviram um engenheiro, uma diretora jurídica, integrantes do movimento, moradoras, coordenador de espaço cultural, uma diretora de escola e conselheira de uma UBS.
Para falar de um assunto que pode acometer tanto homens quanto mulheres, a diabetes, a correspondente de Pernambués em Salvador, Rosana Silva, contou os desafios de mulheres profissionais de diversas áreas no controle da doença.
São exemplos para mostrar que é possível sair do comum, trazer um novo olhar, outras vozes. As histórias são de todos e todas nós. Como a luta pela igualdade também.
Cíntia Gomes é jornalista, cofundadora e diretora institucional da Agência Mural de Jornalismo das Periferias.
cintia@agenciamural.org.br