Mural https://mural.blogfolha.uol.com.br Os bastidores do jornalismo nas periferias de SP Mon, 27 Dec 2021 13:12:41 +0000 pt-BR hourly 1 https://wordpress.org/?v=4.7.2 MC Mineiro era conhecido nas batalhas de rimas em Itaquaquecetuba e nos trens da CPTM https://mural.blogfolha.uol.com.br/2019/12/18/mc-mineiro-era-conhecido-nas-batalhas-de-rimas-em-itaquaquecetuba-e-nos-trens-da-cptm/ https://mural.blogfolha.uol.com.br/2019/12/18/mc-mineiro-era-conhecido-nas-batalhas-de-rimas-em-itaquaquecetuba-e-nos-trens-da-cptm/#respond Wed, 18 Dec 2019 10:59:14 +0000 https://mural.blogfolha.uol.com.br/files/2019/12/71175329_540740756672327_7042340594435280315_n-320x213.jpg https://mural.blogfolha.uol.com.br/?p=17124 Lucas Landin

Todos os dias, os trens da linha 12 da CPTM estão abarrotados de gente. São, em grande maioria, trabalhadores do comércio oriundos de Itaquaquecetuba, Poá ou do extremo leste da capital, acostumados a atravessar mais de 20 quilômetros para chegar ao trabalho. 

Essa era a plateia diária de Guilherme Rodrigues, o MC Mineiro, 23, que morreu no último domingo (15), ao cometer suicídio.

De vagão em vagão da CPTM, Mineiro ganhava a vida apresentando rimas e poesias desde 2017. O jovem, morador da Vila Monte Belo, em Itaquaquecetuba, na Grande São Paulo, transformou a arte em instrumento de trabalho.

Além dos trens, o MC também se apresentava com frequência nas batalhas de rap da Grande São Paulo. Inclusive, foi o vencedor da última que participou, a 53ª edição da Batalha Olhai por Nós, em Cidade Patriarca, zona leste da capital.

MC Mineiro participava de batalhas em Itaquá (Arquivo Pessoal)

Aos poucos, ganhou fama e respeito entre muitos jovens da região metropolitana. Apenas no Instagram, Mineiro tinha mais de 10 mil fãs. 

A morte precoce de Mineiro causou comoção em Itaquaquecetuba, onde vivem boa parte dos seus admiradores. “Só quero lembrar das vezes que o vi feliz, rimando pelos vagões”, desabafa uma fã. 

Amigo e colega de batalhas de rap de Mineiro, Gabriel Salvador, o Salvador da Rima, também expressou o luto pelas redes sociais. “Te amo meu mano, e sempre vou levar você comigo”, escreveu.

Também nas redes, fãs do MC se organizaram para criar um grito a ser entoado nas próximas batalhas: “Que da tristeza e do ódio a poesia nos livre. Mineiro, vive!”.

Mineiro sofria depressão, e encontrou nas rimas uma forma de externalizar parte do sofrimento que sentia. Muitos de seus textos abordavam temas relacionados à doença, como crises e questionamentos existenciais. “Somente depois que todos dormiram, eu consegui chorar e dizer que te amo”, dizia um de seus versos.

Em 2017, aos 21 anos, o MC começou a escrever o primeiro e único livro, Diário de um Suicida, no qual descreve o seu processo de depressão, e como ele influenciou na relação com a família e amigos.

O enterro do MC foi realizado na segunda-feira (16), na zona norte da capital.

SERVIÇO:

Se você precisa de ajuda ou conhece alguém que precise, entre em contato:

Serviços de saúde
CAPS e Unidades Básicas de Saúde (Saúde da família, Postos e Centros de Saúde).

Centro de Valorização da Vida – CVV
Ligue: 188 ou acesse o chat online: www.cvv.org.br

Serviços de Emergência
SAMU: 192

Lucas Landin é correspondente de Itaquaquecetuba

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Guarulhos faz aniversário, mas prédios históricos estão sem preservação https://mural.blogfolha.uol.com.br/2019/12/07/guarulhos-faz-aniversario-mas-predios-historicos-estao-sem-preservacao/ https://mural.blogfolha.uol.com.br/2019/12/07/guarulhos-faz-aniversario-mas-predios-historicos-estao-sem-preservacao/#respond Sat, 07 Dec 2019 16:52:53 +0000 https://mural.blogfolha.uol.com.br/files/2019/12/Casarão-José-Maurício_Gleissielisouza_2-320x213.jpg https://mural.blogfolha.uol.com.br/?p=17073 Gleissieli Souza

A segunda cidade mais populosa do estado de São Paulo comemora 459 anos neste domingo (8). Com mais de 1,3 milhão de habitantes, Guarulhos abriga um dos maiores aeroportos da América Latina e o mais importante do país.

Contudo, são poucas as marcas do passado preservadas e acessíveis à população. 

Embora o município tenha uma legislação específica para a preservação do patrimônio histórico (Lei 6.573/2009), prédios e monumentos abandonados marcam várias áreas da cidade. 

“O desafio é enorme, começa pela dificuldade de que a cidade sofre pressão econômica e imobiliária tão grande que a preservação do patrimônio fica difícil de conciliar”, comenta o historiador Tiago Cavalcante Guerra, 39, membro da AAPAH (Associação Amigos do Patrimônio e Arquivo Histórico de Guarulhos). 

A entidade foi criada por moradores da cidade com o objetivo de ajudar na preservação da memória, e a pensar políticas e ações de preservação.

Sitio Candinha. Atualmente, prédio está fechado (Arquivo Histórico Municipal)

O caso mais emblemático do que afirma Guerra é o casarão Sarraceni. Ele foi destombado em 2010 para dar espaço a vagas de estacionamento no Internacional Shopping, com a alegação de que não possuía vínculo histórico e arquitetônico relevante.

O espaço, demolido de madrugada, abrigou em seu porão a primeira indústria de sapatos e artefatos de couro da cidade, e serviu de refúgio para combatentes na Revolução Constitucionalista de 1932.

Além deste casarão, outros locais hoje também só existem em fotografias, como o antigo convento de freiras e os casarões gêmeos da família Carbonell. A demolição desses prédios marcou um período de crescimento acelerado do município.

“Um dos lemas da cidade é sempre a questão da evolução, do progresso. Nosso hino fala: ‘chaminés como lanças erguidas nos apontam o caminho a seguir’, mostrando o futuro, muitas vezes esquecendo o passado”, ressalta Guerra. 

Detalhe do Casarão José Maurício (Gleissieli Souza/Agência Mural/Folhapress)

Outro caso famoso é o do casarão José Maurício, localizado na Rua 7 de Setembro, na região central da cidade. Construído em 1937, era residência do ex-prefeito José Maurício de Oliveira, que governou por dois mandatos (1919-1930 e 1940-1945).

O imóvel já serviu para diversas finalidades, desde fórum até sede de secretarias municipais, até ser totalmente desocupado no início dos anos 2000. A casa foi tombada pelo patrimônio histórico e pertence a prefeitura desde 2013, mas já sofreu dois incêndios. 

Segundo a Secretaria de Cultura da Prefeitura, o processo de recuperação do espaço foi iniciado em outubro, quando foram realizados o isolamento da área, limpeza do local, desratização e análise de estrutura. A previsão da finalização da reforma é de sete meses. A ideia é que se torne o Centro de Formação de Educação. 

Também em situação de abandono está a Casa Candinha, erguida na primeira metade do século 19 com taipa de pilão e que foi parte da antiga Fazenda Bananal. 

Casa da Candinha sem manutenção (Bruno Leite de Carvalho/AAPAH)

O espaço está fechado. Segundo a prefeitura, “foi feita uma vistoria técnica para iniciar os serviços de prospecção arqueológica no local e no entorno”. A gestão diz que esta etapa é determinante para o desenvolvimento do projeto de restauro da edificação.

Questionara sobre os investimentos para preservação desses locais, a prefeitura diz que por conta da dívida herdada do governo passado não tem recursos para a restauração de patrimônios públicos. 

Afirma que o atual governo está se empenhando para atrair parcerias com empresas dispostas a investir na conservação e preservação do patrimônio histórico.

“A preservação do patrimônio não é uma prioridade, seja o governo que for. Hoje, a nossa história está sendo dilapidada e destruída por omissão do poder público; o que reflete o cenário nacional”, avalia Guerra. 

Igreja Matriz é um dos símbolos do passado de Guarulhos (Gleissieli Souza/Agência Mural/Folhapress)

SINAIS DA HISTÓRIA

Fundada em 1560 pelo padre jesuíta Manuel de Paiva, Guarulhos nasceu com o nome de Nossa Senhora da Conceição. Tornou-se província em 1880 e conquistou o status de cidade em 1906. 

A origem de Guarulhos está associada a mineração de ouro encontrado na região, que antes era habitada pelos índios Guarus, da tribo dos Guaianases. Na região funcionou um aldeamento, espaço criado pelos jesuítas com a tentativa de converter os indígenas.

Apesar dos espaços abandonados, ainda há locais que trazem marcas da história da cidade. 

Entre eles estão a Igreja Matriz Nossa Senhora da Conceição, inaugurada em 1685; a Praça Getúlio Vargas, de 1952; o Hospital Padre Bento (antigo sanatório para tratamento de leprosos), de 1931; a Igreja de Bom Sucesso, da segunda metade do século 19 e a antiga estação de trem da Tramway da Cantareira (trem que ligava São Paulo à Guarulhos). 

Gleissieli Souza é correspondente de Guarulhos

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Crise na Bolívia causa mobilização nas redes sociais em Itaquaquecetuba https://mural.blogfolha.uol.com.br/2019/11/18/crise-na-bolivia-causa-mobilizacao-nas-redes-sociais-em-itaquaquecetuba/ https://mural.blogfolha.uol.com.br/2019/11/18/crise-na-bolivia-causa-mobilizacao-nas-redes-sociais-em-itaquaquecetuba/#respond Mon, 18 Nov 2019 19:45:28 +0000 https://mural.blogfolha.uol.com.br/files/2019/11/WhatsApp-Image-2019-11-18-at-16.31.16-320x213.jpeg https://mural.blogfolha.uol.com.br/?p=16999 Lucas Landin

Desde domingo (10), grupos de rede sociais da comunidade boliviana em Itaquaquecetuba, na Grande São Paulo, estão em polvorosa. Multiplicam-se os vídeos, fotos e memes sobre a crise política que atingiu o país vizinho.

A maioria dos posts são com mensagens a favor do ex-presidente Evo Morales, do partido MAS (Movimento ao Socialismo), que renunciou no dia 10. Nos posts, denúncias de que a Bolívia passa por um golpe de Estado.

“Vamos ao consulado mostrar apoio ao presidente [Evo], irmãos”, chama um dos membros de um grupo no Facebook, com quase 1.700 membros. 

Nas últimas eleições presidenciais bolivianas, Itaquá foi uma das 11 cidades brasileiras a ter um colégio eleitoral. A cidade tem regiões como o bairro Parque Viviane II, com forte presença de imigrantes do país vizinho.

No município, Evo Morales venceu com folga segundo o TSE (Tribunal Superior Eleitoral) boliviano. Recebeu ali 608 votos (72,64% do total). O principal opositor, Carlos Mesa, recebeu 35 votos (4,18%), e amargou o terceiro lugar no município. Doutor Chi (PDC) ficou com 179 votos. 

Rua Santa Luzia concentra presença de imigrantes (Lucas Landin / Agência Mural / Folhapress)

O resultado foi semelhante ao visto na soma das cidades da Grande São Paulo em que houve votação.

Além de Itaquá, São Paulo, Guarulhos, Carapicuíba e Mauá tiveram zonas eleitorais para a escolha. Segundo as atas eleitorais, Evo recebeu 21 mil votos (70%) nas cinco cidades, seguido de Doutor Chi com 5 mil (16%) e de Carlos Mesa, 2,6 mil (8%). 

As últimas eleições, que ocorreram em outubro, foram o estopim da forte crise política que o país vive desde então. 

Com indícios de fraude apontados pela OEA (Organização dos Estados Americanos), a eleição passou a ser questionada pela oposição, que não aceitou o resultado que indicou vitória de Morales ainda em primeiro turno. Evo tentou o quarto mandato.

Sob fortes protestos e pressão do Exército, Evo renunciou assim como o vice-presidente, Álvaro Linera. 

Publicação no grupo do Jardim Viviane, no Facebook (Reprodução)

Com uma nação dividida entre apoiadores e opositores do ex-presidente, quem assumiu o governo foi a senadora opositora Jeanine Áñez, segunda presidente do Senado boliviano, e autoproclamada presidente interina do país. Todo o processo vem sendo denunciado por Morales como “golpe de Estado”.

“Acredito sim que foi um golpe”, afirma a estudante Nayeli Oblitas, 18, umas da eleitoras do ex-presidente no último pleito. Ela disse ter votado em Evo por conta das bandeiras contra a desigualdade. 

Nayeli veio para o Brasil ainda na infância. Conta que a família deixou o país vizinho por conta da pobreza. Ela não pensa em voltar, mas tem preocupação com familiares que seguem no país.  

A estudante diz que o sentimento é de preocupação, seja sobre o futuro do país de origem, seja com parte da família, que ainda vive por lá. “Em nossa comunidade, a maior preocupação é com nossos parentes, que estão lá lutando para defender o nosso país”.

Evo Morales assumiu a presidência da Bolívia em 2006, e foi o primeiro presidente de origem indígena. Teve um governo marcado pelo crescimento econômico e pela queda de desigualdade. Porém, recebia críticas por tentar seguir no poder após 13 anos seguidos.

Ele tentava o quarto mandato, o que é proibido pela Constituição. Mesmo assim, teve aval judicial para concorrer por ser cidadão boliviano, o que ampliou as tensões no país.

Lucas Landin é correspondente de Itaquaquecetuba

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Vargem Grande aposta em ônibus grátis para criar empregos, mas espera chega a 1 hora https://mural.blogfolha.uol.com.br/2019/10/24/vargem-grande-aposta-em-onibus-gratis-para-criar-empregos-mas-espera-chega-a-1-hora/ https://mural.blogfolha.uol.com.br/2019/10/24/vargem-grande-aposta-em-onibus-gratis-para-criar-empregos-mas-espera-chega-a-1-hora/#respond Thu, 24 Oct 2019 20:51:12 +0000 https://mural.blogfolha.uol.com.br/files/2019/10/ônibus-320x213.jpg https://mural.blogfolha.uol.com.br/?p=16917 Halitane Rocha

A cidade de Vargem Grande Paulista, na Grande São Paulo, anunciou que não haverá mais cobrança de passagem nos ônibus municipais. A tarifa zero começa a partir de 5 de novembro. O valor atual é de R$ 3,70.

Primeira cidade da região metropolitana a adotar esse modelo, o município de 52 mil habitantes ainda depende das linhas intermunicipais. 

Atualmente há apenas sete veículos que fazem o transporte municipal e o tempo de espera é tema de reclamação de moradores, que aguardam até uma hora nos pontos. A prefeitura promete ampliar a frota para 13 ônibus, e o número de linhas de quatro para sete. Também diz que o limite de espera será de 45 minutos. 

A administração também promete que o transporte público contará com mais horários e integração dos bairros, pelo Terminal Municipal, que deverá ser entregue no primeiro trimestre de 2020.

POPULAÇÃO

São 36 mil passageiros por mês, segundo a gestão. Destes, 12 mil são idosos e pessoas com deficiência, que já não pagam tarifa. 

Prefeito Josué Ramos anunciou o programa (Halitane Rocha/Agência Mural/Folhapress)

Cerca de um terço da população mora nos bairros do Tijuco, Agreste ou Marco Polo, a mais de 10 km do centro. É o caso da professora Maria Aparecida da Silva Souza, 47, moradora do Tijuco.

Maria utiliza o ônibus municipal nos fins de semana e quando precisa resolver algo no centro de segunda a sexta. “Durante a semana, a média de espera é de meia hora e no fim de semana, uma hora. Demora muito”. 

Maria paga R$ 5,50 e pega o ônibus intermunicipal para resolver pendências bancárias ou fazer compras em Cotia, cidade vizinha de 200 mil habitantes. “Se vou em Vargem Grande [Centro], não tenho hora para voltar”.

Empresas e usuários terão 60 dias para se cadastrar e fazer um cartão, que deverá ser apresentado no momento de embarque do passageiro. A gestão diz que moradores de outras cidades não pagarão passagem. Mas não ficou claro como funcionará para os visitantes.

FINANCIAMENTO

No lançamento do programa na quarta-feira (23), o prefeito Josué Ramos (PL) disse que a medida vai favorecer a economia local. “Sem precisar pagar o transporte de cada funcionário, os empresários poderão investir e gerar mais empregos”, afirma.

No entanto, as empresas vão arcar com uma taxa para o FMTU (Fundo Municipal de Transportes), criado recentemente. O FMTU também terá dinheiro do orçamento municipal, de multas de trânsito e da publicidade em pontos de ônibus.

O fato de moradores estarem indo para cidades vizinhas para consumir foi citado pelo prefeito. “Se o dinheiro é gasto lá, nós não ganhamos. O povo precisa circular em Vargem Grande para que os impostos vão para o caixa da nossa cidade”, diz.

Caio diz que condução demora até uma hora (Arquivo Pessoal)

O técnico em química Caio Augusto Simões, 23, mora no bairro do Agreste e diz que espera até mais de uma hora por um ônibus municipal, enquanto para Cotia passa um a cada 20 minutos. “Eu até tirei a CNH (Carteira Nacional de Habilitação) em Cotia só porque a noite não tem ônibus do centro para o Agreste; o último ônibus é às 19h00”.

Apesar da gratuidade da tarifa, Caio diz não acreditar que a população do bairro irá consumir mais no centro da cidade. “Por conta do péssimo transporte, o Agreste criou um mercado interno muito grande com lojas, padaria e açougue.”

CRISE

A tarifa zero em Vargem Grande Paulista foi desenhada após uma crise que a cidade viveu no ano passado. Em julho de 2018, a prefeitura decretou estado de emergência, após a Viação Adilson Lima suspender a operação. 

Houve conflito sobre o quanto era gasto pela empresa para manter o serviço e quanto deveria ser a tarifa.

Em janeiro, a Polo Planejamento elaborou um projeto no qual argumentou que com a criação de um fundo pago pelas empresas, a prefeitura economizaria R$ 80 mil em gastos com transporte público. 

Vargem Grande Paulista será a 14° cidade do Brasil a criar o Tarifa Zero. Segundo levantamento do site Fare Free Public Transport, que reúne a lista de todos os lugares do mundo em que não é cobrada a passagem de ônibus.

Halitane Rocha é correspondente de Cotia

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Moradores de São Bernardo tentam evitar fechamento de salas do EJA https://mural.blogfolha.uol.com.br/2019/09/16/moradores-de-sao-bernardo-tentam-evitar-fechamento-de-salas-do-eja/ https://mural.blogfolha.uol.com.br/2019/09/16/moradores-de-sao-bernardo-tentam-evitar-fechamento-de-salas-do-eja/#respond Mon, 16 Sep 2019 17:35:41 +0000 https://mural.blogfolha.uol.com.br/files/2019/09/gracineide2-e1568653550249-320x213.jpg https://mural.blogfolha.uol.com.br/?p=16736 Girrana Rodrigues

“Já sei fazer conta de tomar emprestado [somar e subtrair]”, conta Gracineide de Souza Barros, 58, a Graça do povo Pankará, como é conhecida. “Não sei ler um livro, mas palavras pequenas eu já sei”, ressalta.

A indígena moradora da Vila São Pedro, na periferia de São Bernardo do Campo, na Grande São Paulo, é uma das alunas da EJA (Educação de Jovens e Adultos), que viu a sala de aula quase ser fechada por não ter o mínimo de alunos exigidos pela prefeitura. 

No segundo semestre deste ano, 45 salas de aula foram encerradas e seis escolas deixaram de oferecer essa modalidade de ensino, de acordo com levantamento do Sindserv-SBC (Sindicato dos Servidores Públicos Municipais e Autárquicos de São Bernardo do Campo)

A prefeitura alega que a medida faz parte da “reorganização” do modelo e exige que as turmas tenham ao menos 20 alunos para sequência das aulas.

Moradores fizeram abaixo-assinado para manter curso (Girrana Rodrigues/Agência Mural/Folhapress)

A gestão municipal é a responsável pela EJA, uma modalidade de educação que atende jovens e adultos a partir dos 15 anos com aulas de alfabetização e de outras disciplinas das séries do ensino fundamental. 

Graça alega que foi preciso “lutar” para assegurar este direito. Natural de Pernambuco, ela não frequentou a escola quando era mais jovem por falta de oportunidade. Casou-se aos 17 anos e precisou cuidar dos filhos e dos irmãos.

Há cerca de quatro anos começou a cursar a EJA na escola municipal Erminia Paggi, localizada a menos de 1 km de onde mora. 

No começo de agosto, porém, a direção avisou que seriam transferidos. “Pedi para uma amiga que sabe escrever melhor do que eu para ajudar a fazer um abaixo-assinado e no outro dia fizemos um protesto em frente a secretaria de educação”, afirma. 

Há dois anos, a estudante indígena fez uma cirurgia no pulmão e tem dificuldade para percorrer grandes distâncias. “Se fosse transferida para uma escola mais longe eu teria que parar de estudar. Além disso, já acostumei com meus professores”, aponta. 

“Tenho seis irmãos, três formados pela EJA. Minha irmã que é professora no Piauí ficou muito feliz quando voltei a estudar”, relembra José Pereira (Girrana Rodrigues/Agência Mural/Folhapress).

Os alunos convidaram conhecidos para se matricular e evitar o fechamento. Como a sala atingiu o número de 20 alunos, a Prefeitura desistiu de encerrar a turma.

A estudante Anajara de Jesus Ferreira não teve a mesma sorte. Neste semestre foi obrigada a trocar de escola. 

A escola municipal Salvador Gori teve as quatro turmas encerradas e ela foi transferida para o CEU (Centro Educacional Unificado) Celso Augusto Daniel que fica 3 km mais longe. “Saímos às 22h30 e a nova escola fica em um local pouco iluminado, parado”, reclama.

Ela parou de estudar quando engravidou, aos 17 anos, e entrou no EJA aos 36. “Espero meu marido chegar do trabalho para cuidar das crianças, tenho duas meninas pequenas. Quando ele não chega, eu tenho que faltar”, disse. 

O maior medo da estudante é que os colegas desistam da EJA e a nova escola também tenha as salas encerradas.

Receio semelhante ao de José Pereira da Silva, 45. Filho de pais analfabetos, ele trabalha como vigilante durante o dia e é aluno à noite.

Retomou os estudos neste ano na escola Marineida Meneghelli de Lucca e precisou procurar novos colegas para evitar que a turma fosse fechada. “Chegamos aos 20 estudantes. Estamos por um”, brinca.

Ele tem receio que algum colega desista do ensino. “Meu filho está na sétima série. Eu estou na oitava. Tenho que aprender para ensinar para ele”, afirma.

José Rubem, do sindicato dos servidores. Entidade entrou na justiça por conta do fechamento de salas (Girrana Rodrigues/Agência Mural/Folhapress)

FALTA DE TRANSPARÊNCIA

Os dados sobre educação no município são antigos. O último Censo do IBGE (2010/2011), aponta que havia 18.419 pessoas não alfabetizadas e 152.958 moradores que não terminaram o ensino fundamental em São Bernardo. 

Uma professora do EJA que não quis se identificar afirma que a reorganização pode piorar a qualidade do ensino. “Não posso dar a mesma aula para um aluno que já sabe ler e outro que ainda tem dificuldades”, contesta.

O Sindserv-SBC ingressou com uma ação civil coletiva para exigir que as salas fossem reabertas. Além disso, foi solicitada a suspensão da exigência do número mínimo de alunos. 

Ex-aluno da EJA e presidente do Sindserv-SBC, José Rubem afirma que a prefeitura de São Bernardo se nega a fornecer informações de quantas escolas foram fechadas. 

O sindicato organizou um abaixo-assinado para a permanência das salas de aula que já conta com mais de 2.000 assinaturas. A oposição na Câmara Municipal também afirma que irá acionar o Ministério Público. “Meu mandato vai acionar o MP contra essa ação da prefeitura de desmonte da educação”, diz o vereador Joilson Santos (PT).

O Ministério Público de São Paulo deu o primeiro parecer favorável à ação do sindicato. O tema ainda aguarda decisão judicial.

Em nota, a prefeitura de São Bernardo afirma que “a abertura de turmas para a Educação de Jovens e Adultos (EJA) é feita de acordo com a procura” e que segue uma resolução da Prefeitura de São Bernardo aprovada em agosto de 2015, que determina o número de 20 alunos. 

“Caso as unidades escolares não atinjam este número, poderão reorganizar os alunos em agrupamentos multisseriados. Se este número for inferior a 20, os alunos podem ser remanejados para a escola mais próxima ou da escolha do estudante”, ressalta a gestão. 

Não foram fornecidos dados solicitados de quantidade de alunos matriculados em 2018 e 2019. A administração afirma que tem divulgado o programa com cartazes afixados nas escolas.

Girrana Rodrigues é correspondente de São Bernardo do Campo

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Prefeitura de Carapicuíba reduz pela metade vagas do conselho da saúde https://mural.blogfolha.uol.com.br/2019/09/11/prefeitura-de-carapicuiba-reduz-pela-metade-vagas-do-conselho-da-saude/ https://mural.blogfolha.uol.com.br/2019/09/11/prefeitura-de-carapicuiba-reduz-pela-metade-vagas-do-conselho-da-saude/#respond Wed, 11 Sep 2019 20:46:19 +0000 https://mural.blogfolha.uol.com.br/files/2019/09/Conselho-Municipal-de-Saúde-Carapicuiba-2-320x213.jpeg https://mural.blogfolha.uol.com.br/?p=16718 Ana Beatriz Felicio

Toda a última terça-feira do mês, um grupo de pessoas se reúne para discutir e monitorar as políticas públicas da área da saúde em Carapicuíba, na Grande São Paulo. No entanto, essa atuação deve ficar limitada após uma mudança na legislação feita a pedido da prefeitura.  

Foi aprovado nas últimas semanas pela Câmara dos Vereadores o projeto de lei 2518/2019 que altera a composição do CMS (Conselho Municipal de Saúde). A principal mudança é a quantidade de conselheiros: de 36 serão apenas 16.

A proposta não foi bem recebida pelo grupo, que afirma que a mudança irá tirar sua autonomia.

Desconhecido por boa parte dos moradores, o CMS (Conselho Municipal de Saúde) é a principal instância de acompanhamento da população sobre os serviços na saúde.

O grupo é composto por representantes do governo, prestadores de serviço, profissionais de saúde e usuários do SUS (Sistema Único de Saúde). 

Sandra Regina entrou no conselho para pedir melhorias em UBS do bairro que está dentro da igreja (Ana Beatriz Felicio/Agência Mural/Folhapress)

Para Dilma Oliveira Rios, conselheira da UBS da Cohab 5, um dos problemas nessa diminuição implica na inexistência de um conselheiro para cada uma das 12 UBS (Unidade Básica de Saúde) do município. 

“A lei atual prevê que tenhamos um conselheiro gestor por UBS. Como essa pessoa está próximo daquela realidade, consegue detectar quais problemas existentes ali, desde um abuso de autoridade, até falta de médicos e remédios”, afirma. Ela diz que o trabalho tem sido dificultado na atual gestão. 

Cabe ao conselho acompanhar as verbas que chegam pelo SUS (Sistema Único de Saúde) e fiscalizar o uso de outros convênios com governos federal e estadual. 

“O CMS tem a missão de fiscalizar, acompanhar e monitorar as políticas públicas da área de saúde, levando as demandas da população ao poder público, atendendo suas reais necessidade de saúde”, diz a especialista em gestão de saúde pública Márcia Mulin.

Ter um Conselho Municipal de Saúde é um dos pré-requisitos para que as cidades recebam os repasses de dinheiro do governo federal para o setor. Em esfera nacional,o Conselho Municipal de Saúde é regido pela Lei Federal 8.142. Mas ela pode variar em cada cidade. 

FALTA DE PARTICIPAÇÃO

A mudança já está aprovada, mas deve ser aplicada a partir da próxima eleição, prevista para o final do ano. A prefeitura, administrada pelo prefeito Marcos Neves (PV), afirma que a mudança na legislação foi feita devido a dificuldade na tomada de decisões.

“Este número de membros [36] dificulta a discussão e tomada de decisões sobre assuntos urgentes e importantes para o sistema de saúde da cidade”, diz em nota. “A nova lei prevê 16 conselheiros, visando trazer mais efetividade e dinâmica nas deliberações da área no município”.

Cleide explica que grupo tem tido dificuldades para se reunir (Ana Beatriz Felicio/Agência Mural/Folhapress)

As últimas eleições para escolha desses representantes foi realizada somente em 2015 e, neste tempo, como houve vagas que não foram preenchidas, a Promotoria Pública orientou que fossem colocados “conselheiros tampões”, pessoas indicadas enquanto não houvesse outra eleição.

A presidente do CMS, Cleide Nóbrega dos Santos, admite que há dificuldades na participação. Tem muita gente que chamamos para ser conselheiro e perguntam ‘qual o salário?’ e quando descobre que não tem, não vem. Porque é uma militância isso aqui, é difícil”. 

Os conselheiros também apontam falta de espaços para atuar. “Não temos uma sala adequada para o nosso trabalho. Não somos inimigos dos gestores do SUS dentro da nossa cidade,  mas sim, parceiros”, ressalta Dilma.

REIVINDICAÇÕES

O receio dos moradores é que, com a redução, a participação de quem é ativo nos conselhos seja reduzida. A maioria dos conselheiros teve problemas pessoais envolvendo a saúde na cidade ou convive de perto com a situação precária oferecida nos postos. 

Este é o caso de Maria do Carmo, 56. Representante da UBS da Cohab 2, ela precisou tratar do filho, já falecido, com problemas psiquiátricos no CAPS da cidade. “Meu filho não teve o tratamento ideal. Não acho certo que as famílias  que precisam de tratamento psiquiátrico adequado aqui nessa cidade sejam tratados desse jeito”.

Maria do Carmo teve problemas para conseguir atendimento para o filho (Ana Beatriz Felicio/Agência Mural/Folhapress)

Já Sandra Regina Araujo da Silva, 43, representante da UBS Vila Helena, conta que entrou para o conselho de saúde há três anos para reivindicar um local de atendimento melhor para população do bairro. 

“Há 10 anos, a UBS fica dentro de um salão de igreja, não tem estrutura”, diz. Por vezes, os moradores do bairro recorrem às cidades vizinhas como Osasco e Cotia.

Moacyr Dias, 65, integra o conselho há 20 anos, representando a UBS da Vila Menck. Para ele, outro problema é falta de humanização dos profissionais que atuam nas unidades básicas para com a população e com os próprios conselheiros. 

“Faltam pessoas para orientar, porque a população não sabe, muitas vezes, quais remédios toma ou o que fazer. É preciso fazer uma orientação humanizada”.

Ana Beatriz Felicio é correspondente de Carapicuíba

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Itaquaquecetuba completa 459 anos sem festas e com comemoração discreta https://mural.blogfolha.uol.com.br/2019/09/06/itaquaquecetuba-completa-459-anos-sem-festas-e-com-comemoracao-discreta/ https://mural.blogfolha.uol.com.br/2019/09/06/itaquaquecetuba-completa-459-anos-sem-festas-e-com-comemoracao-discreta/#respond Fri, 06 Sep 2019 21:44:05 +0000 https://mural.blogfolha.uol.com.br/files/2019/09/Desfile-2017-320x213.jpg https://mural.blogfolha.uol.com.br/?p=16712 Lucas Landin

Sem festa. É assim que Itaquaquecetuba, na Grande São Paulo, vai comemorar os seus 459 anos de fundação neste domingo (8). Segundo a Prefeitura, apenas uma exposição de carros antigos está prevista para a data.

Para o resto do mês, a Prefeitura chegou a divulgar um calendário especial de atividades, mas poucas delas possuem caráter comemorativo. Na lista, constam inaugurações de obras, como a do auditório da Secretaria Municipal de Educação, cursos de capacitação, e até a Marcha para Jesus realizada na cidade.

Quando assumiu como prefeito em 2013, Mamoru Nakashima (PSDB) resolveu cortar parte das festividades de aniversário do município. A justificativa era que a verba destinada para as comemorações poderia ser gasta em outras áreas, como a saúde.

“Essa atitude possui significado simbólico importante. A ausência de um calendário cultural, que conceba também a comemoração de sua fundação, me parece um sintoma de descaso”, afirma a historiadora Diana Costa, que se dedica a pesquisar a história do município. 

Para a historiadora, a falta de investimentos na área cultural acentua o distanciamento que os cidadãos têm com o município, já que boa parte dos moradores o utilizam apenas como cidade-dormitório, ou seja, possuem residência em Itaquá, mas trabalham, estudam e têm a vida social em outros municípios. 

“E a consequência mais grave deste distanciamento é a ignorância gerada pelo desconhecimento do indivíduo sobre sua própria realidade”, comenta.

A primeira festividade a ser encerrada pela prefeitura foi a Festa do Peão de Boiadeiro, ainda em 2013. O evento, que recebia grandes cantores como Michel Teló e Ivete Sangalo, fez parte do calendário da cidade por 14 anos e chegou a receber 900 mil visitantes em sua penúltima edição.

Em 2018, foi cortado também o tradicional Desfile Cívico, uma comemoração conjunta de aniversário da cidade e de Independência do Brasil. O evento contava com apresentações da Guarda Municipal, da Polícia Militar, e de setores da comunidade, como fanfarras de escola. Nesse ano, havia expectativa de que ele voltasse a compor o calendário de festividades, o que não ocorreu.

A consultora de investimentos Danila Perine, 37, participava do desfile todo ano com a família, e se diz desapontada. “Itaquá já não tem muitas coisas referente à educação, então o desfile era importante para um ensino de questões como ética, cidadania, símbolos patrióticos e culturais”, argumenta.

Vista da estação Itaquaquecetuba da CPTM (Lucas Landin/Agência Mural/Folhapress)

APAGAMENTO DA HISTÓRIA

A cidade, fundada pelo padre José de Anchieta no século XVI, fez parte da vizinha Mogi das Cruzes até 1953, quando conseguiu a sua emancipação. A partir de então, se industrializou e virou moradia de centenas de migrantes, sobretudo nordestinos, que vinham para o estado de São Paulo à procura de emprego na área industrial.

Dentre a programação de aniversário, apenas uma atividade será voltada para contar a história do município: uma exposição sobre os 459 anos será montada no Museu Municipal a partir do dia 18.

Diana argumenta que essa atitude ajuda no processo de apagamento da memória da cidade, que também acentua o distanciamento dos moradores, causando um prejuízo em termos de representatividade e de sentimento de pertencimento à comunidade.

“A partir desta realidade, é possível compreender como uma cidade tão plural e diversificada sustenta preconceitos contra suas minorias”, afirma.

A Prefeitura de Itaquaquecetuba foi procurada para comentar as mudanças nas comemorações, mas não se pronunciou.

Lucas Landin é correspondente de Itaquaquecetuba e Poá

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Imigrantes mantêm cultura boliviana em Itaquaquecetuba https://mural.blogfolha.uol.com.br/2019/08/26/imigrantes-mantem-cultura-boliviana-em-itaquaquecetuba/ https://mural.blogfolha.uol.com.br/2019/08/26/imigrantes-mantem-cultura-boliviana-em-itaquaquecetuba/#respond Mon, 26 Aug 2019 15:44:23 +0000 https://mural.blogfolha.uol.com.br/files/2019/08/2_imigracaoboliviana_itaquaquecetuba_blogmural_lucaslandin-320x213.jpg https://mural.blogfolha.uol.com.br/?p=16681 Lucas Landin

Quem anda pela rua Santa Luzia, no Parque Viviane II, em Itaquaquecetuba, Grande São Paulo, pode imaginar que está em território boliviano. Ali, o país vizinho está presente em todo lugar: nas bandeiras, no idioma falado e nos traços dos moradores.

Há cinco anos, a rua se tornou o lar de mais de setenta imigrantes da Bolívia, em sua maioria, oriundos da cidade de La Paz. O costureiro Walter Sinka, 42, se orgulha de ser um dos fundadores da comunidade.

“Eu morava lá no Brás [zona leste de São Paulo], mas o aluguel era muito caro. Então um conhecido disse: ‘tem um terreno vazio lá em Itaquaquecetuba e que cabe no seu orçamento’. Não pensei duas vezes”, lembra.

Walter chegou ao Brasil em 1997, quando ainda tinha 20 anos de idade. O rapaz estava fugindo da pobreza que atingia o seu país. “Era a época em que a Bolívia era um dos países mais pobres do mundo. Que futuro havia para um jovem ali?”. Hoje, garante que a situação por lá é outra. “Desde o governo Evo [Morales, que governa o país de 2006], a Bolívia passou a crescer. Hoje eu tento trazer  jovens de lá para trabalhar aqui comigo, mas não acho”, brinca.

Após a chegada do costureiro, outros bolivianos também se mudaram para o bairro. “Foi passando de boca em boca. E foi bem melhor, porque aqui cuidamos uns dos outros, evitando até mesmo a exploração e casos de racismo”, comenta. 

Unidos, os imigrantes construíram boa parte da infraestrutura do local. Em mutirão, fizeram o calçamento da rua, o encanamento de água e esgoto, uma quadra de futebol, e até construíram um portal de entrada, que acabou cedendo durante uma forte chuva.

“Não esperamos pela Prefeitura. Fizemos tudo aqui unidos e estamos orgulhosos de nossa rua”, conta a costureira Zaida Flores, 40.

Zaida Flores e Walter Sinka na festa de comemoração de cinco anos da rua Santa Luzia (Lucas Landin / Agência Mural / Folhapress)

COTIDIANO

Os imigrantes que moram na rua Santa Luzia trabalham no comércio e no setor têxtil, em oficinas de costura caseiras. Os produtos confeccionados ali continuam sendo vendidos na Feira da Madrugada, em São Paulo.

Vizinhos, os brasileiros da região veem com bons olhos a chegada dos “hermanos”. “Eles ajudaram a dinamizar o comércio do bairro. E posso dizer que, aqui na escola, os jovens bolivianos são aplicados e têm um rendimento alto”, afirma Ronimar Brito, 31, coordenador pedagógico da escola estadual Parque Viviane.

No dia 17 de agosto, a comunidade comemorou o aniversário de cinco anos da rua. Com comidas típicas, danças, inclusive ao som do moderno reggaeton, os bolivianos celebraram a união.

“Hoje, 99% dos moradores daqui são da Bolívia. Será que vamos chegar nos 100%?”, questiona Walter.

Lucas Landin é correspondente de Poá e Itaquaquecetuba

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Osasco deve ganhar Bilhete Único, mas sem integração com o trem https://mural.blogfolha.uol.com.br/2019/08/22/osasco-deve-ganhar-bilhete-unico-mas-sem-integracao-com-o-trem/ https://mural.blogfolha.uol.com.br/2019/08/22/osasco-deve-ganhar-bilhete-unico-mas-sem-integracao-com-o-trem/#respond Thu, 22 Aug 2019 12:00:59 +0000 https://mural.blogfolha.uol.com.br/files/2019/08/WhatsApp-Image-2019-08-21-at-09.14.18-320x213.jpeg true https://mural.blogfolha.uol.com.br/?p=16675 Ariane Costa Gomes 

A implantação do Bilhete Único em Osasco, na Grande São Paulo, é uma promessa antiga e pode finalmente sair do papel. Em agosto, o assunto voltou a ser discutido com a entrega de um projeto de lei para iniciar a integração ainda este ano. 

No entanto, embora tenha o mesmo nome, o sistema osasquense deve ter bem menos benefícios do que o utilizado na capital.

Caso aprovado, a partir do dia 1º de dezembro o usuário poderá fazer até duas integrações diárias durante a semana pagando apenas uma tarifa. No entanto, há um limite de até uma hora de diferença entre o primeiro e o segundo embarque. 

Aos fins de semana, o tempo da integração tarifária será de até duas horas. Em São Paulo, são três horas diariamente. 

Outra limitação é quem poderá usar o benefício. Segundo o texto, a integração tarifária será aplicada às modalidades de BEM (Bilhete Eletrônico Municipal) Comum e Escolar. Porém, o vale-transporte, pago pelos empregadores, não está incluído. 

Terminal no centro de Osasco; cidade não tem integração para quem precisa usar duas linhas para chegar ao destino (Ariane Costa Gomes/Agência Mural/Folhapress)

Em nota enviada à Agência Mural, a Prefeitura de Osasco afirma que as “viagens realizadas com o vale-transporte já estão sob a responsabilidade dos contratantes e não impactam na realidade financeira dos cidadãos”. Sobre o tempo de no máximo uma hora para a integração, a gestão afirma que estudos realizados pela secretaria de Transportes mostram que o intervalo de espera entre um ônibus e outro é, na maioria das viagens, de até meia hora.

Para ter acesso à integração tarifária não será preciso adquirir ou efetuar a troca por um novo cartão. Segundo a Prefeitura, os cartões BEM serão mantidos e será estimulado, por meio de campanha, que mais usuários realizem suas viagens com o bilhete. 

No projeto também não está previsto integração com os trens da CPTM (Companhia Paulista de Trens Metropolitanos).

A cidade possui cinco estações de trem pertencentes à linha 8-Diamante da CPTM são elas: General Miguel Costa, Quitaúna, Comandante Sampaio, Osasco e Presidente Altino – as duas últimas também fazem parte da linha 9-Esmeralda.

Hoje, o passageiro paga R$ 4,50 na tarifa municipal mais R$ 4,30 para o transporte sobre trilhos.

COMO É HOJE EM OSASCO

  • Bilhete Eletrônico não garante integração. Quem precisa utilizar duas linhas paga tarifa cheia de R$ 4,50 duas vezes.
  • Não há integração entre trem e ônibus.

COMO SERÁ SE O PROJETO FOR APROVADO SEM ALTERAÇÕES 

  • Prevê integração, caso respeite o limite de uma hora entre um ônibus e outro. No fim de semana, serão duas horas.
  • Benefício é válido para quem usa o bilhete comum ou de estudante. Não é válido para vale-transporte pago pelas empresas.
  • São duas integrações no máximo por dia
  • Segue sem integração com trens da CPTM.

Segundo a Prefeitura, foram feitos estudos preliminares para adoção da integração entre ônibus e trem no futuro, mas “é um processo que requer um alinhamento e um aprofundamento maior em conjunto com a CPTM e o governo do estado [de São Paulo]”.

De acordo com os estudos preliminares da prefeitura, 33,9% dos passageiros que utilizam o ônibus municipal também utilizam os trens da CPTM.

A estimativa da Prefeitura é que, em 2020, sejam iniciados trabalhos para evoluir a parceria com o governo do estado de São Paulo. A gestão ressalta ainda que serão feitos estudos sobre o impacto financeiro.  

De todo modo, o projeto de lei do Bilhete Único ainda será analisado pelos vereadores, que podem propor mudanças.

Duas empresas prestam serviço na cidade (Paulo Talarico/Agência Mural/Folhapress)

TRANSPORTE EM OSASCO

Em janeiro deste ano, a passagem de ônibus subiu de R$4,35 para R$4,50. O reajuste de 3,5% gerou insatisfação por parte dos moradores que, além das reclamações sobre a qualidade do serviço oferecido, ressaltaram a falta de integração. 

O principal impasse está para quem precisa cruzar a cidade e ir da zona sul à zona norte. A cidade é dividida pelo rio Tietê e cada lado do município é atendido por uma empresa diferente de ônibus. Poucas linhas trafegam pelos extremos das duas regiões.

Atualmente, os moradores que precisam utilizar duas conduções diárias pagam o preço integral da passagem nos embarques gastando assim R$ 9. 

A atendente de fast-food, Jaqueline Souza, 26, faz parte desse grupo. Moradora do bairro Vila Osasco, na zona sul, ela costuma pegar dois ônibus na ida e dois na volta do trabalho localizado no Umuarama.

Jaqueline estima gastar meia hora no trajeto de casa até o trabalho. “Onde moro é contramão. Então [quando saio do trabalho] preciso pegar um ônibus até o Largo de Osasco e de lá outro ônibus para chegar em casa”, diz.

“Acho algo benéfico e que essa primeira etapa da implantação do Bilhete Único vai ser um teste para futuramente integrar com o trem e metrô”, observa. 

Ônibus em Osasco no Jardim Veloso (Paulo Talarico/Agência Mural/Folhapress)

Moradora do bairro Padroeira, Silvia Leandro, 43, está desempregada. Ela trabalhou durante um ano numa escola estadual localizada no Rochdale, zona norte da cidade. 

Para se deslocar até o trabalho optou por utilizar o carro. “Perto da minha casa tinha um ônibus que ía [até o Rochdale], mas se pegasse só uma condução teria que andar muito porque é contramão”, conta.

Silvia avalia que economizou ao escolher ir trabalhar de carro ao invés de gastar com quatro passagens diárias de ônibus. Por dia o valor gasto seria de R$ 18, de segunda a sexta o valor chegaria a R$ 90.

 “Nosso município é grande. Para se deslocar até outro bairro, às vezes, é preciso pegar duas conduções. É praticamente impossível alguém que esteja na zona sul da cidade pegar apenas uma condução para ir até a zona norte”, observa. 

IDEIA ANTIGA

O prefeito Rogério Lins (Podemos) entregou o projeto do Bilhete Único de Osasco ao presidente da Câmara, Ribamar Silva (sem partido), e solicitou que o trâmite de análise e aprovação seja realizado em regime de urgência. 

Criado em 2004 em São Paulo, o Bilhete Único foi prometido pelas últimas gestões da cidade, mas não saiu do papel. 

As despesas da lei serão bancadas por “dotações orçamentárias próprias”. No projeto de lei consta o orçamento total de gastos que, até 2021, será de R$ 21 milhões – R$ 9,9 mi por ano. 

Ariane Costa Gomes é correspondente de Osasco

CORRIGIMOS

A versão anterior do texto dizia que estudos realizados pela secretaria de Transportes mostram que a maioria das viagens dura meia hora, mas a informação correta é que o intervalo de espera entre um ônibus e outro é, na maioria das viagens, de até meia hora. A informação foi corrigida, às 14h04, do dia 26 de agosto de 2019.

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Vereadores de Poá rejeitam criação do plano de metas https://mural.blogfolha.uol.com.br/2019/08/21/vereadores-de-poa-rejeitam-criacao-de-plano-de-metas/ https://mural.blogfolha.uol.com.br/2019/08/21/vereadores-de-poa-rejeitam-criacao-de-plano-de-metas/#respond Wed, 21 Aug 2019 13:54:44 +0000 https://mural.blogfolha.uol.com.br/files/2019/08/camara-poá-320x213.jpg https://mural.blogfolha.uol.com.br/?p=16665 Lucas Landin

A Câmara Municipal de Poá, na Grande São Paulo, rejeitou a implementação do Programa de Metas Municipal, proposta que prevê que os moradores possam acompanhar o andamento das promessas feitas pelo prefeito durante a campanha.

A votação foi no começo de agosto e surpreendeu moradores. Três meses antes, todos os parlamentares haviam aprovado a criação do sistema, mas cinco deles mudaram de ideia na segunda votação.

O mecanismo é utilizado em São Paulo e em mais de 50 cidades brasileiras segundo a Rede Nossa São Paulo. Ele obriga que os prefeitos, ainda no primeiro ano do mandato, estipulem metas para todas as ações planejadas para o governo. 

A ideia de emplacar um plano de metas poaense surgiu do bacharel em políticas públicas Matheus Nunes, 24, fundador do site Monitora Poá, que tem como objetivo justamente acompanhar o andamento das promessas eleitorais na cidade.

“A criação do programa de metas era a esperança de institucionalizar o monitoramento das promessas dos prefeitos eleitos”, comenta Matheus, que escreveu o projeto e o levou para apreciação na Câmara.

Além do Monitora Poá, o projeto acabou sendo abraçado por outros movimentos políticos da cidade, como o Reaja Poá e o Movimento Poaenses, o que ajudou a ideia a ganhar força.

Mateus criou portal para acompanhar projetos da cidade (Divulgação)

Na Câmara, a proposta foi acolhida pelo vereador Diogo Reis, o Diogo Pernoca (PSL), que o colocou em pauta. Para ser aprovado, necessitava do apoio de 12 dos 17 vereadores (dois terços do total), pois se tratava de emenda à Lei da Orgânica do Município. Esse tipo de proposta não depende de aval do prefeito.

Em maio, o texto chegou a ser aprovado por unanimidade na primeira votação. Mas na segunda vez que chegou ao plenário da Câmara, sofreu um revés: dos 17 vereadores, apenas 8 votaram a favor.

Poá tem 115 mil habitantes e é governada pelo prefeito Gian Lopes (PL). A mudança de votos na base do gestor foi decisiva para que o projeto fosse enterrado.

Além do irmão de Gian, Welson Lopes (PL), também mudaram o voto os vereadores Zé Carlos da Maçã do Amor (PDT), Lázaro Borges (PROS), Fábio Suru (PPS) e Garcez do Proerd (SD). Também foram contra Deneval Dias (PROS) e Marcilio Duarth (PL), que haviam se ausentado em maio. 

Nenhum dos vereadores se pronunciou na tribuna sobre a mudança. Procurados pela Agência Mural, apenas o vice-presidente da Casa, Zé Carlos, respondeu e apontou a situação econômica da cidade como motivo para mudar de posição.  

“Sou completamente favorável ao projeto. Porém, fomos surpreendidos com o encerramento das atividades do banco Itaú na cidade, o que ocasionará perda da arrecadação. Mediante este quadro, resolvi agir com prudência e cautela”, afirmou.

O banco é uma das principais fontes de recursos de impostos no município. “Após a estabilização, vamos rever este projeto”, diz Zé.

Para os idealizadores do projeto, o fato de Gian Lopes ser pré-candidato a reeleição em 2020 também pode ter influenciado na rejeição ao Programa de Metas na Câmara.

“É muito nebuloso para mim o motivo da recusa, afinal, ela foi aprovada por unanimidade na primeira votação. A principal suspeita é que, por não precisar da sanção do Executivo, o prefeito tenha usado sua base para rejeitar o projeto”.

Em nota, a Prefeitura de Poá informou que não interfere em assuntos do Legislativo, e que “todo projeto que venha a contribuir para o crescimento e desenvolvimento de Poá terá o apoio da administração municipal”.

Lucas Landin é correspondente de Itaquaquecetuba

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