Batalha de rap reúne jovens que querem crescer com música em Osasco
“Eu quero ver, quero ver”. O chamado vem do MC Magresco e inicia a disputa entre dois jovens no centro de Osasco, na Grande São Paulo. Cerca de 100 pessoas acompanham o confronto em que a palavra é instrumento.
Cada um terá 30 segundos para o argumento e tentar vencer o adversário, na melhor de três, num exercício de raciocínio com frases, rimas e provocações. Quem escolhe o vencedor é o público da Batalha da Led.
Apesar do clima acirrado e das palavras duras, a questão se encerra com o aperto de mão. “É atrito, mas acabou ali, depois é todo mundo se abraçando”, conta Rafael Marinho, 24, o Bob, um dos idealizadores da disputa.
Este tem sido o cenário das noites de sexta-feira no centro da cidade, perto da estação de trem da CPTM, onde garotos que gostam e trabalham com música formaram o grupo. Tudo começou em fevereiro de 2013, quando decidiram cantar em Osasco, ao invés de se deslocar para outras cidades, onde já havia o movimento.
O nome Led veio pelo apelido da praça na rua Marechal Bittencourt, que recebeu o evento inicialmente e também fica no centro.
Bob comenta que foi bom mudar de local. “Começaram a vincular nós com a droga [na praça]. Fizemos reunião com secretário de prefeitura e com a PM [Polícia Militar] para explicar que não era isso”, diz. Ele afirma aprovar o novo espaço. “Aqui ficou legal, bem família”.
Bob era operador de geração de energia antes de se dedicar exclusivamente ao rap. “Eu trabalhava, mas minha cabeça estava na música”. Hoje seu foco é atuar em produção e mixagem.
Cinco membros ajudam na batalha, como o MC Magresco e o DJ Jota. O evento conta com shows de grupos que surgiram ali, dança e membros de outras regiões. Na sexta, havia pessoas de São Paulo, Itapevi, São Bernardo e até uma apresentação de haitianos.
“Vem a galera de fora e consome em Osasco. Vira um clico de crescimento para a cidade. Por isso a prefeitura deveria investir”, destaca Bob.
Viver de música é o objetivo de vários dos garotos que acompanham a batalha. Alguns ainda trabalham em outras áreas, outros já se dedicam exclusivamente ao início da carreira.
A união formou grupos como o Raplay, que fez a apresentação antes dos confrontos. Um dos integrantes é Renato Cristiano Felipe, 21, o Refel, vencedor da batalha na última sexta.
“O rap não é só falar de sofrimento, falar mal de polícia, mal de bandido. É um estilo de vida”, aponta. “A batalha tem muito conteúdo. Você aprende argumento para tudo”, ressalta.
Contudo, Refel ainda vê preconceito contra o estilo. “Preconceito existe desde dentro de casa. Por usar uma roupa larga, falam que me visto igual bandido, mas não sabem que se eu sou uma pessoa melhor hoje, é por causa do rap”.
Outro participante foi Mit, ou Vinicius Mitchel Silva Lima, 17, que já cantou funk, mas diz ter se apaixonado pelo estilo. “O funk tem um poder enorme nas mãos e não passa informação que tem que passar. O rap tem a visão que você precisa estudar e batalhar porque o mundo é desigual. Você que mora na periferia não tem o mesmo conceito de quem mora no Morumbi”, avalia.
“A maior cultura está onde menos se espera. Nos manos que falam que é noia, maloqueiro, que não tem futuro, mas não param para trocar uma ideia e ver que a gente tem consciência”, avalia Miqueias dos Santos Cabral, 20, o Maikão.
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Paulo Talarico, 25, é correspondente de Osasco
@PauloTalarico
paulotalarico.mural@gmail.com
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