Aos 78 anos, escola de samba do Glicério busca se reinventar

Agência Mural

“Teve um começo, mas não terá fim”, com este lema repetido várias vezes pela Madrinha Eunice, uma das fundadoras da Escola de Samba Lavapés, a agremiação resiste ao moderno carnaval de hoje por sua história.

Rosemeire Marcondes, 47, atual presidente da escola, neta e afilhada de Madrinha Eunice, entende que o carnaval paulista está se profissionalizando cada vez mais e em vários aspectos. “Depois que o visual virou quesito, tem que ser o melhor do melhor”, afirma.

Lavapés é uma tradicional escola da Baixada do Glicério, na região central de São Paulo. Rose, como é conhecida, conta que foi numa conversa entre Madrinha Eunice (Deolinda Madre), sua avó, Chico Pinga (Francisco Papa), seu avô, e Zé da Caixa (José Madre), irmão da sua avó, que a Lavapés nasceu. A escola completou 78 anos no último dia 9.

Este ano, a escola trouxe o seguinte enredo: “Eu vendo, você compra… Na feira tudo se encontra!”, uma homenagem às feiras da cidade de São Paulo, principalmente àquelas da Liberdade e da baixada do Glicério.

Rosemeire Marcondes, presidente da Lavapés, e Luiz Felipe, intérprete da Lavapés (Foto: Salvem Lavapés)
Rosemeire Marcondes, presidente da Lavapés, e Luiz Felipe, intérprete da Lavapés (Foto: Salvem Lavapés)

A história da agremiação que está no grupo quatro da  União das Escolas de Samba Paulistanas (UESP) começou com uma forma de batucar originada por escravos e ex-escravos em festas para a Nossa Senhora do Rosário e para São Benedito. No período, a escola conquistou vários títulos no grupo especial.

Por ela passaram grandes nomes como José Jambo Filho, o Seu Chiclé da Vai-Vai; Jonas da Galvão, presidente da Unidos da Galvão Bueno, já extinta; Silval Rosa, fundador e presidente da escola Império do Cambuci, entre outros.

Foi responsável, também, por novidades no carnaval da cidade como desfilar ao ritmo de samba, a ala das baianas, a presença do mestre-sala e porta-bandeira e as primeiras composições de samba exclusivas para o desfile de carnaval.

Com a oficialização do carnaval, em 1968, a produção dos desfiles atingiu custos maiores e algumas escolas entraram em crise. A Lavapés se manteve até 1975 entre o primeiro e o segundo grupos. Anos depois, já na vaga aberta — o último grupo do carnaval paulistano da época –, e com o falecimento da Madrinha Eunice, a agremiação quase acabou.

Rosemeire Marcondes teve o papel de reconstruir a escola. Neta e afilhada da Madrinha Eunice, ela é mãe de sete filhos, presidente da escola, diretora da UESP e quituteira nas horas vagas.

Para resgatar a autoestima do pavilhão, desenvolveu projetos socioculturais para a integração da comunidade, como ensinar crianças a tocar instrumentos musicais e outras ações. “A gente continua cultuando as nossas raízes afrodescendentes”, comenta. Por não ter uma sede, parte dessa missão não pode ser colocada em prática. “Não temos um espaço, por isso os projetos estão parados”, aponta.

É numa casa de fachada amarela localizada à Rua Mazzini, paralela às ruas Muniz de Souza e Lavapés que a escola acontece. Lá, no fundo da casa, fantasias e instrumentos esperam seus donos. “A quadra é a minha casa. Para onde eu mudo todo mundo vai”, explica.

A escola ensaia na Rua Junqueira Freire, marco zero do samba em São Paulo, e desfila no grupo quatro da UESP, no carnaval da Vila Esperança, localizada na zona leste de São Paulo.

No último sábado (14), os integrantes se concentraram na casa da Rose por volta das 18 e de ônibus seguiram para o desfile na Vila Esperança. “Lavapés é uma grande família, com várias outras reunidas. É a minha família”, declara Marcondes. “Eu não consigo e nem quero sair daqui. O samba está na essência da minha vida. Nasci e cresci dentro da Lavapés”.

Carina Barros, 30, é correspondente do Glicério
@carinabarros
carinabarros.mural@gmail.com

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