Festival promove mutirão cultural por valorização de espaço na zona leste
“Uma andorinha só não faz verão, mas pode acordar o bando todo”. O texto do poeta Robson Padial, o Binho, foi registrado ao lado de outros cinco poemas em placas de ferro fincadas no Centro da Comunidade (CDC) Vento Leste, na Cidade Patriarca, zona leste da capital.
A inauguração das placas ocorreu na última semana de setembro durante o 3º Festival de Teatro Mutirão, promovido pelo coletivo de teatro Dolores Boca Aberta em parceria com o La Pacata, ambos ocupantes do CDC. Outros seis grupos da cidade, como o Sarau do Binho do Campo Limpo, na zona sul, participaram da programação do evento.
Assim como as andorinhas, o Dolores Boca Aberta tem objetivo de despertar os usuários do espaço público e os moradores do bairro para a sua preservação. O grupo completou 15 anos e está há 14 no CDC.
“O espaço tem um histórico de abandono e violência. Temos muito trabalho, jogam lixo, entulho no terreno, além do assédio especulativo que quer nos tirar daqui”, afirma Érica Viana, 36, integrante do Dolores.
“Há uma cultura de não se valorizar o que é público. Além disso, o espaço é gerido por pessoas da comunidade, não há um representante governamental e isso demanda um trabalho pedagógico com os moradores”, ressalta.
“Já vi jogarem até sofá aqui dentro. Não temos iluminação. Todos os avanços que tivemos aqui foram iniciativas nossas, por mutirões”, relata Cristina Adelina de Assunção, 35, também integrante do grupo.
Segundo as atrizes, o conceito de mutirão faz parte da filosofia do coletivo Dolores.
Nas edições anteriores, foram erguidas obras de artes plásticas e uma delas está instalada em uma praça ao lado da estação de metrô Artur Alvim, no primeiro evento, em 2012. As outras peças ficam no próprio CDC Vento Leste, inauguradas no festival de 2013.
Este ano, com o tema ‘Poesia e Resistência’, o coletivo convidou seis saraus de diferentes regiões da cidade para enviar as poesias que seriam registradas nas placas de ferro, que pesam cerca de 200 quilos e estão espalhadas pelo terreno do CDC, que tem cerca de 5 mil m².
“Foi lindo, tivemos uma boa recepção. Somos todos uma grande família”, relata o poeta Luan Luando, do sarau A Voz do Povo, também da zona sul da cidade. “A homenagem é demonstração de afetividade, é importante esses encontros entre zona sul, leste, norte. Não estamos sozinhos, somos um só bando”, reforça o poeta Binho.
Durante o festival, as placas foram apresentadas, junto com as intervenções do coletivo e apresentações de música e poesia dos grupos Tenda Literária, A Voz do Povo, Slam da Guilhermina, Sarau do Binho, O Que Dizem os Umbigos e Elo da Corrente.
“As andorinhas são pássaros que sabem a rota, o caminho que querem trilhar, são certeiras, assim como nós”, conclui Binho.
Lívia Lima, 28 anos, correspondente de Artur Alvim
@livialimasilva
livia.mural@gmail.com
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A foto do entorno é muito tendenciosa, se ela fosse retirada com perspectiva do lado oposto veriam que na mesma quadra estão um bar chamado Rei do Mocotó que promove shows e que faz diversos eventos de proporções bem maior (tamanho e barulho) que os realizados no Binho.O que aconteceu com o Binho é claramente perseguição, afinal o mesmo critério não foi utilizado para os demais estabelecimentos do entorno. Vocês que estão sentados palpitando, matutando conclusões e achismos dentro de suas esferas de preconceito deveriam, no mínimo, conhecer um pouco mais do campo limpo e entender o impacto da retirada desse estabelecimento que fomentava também cultura na região que já se encontrava tão desprovida desse tipo de atividade e agora avança para escassez total.