Biblioteca feminista completa 50 anos, mas segue fechada na zona leste
Na próxima sexta-feira (20), completará 50 anos a biblioteca Cora Coralina, em Guaianases, na zona leste. No entanto, o espaço que leva o nome da escritora goiana e que é marcado pelo feminismo está fechado há pelo menos dois meses, depois de um destelhamento provocado por ventos fortes.
Inaugurada em maio de 1966, a biblioteca esteve na vanguarda de algumas ações que favoreceram o incentivo à leitura, como ter sido o primeiro a oferecer uma programação no período noturno para atender os trabalhadores, e a criação do sarau feminista “Junte-se na Luta”.
O fechamento prejudicou o trabalho e o estudo de alguns moradores. A educadora socioeducativa, Aline Santos Moreno, 25, frequentava o espaço para realizar atividades da faculdade e grupos de estudo. Ela também desenvolve atividades com crianças e adolescentes em um CCA – Centro para Crianças e Adolescentes – da região.
“Nunca tínhamos este acesso e quando conseguimos, há um descaso com as obras para arrumar o espaço”, afirma.
O fechamento do local ocorreu depois de uma forte chuva que atingiu o bairro e provocou o destelhamento de parte do local. Desde então, os únicos serviços realizados são a devolução de livros emprestados aos usuários.
Os 164 mil habitantes de Guaianases têm apenas esta e mais duas bibliotecas públicas para atender a demanda.
FEMINISMO
Com o objetivo de criar um ponto de referência quanto à discussão de gênero e feminismo na cidade de São Paulo, a Cora Coralina foi indicada em julho como a primeira biblioteca feminista da América Latina.
Com o título, o lugar recebeu mais de mil obras para consultas, pesquisas e estudos, além de uma programação cultural com atividades musicais, teatrais e de literatura para promover o debate sobre o tema.
“Muitos projetos feministas que as mulheres acompanham, surgem daqui e estas pessoas vão ter que procurar outros espaços pra dar continuidade aos seus ideais”, afirma a fotógrafa Bárbara Lobato, 21. “Além disso, pro vestibular, temos dificuldades para ler os livros que são obrigatórios”.
Por enquanto, a biblioteca permanece sem programação. “A falta de acesso à literatura faz com que se perca a prática da leitura”, desabafa Aline.
As telhas derrubadas pelo temporal ainda permanecem no chão. No portão, há avisos que sinalizam sobre o ocorrido. Um deles indica uma reforma no local e a localização de outras duas bibliotecas próximas.
Apesar dos avisos estampados na frente, usuários indicam que se passaram semanas sem nenhuma iniciativa de reforma ou de reabertura do local. “Biblioteca fechada é igual escola, não pode acontecer descaso, porque é muito importante”, finaliza Bárbara.
Procurada em 20 de abril, a secretaria Municipal de Cultura respondeu apenas nesta quinta-feira (19/5). A pasta alega que a Biblioteca está em obras e seu telhado está sendo refeito por conta de um vendaval que o danificou no fim de novembro do ano passado.
Afirma que os trabalhos começaram em 15 de abril e que foi feita a limpeza do telhado que caiu, lavagem da laje superior, e solicitada a confecção da estrutura metálica que suporta o telhado e das telhas sob medida para esta biblioteca. A previsão de término da obra é 15 de setembro e o acervo está preservado em local seguro, diz a pasta.
Lucas Veloso, 20, é correspondente de Guaianases
lucasveloso.mural@gmail.com
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