Carapicuíba quer ser turística, mas cartão postal tem falta de manutenção
Ana Beatriz Felicio
Desde 2017, a cidade de Carapicuíba, na Grande São Paulo, tem buscado o título de Município de Interesse Turístico (MIT). Se conquistar essa classificação, o município receberá R$ 550 mil do governo do estado para estimular o setor. No entanto, o principal cartão postal da cidade ainda sofre problemas de manutenção.
A aposta do município é a Aldeia Jesuística. O espaço foi fundado em cerca de 1580, quando José de Anchieta inaugurou mais 11 aldeias missionárias em torno do Mosteiro de São Bento.
Tombado pelo Iphan (Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional) em 1940, o local conta com parque, igreja católica, biblioteca e lojas de artesanato. Há ainda um espaço de teatro de arena, que recebe todos os anos a encenação da peça Paixão de Cristo, com o trabalho de 370 pessoas.
Apesar da importância histórica, frequentadores da aldeia afirmam que faltam cuidados e incentivo por parte da prefeitura.
“Apesar de ser um ponto importante e um patrimônio histórico bem conservado, não tem um atrativo para as pessoas ficarem aqui. Precisava melhorar a gastronomia, a limpeza. No próprio parque os brinquedos estão todos quebrados”, diz a especialista em telecomunicações, Nancy Sakamoto, 44, moradora do mesmo bairro da aldeia.
Ela costuma estar sempre no espaço, principalmente por conta do filho pequeno.
A tentantiva de se tornar um MIT tem sido uma tendência na região metropolitana. Levantamento da Agência Mural mostra que ao menos 22 cidades têm projetos que tramitam na Assembleia Legislativa em torno do tema.
Para conquistar essa denominação, as prefeituras têm de ter um plano municipal de turismo e comprovar ter condições de hospedagem e serviços públicos. Os projetos tramitam na Assembleia Legislativa.
CENÁRIO
No domingo em que a Mural visitou o espaço, o local estava vazio, com todas as lojas e igreja fechadas. No espaço do teatro de arena, um cavalo pastava e amigos conversavam.
No parque, que também tem acesso pela praça da aldeia, há alguns brinquedos de recreação para crianças, uma área com quiosques e bancos, no qual alguns grupos faziam até churrasco.
Uma dessas pessoas era Iran Reginato, 53. O aposentado vestia uma camisa do Corinthians e contou que mora em Osasco, município vizinho. Haviam mais cinco familiares com ele.
“Eu prefiro mil vezes vir passear por aqui do que na minha cidade. Considero Carapicuíba um município muito turístico para os moradores da região oeste. Gosto daqui, porque há mais opção de áreas abertas”, expõe entre a fumaça da carne que acabava de assar.
Outro ponto que chama atenção no parque é a existência de um lago. Aparentemente poluído e com alguns entulhos nas margens, crianças aproveitavam para se banhar e fugir do sol quente, contrariando as placas de “proibido nadar”. Um senhor tentava pescar com uma vara de madeira fina.
Por perto, cacos de vidro pela grama e lixo espalhado atrapalhavam a caminhada. Bacharel em direito e moradora do município por 32 anos, Tatiane Barbosa afirma que a maioria das pessoas nem sequer lembra da existência da Aldeia, bem como sua relevância histórica. “Carapicuíba é uma cidade dormitório. Não tem incentivo para o turismo e nem estrutura para isso”, finaliza.
Em nota, a Prefeitura de Carapicuíba informou “continuar trabalhando para oferecer aos seus moradores e visitantes uma cidade mais organizada, bonita e agradável”. A administração não informou quantos turistas frequentam a cidade mensalmente.
A cidade informou ter criado um Conselho Municipal de Turismo e também tem realizado eventos na região para estimular a visita de moradores de outros lugares.
Ana Beatriz Felicio é correspondente de Carapicuíba
anabeatrizfelicio@agenciamural.org.br
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