Mural https://mural.blogfolha.uol.com.br Os bastidores do jornalismo nas periferias de SP Mon, 27 Dec 2021 13:12:41 +0000 pt-BR hourly 1 https://wordpress.org/?v=4.7.2 Líder comunitário em Itaquera, Rodrigo Reis morre em acidente https://mural.blogfolha.uol.com.br/2019/07/01/lider-comunitario-em-itaquera-rodrigo-reis-morre-em-acidente/ https://mural.blogfolha.uol.com.br/2019/07/01/lider-comunitario-em-itaquera-rodrigo-reis-morre-em-acidente/#respond Mon, 01 Jul 2019 20:21:19 +0000 https://mural.blogfolha.uol.com.br/files/2019/07/1897704_405940282874898_1731841512_n-320x213.jpg https://mural.blogfolha.uol.com.br/?p=16424 Eduardo Silva

O presidente da Associação de Moradores do Jardim Helian, Rodrigo Martins dos Reis, 35, morreu na noite deste domingo (30), após sofrer um acidente de moto na avenida Jacu Pêssego, na zona leste de São Paulo.

Reis era uma das lideranças populares mais importantes de Itaquera e foi responsável por diversas lutas por melhorias no Jardim Helian. Entre elas, atuou pela implantação de uma nova UBS (Unidade Básica de Saúde) e pela entrega de uma torre de transmissão de celular no bairro. 

Ele também buscou parcerias com a Unifesp (Universidade Federal de São Paulo) e com o Sesc para promover cursos aos moradores da comunidade.

No domingo, o líder comunitário participou de uma caminhada promovida pelo Sesc Itaquera. “Ontem ele falava dos planos, dos acontecimentos bons, da necessidade de luta para as melhorias. Mas a vida é um sopro. Vamos do luto à luta como ele sempre desejou e cobrou”, publicou a página da associação nesta segunda.

Morador tinha 35 anos e deixa esposa e dois filhos (Acervo Pessoal)

Em 2012, a Agência Mural conversou com Reis sobre a luta por vagas em creches e iluminação pública no bairro. Na época, os moradores da região buscavam soluções para conseguir acesso à educação perto de casa.

Grupos que atuam na região publicaram textos lamentando a morte do ativista. Um deles foi o Coletivo Baobá de Cursinho Popular. 

“Quando fizemos juntos o documentário ‘Jardim das Memórias [de 2016], Rodrigo lembrou emocionado da sua história, de brincar na beira do rio quando criança enquanto a vila crescia e também da sua trajetória como lutador popular, fazendo da sua quebrada e de Itaquera um palco incendiário em junho de 2013”, afirmou o coletivo.

Em 2018, o trabalho de Reis e da Associação de Moradores do Jardim Helian fez com que o bairro recebesse um convite da ONU (Organização das Nações Unidas) para ser pioneiro no projeto “Implementando a Abordagem de Vizinhança em São Paulo”, idealizado pelo Programa Cidades Sustentáveis e a Unifesp.

A proposta era transformar o Jardim Helian no primeiro bairro sustentável de São Paulo.

“Nós estamos fazendo os estudos para trazer melhorias para o bairro [como obras no córrego e entrega de um ecoponto] e nos organizando para que isso aconteça. Estamos no caminho certo”, disse Rodrigo Reis ao 32xSP, site produzido pela Agência Mural em parceria com a Rede Nossa SP.

Casado e pai de dois filhos, Reis era formado em assistência social e atuava como assessor parlamentar de deputados do PT. 

O velório será nesta segunda-feira (1º), a partir das 17h na sede da Associação de Moradores do Jardim Helian (rua Edmundo Abreu, 170). O enterro será na terça-feira (02), às 10h, no Cemitério Municipal de Itaquera (rua Serra de São Domingos, 1597).

Eduardo Silva é correspondente de São Miguel Paulista
eduardosilva@agenciamural.org.br

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Cortes da Prefeitura de SP na área social podem afetar 11 mil alunos https://mural.blogfolha.uol.com.br/2019/05/30/cortes-da-prefeitura-de-sp-na-area-social-podem-afetar-11-mil-alunos/ https://mural.blogfolha.uol.com.br/2019/05/30/cortes-da-prefeitura-de-sp-na-area-social-podem-afetar-11-mil-alunos/#respond Thu, 30 May 2019 19:10:48 +0000 https://mural.blogfolha.uol.com.br/files/2019/05/WhatsApp-Image-2019-05-30-at-15.16.43-320x213.jpeg https://mural.blogfolha.uol.com.br/?p=16269 Giacomo Vicenzo

Nos corredores da Obra Social Dom Bosco, em Itaquera, na zona leste de São Paulo, Mariana de Oliveira, 20, se prepara para entrar na aula do curso de auxiliar administrativo em que está matriculada há quatro meses.

A formação ajudou a jovem a conseguir uma colocação profissional na área em que estuda. “Foi por conta desse curso e por intermédio da Dom Bosco que consegui o meu atual emprego”, comenta Mariana.

No entanto, a sequência de cursos como o de Mariana está em risco, afirma a instituição, após a prefeitura anunciar o congelamento de recursos destinados aos convênios, como o firmado com a Dom Bosco.

De acordo com o Fórum Municipal de Assistência Social, foram congelados R$ 220 milhões em abril e R$ 135 milhões em maio, da área social.

O decreto nº 58.636/2019, assinado pelo prefeito Bruno Covas (PSDB), estabelece a renegociação dos convênios em busca da redução de gastos.

Entre as áreas afetadas está o Cedesp (Centro De Desenvolvimento Social e Produtivo), órgão da prefeitura responsável por desenvolver atividades com adolescentes, jovens e adultos, e que tem convênios com 60 unidades espalhadas pela capital, oito deles na Obra Social Dom Bosco.

Em 23 de maio, funcionários e usuários do Cedesp fizeram uma caminhada da Câmara Municipal até a sede da Prefeitura em protesto pelo corte de verba no serviço. A redução feita em todo o equipamento somente em 2019 é de cerca de R$ 31 milhões.

Ao todo, o Cedesp tem 11,7 mil usuários, que vão de 15 até 59 anos de idade. A Agência Mural apurou que, com o corte, o Cedesp tem o funcionamento garantido apenas até setembro, de acordo com cálculos do Conselho Municipal de Assistência Social.

DOM BOSCO

Por meio dos recursos do Cedesp, a Dom Bosco oferece 41 cursos em que estão matriculados 2.400 alunos.

As disciplinas oferecidas vão desde mecatrônica até curso de cabeleireiro. Incorporado na Proteção Social Básica (garantia de acessos a todos os cidadãos a serviços básicos), 60% das vagas são destinadas para pessoas em situação de vulnerabilidade social.

Os pedidos são analisados e encaminhados pelo Cras (Centro de Referência de Assistência Social).

Turma de espanhol formada na Dom Bosco em 2018 (Marcos Silas Justino Pereira/Acervo Pessoal)

A proposta da prefeitura é reduzir os valores aplicados no serviço, mas o caminho para essa economia ainda é incerto. “O prefeito diz que não haverá diminuição do serviço, que ele não vai acabar, mas que os valores serão renegociados. Ainda não divulgaram para nós como irão fazer e não sabemos como reduzir esses valores na prática”, alerta Cristiane Vitali, diretora executiva da Obra Social Dom Bosco.

Além dos cursos profissionalizantes e encaminhamento para empresas parceiras da Obra Social Dom Bosco, os alunos matriculados nos cursos também recebem almoço e aulas complementares em cursos como de português e matemática.

De 1981 a 2017 mais de 378 mil pessoas já foram atendidas na unidade e pouco mais de 37 mil alunos já se formaram nos cursos profissionalizantes oferecidos pela instituição.

A preocupação é grande para Mariana, usuária do serviço na Obra Social Dom Bosco. “Me sinto triste, porque foi por conta desse curso que eu consegui um emprego. Se isso acabar, outras pessoas irão perder essa oportunidade que eu tive”, lamenta a jovem.

Em nota, a Prefeitura de São Paulo e a secretaria informaram que a partir do decreto foi formado um grupo de trabalho para análise de contratos e convênios em vigor referentes aos serviços de assistência social.

Caberá ao grupo propor critérios e metas para renegociação, considerando  disponibilidade de dinheiro arrecadado pela administração, respeitando os limites legais.

A administração afirma que a renegociação não poderá “resultar em redução de qualidade e eficiência dos serviços prestados”. 

O valor orçado em 27 de dezembro de 2018 para o serviço do Cedesp era de R$ 73,8 milhões. Ao longo de 2019, foram publicados alguns decretos de remanejamento e hoje o valor orçado é de  R$51,8 milhões. Desse valor, R$9,3 milhões estão congelados e, portanto, o orçamento disponível é de R$42,5 milhões, de acordo com a secretaria.

Giacomo Vicenzo é correspondente de Cidade Tiradentes
giacomovicenzo@agenciamural.org.br

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Bolsonaro vence na maioria das periferias de São Paulo https://mural.blogfolha.uol.com.br/2018/10/28/bolsonaro-vence-na-maioria-das-periferias-de-sao-paulo/ https://mural.blogfolha.uol.com.br/2018/10/28/bolsonaro-vence-na-maioria-das-periferias-de-sao-paulo/#respond Sun, 28 Oct 2018 22:59:39 +0000 https://mural.blogfolha.uol.com.br/files/2018/10/tnrgo_abr_2810186521-320x213.jpg https://mural.blogfolha.uol.com.br/?p=14732 Paulo Talarico

Eleito presidente neste domingo (28), Jair Bolsonaro (PSL) venceu também na ampla maioria das periferias de São Paulo.

O candidato Fernando Haddad (PT) venceu apenas nas zonas eleitorais do Grajaú (56% dos votos), Parelheiros (55%), Capão Redondo (50,5%), Piraporinha (57%) e Valo Velho (54%), na zona sul, e em Cidade Tiradentes (55%), na zona leste, segundo dados do TSE (Tribunal Superior Eleitoral) divulgados por volta das 19h30, quando havia 99,6% das urnas apuradas.

Confira o mapa do resultado por cidades do Brasil

Bolsonaro teve votação expressiva no extremo norte e venceu com mais de 60% em bairros como Tucuruvi (67%), Lauzane Paulista, Pirituba (67%) e Freguesia do Ó. O capitão reformado teve vitória mais apertada em bairros como Perus (51%), Jaraguá (57%) e Brasilândia (53%)

Na zona leste, Bolsonaro teve maior vantagem em bairros como Cangaíba (64%)  e Sapopemba (64%), e vantagem menor em áreas como Itaquera, (59%) Guaianases (50,8%), São Miguel Paulista (59%), Ermelino Matarazzo (59%) e São Mateus (52%).

Paulo Talarico é correspondente de Osasco
paulo@agenciamural.org.br

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Sem dinheiro, universidade federal em Itaquera não tem prazo para começar https://mural.blogfolha.uol.com.br/2018/08/28/sem-dinheiro-universidade-federal-em-itaquera-nao-tem-prazo-para-comecar/ https://mural.blogfolha.uol.com.br/2018/08/28/sem-dinheiro-universidade-federal-em-itaquera-nao-tem-prazo-para-comecar/#respond Tue, 28 Aug 2018 20:16:54 +0000 https://mural.blogfolha.uol.com.br/files/2018/08/11-320x213.jpg https://mural.blogfolha.uol.com.br/?p=14202 Sheyla Melo

No local onde funcionava a antiga metalúrgica Gazarra, em Itaquera, na zona leste, um campus da Unifesp (Universidade Federal de São Paulo) previa aulas para 3,5 mil alunos a partir de 2020 no chamado Instituto das Cidades. 

No entanto, sem repasse do dinheiro previsto, não há mais previsão para o começo dos cursos de administração pública, arquitetura e urbanismo, engenharia ambiental e sanitária, engenharia civil e geografia. 

Por enquanto, apenas um dos três prédios previstos foi construído e tem recebido cursos de extensão. 

O terreno de 170 mil metros quadrados na avenida Jacu Pêssego foi leiloado e a aquisição contou com negociações da Unifesp, da Prefeitura de São Paulo e do MEC (Ministério da Educação) em dezembro de 2014. Na época, foi acordado que o projeto seria feito em cinco anos.

O Campus Leste tem previsto R$ 110 milhões para a execução do projeto, segundo o MEC. O órgão afirma que os valores previstos inicialmente não são possíveis pela situação econômica do país e que o projeto está em análise.

Segundo o pró-reitor Pedro Arantes, 43, apenas R$ 3 milhões foram recebidos para as obras. Além disso, foram criadas 15 vagas para professores, das 170 previstas.

Campus tem apenas um prédio construído (Sheyla Melo/Agência Mural/Folhapress)

Em agosto, o espaço quase foi ocupado por movimentos de moradia, que deixaram o local após conversar com a reitoria.

“[A implantação do campus] é esperança de que mais gente das quebradas entre no ensino superior e quebre essa barreira gerada pelo ensino das escolas públicas”, afirma Marcello Nascimento de Jesus, 39, professor de geografia e estudante do Curso de Extensão Cidades, Planejamento Urbano e Participação Popular.

Um ato em defesa da implantação definitiva foi realizado no sábado (11), com mais de 200 pessoas entre estudantes, professores, movimentos de cultura, moradia, saúde e educação, para pressionar a efetivação da unidade.

“Venha no ato para garantir a Universidade Pública aqui na Jacu-Pêssego, em Itaquera”, diziam cartazes. “As pessoas paravam com certo estranhamento, surpresas por existir essa universidade, para saber onde era, quais cursos teriam e procedimentos para entrar”, ressalta Marcello.

Cerca de 200 pessoas participaram do ato, segundo os organizadores (Sheyla Melo/Agência Mural/Folhapress)

“No Brasil, a universidade pública ainda tem um caráter elitista e, como o conhecimento ajuda a transformar as realidades, temos que ocupar esses lugares”, diz Sandro Barbosa, 40,  morador do José Bonifácio e liderança local.

campus é sede do Cursinho Popular Baobá com aulas aos sábados. Neste mês, teve início o curso de especialização “Cidades, Planejamento Urbano e Participação Popular”.

Os organizadores pediram que todos enviassem e-mail para o Ministro do Planejamento, para reivindicar a contratação dos profissionais e que as verbas cheguem ao campus. 

A Unifesp, em nota, diz que a implantação foi paralisada. “Devido à não liberação de vagas e recursos pelo atual governo, a implantação está paralisada. Não há previsão de liberação de vagas e recursos”.

MEC

Em nota, o Ministério da Educação afirmou que “a expansão pactuada anteriormente para todas as universidades federais foi feita sem planejamento e sem previsão orçamentária de longo prazo”.

Segundo o órgão, estavam previstos R$ 190 milhões para todas as obras da Unifesp, o que está “fora da realidade do país neste momento, devido à crise e à diminuição da arrecadação federal desde 2014, e, caso disponibilizado, acarretaria em uma perda desproporcional para as outras instituições federais”.

O Ministério alega que tem feito esforços no sentido de buscar junto ao MPDG (Ministério de Planejamento, Desenvolvimento e Gestão) a ampliação do número de vagas. “Para iniciar as atividades da Zona Leste, o MEC solicitou ao MPDG, em 2018, a disponibilização de 60 vagas de docentes, 55 técnico-administrativos da Classe E e 40 técnico-administrativos da Classe D, demanda que se encontra em fase de análise por aquela Pasta”.

O MEC conclui que o processo ainda será avaliado para “implantação ou um redimensionamento do projeto por parte da universidade, de forma a torná-lo mais factível ao momento atual do país”.

Sheyla Melo é correspondente de Cidade Tiradentes
sheylamelo@agenciamural.org.br

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‘Muita gente nos subestima por sermos mulheres’, diz rapper de Itaquera https://mural.blogfolha.uol.com.br/2018/08/09/muita-gente-nos-subestima-por-sermos-mulheres-diz-rapper-de-itaquera/ https://mural.blogfolha.uol.com.br/2018/08/09/muita-gente-nos-subestima-por-sermos-mulheres-diz-rapper-de-itaquera/#respond Thu, 09 Aug 2018 14:10:53 +0000 https://mural.blogfolha.uol.com.br/files/2018/08/FOTO-INFANTE-03-320x213.jpg https://mural.blogfolha.uol.com.br/?p=14040 Larissa Darc

Quando Glória Infante (Lóry), 19, e Sabrina Infante (Sinf), 16, começaram a frequentar batalhas de rimas em 2016, não imaginavam que estariam entre as poucas mulheres das disputas de quem consegue compor melhor no momento.

As duas chegaram a se enfrentar no torneio final da Batalha da ZIL, realizada na Cohab 2, em Itaquera, zona leste de São Paulo, na qual Sabrina saiu como vencedora. Apesar da rivalidade momentânea, o episódio aproximou as primas que passaram a compor letras de rap juntas.

“Sempre fiz poesias. Com 13 anos comecei a escrever letras de músicas folk, voltadas para a MPB. Depois das batalhas, continuei escrevendo, mas em cima de outro estilo musical”, conta Sinf.

A brincadeira ficou séria após uma publicação em uma rede social em 2016. O vídeo das garotas cantando  “Fugaz”, primeira composição autoral da dupla, chamou a atenção de Anderson da Silva, o Dj Radhar. Após uma rápida conversa pela internet, marcaram o primeiro ensaio juntos.

Dias depois, o Infante Rap fazia o primeiro show. No palco do Reação Hip Hop, evento com apresentações de rap nacional, abriram a apresentação da Karol de Souza, rapper do coletivo Rimas e Melodias.  

O nome do trio surgiu por causa do sobrenome das garotas e porque ele vem de infantaria, grupo de combatentes do exército. “Desde pequenos nós [da periferia] somos mandados para a guerra. Precisamos nos esforçar muito mais, temos que trampar, estudar, fazer o corre”, explica Lóry.

As composições do Infante Rap ressaltam a resistência feminina no rap (Fábio da Silva/Divulgação)

O videoclipe, que superou a marca de mil visualizações em menos de 24 horas, foi gravado de maneira independente pela Biofa Rec Life & Beco Filmes. As filmagens foram financiadas com o dinheiro do primeiro cachê expressivo recebido por uma apresentação.

“Será que é difícil de acreditar que mulher também pode ser uma canção?”

“Sempre vai ter um pra desmerecer /Às vezes mais dois desacreditar / Vou dar meu melhor ele nem vai ver / Mas se eu ramelar ele vai gargalhar”, trecho da música “Quem são essas mina?”.

A ideia para a composição surgiu como uma crítica a um conhecido que duvidou da autoria das canções escritas pelas meninas.

“É complicado ser uma mulher MC. Tem muita gente que nos subestima e duvida da nossa capacidade de escrever simplesmente por sermos mulheres”, desabafa Lóry. “Apesar disso, queremos deixar claro que não estamos declarando guerra aos homens. Queremos apenas mostrar que podemos ser tão boas quanto eles”, ressalta.

Dj Radhar complementa. “No rap feminino é mais difícil até na hora de fechar um show. Eles dão preferência para homens. Agora estão começando a surgir nomes femininos como Issa Paz, Sara Donato e Drik Barbosa. Mas até pouco tempo só ouvíamos falar de Emicida, Rashid e Criolo”.

Já em produção, o primeiro disco (EP) com três músicas inéditas será lançado ainda neste ano. Por enquanto, apenas “Quem são essas mina?” está disponível nas plataformas digitais.  

Atualmente a maior dificuldade do grupo é conseguir adaptar a vida pessoal com a artística. Dj Radhar trabalha como oficineiro e Sinf concilia estágio com o ensino médio. “Somos nossos próprios produtores e nos dividimos para fazer a agenda de shows”, explica o Dj.  

Quando sobem ao palco, elas fazem questão de se apresentar como residentes dos bairros Cohab 2 e AE Carvalho.  “Minha música reflete o que eu vivo na minha quebrada. Nós habitamos comunidades humildes que têm muita história para contar”, diz Sinf. 

“Nós somos Infante e de onde nós viemos pode ter certeza tem mais de um milhão”, canta Lóry.

Larissa Darc é correspondente do Parque do Carmo

larissadarc@agenciamural.org.br

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Criador da Batalha da Leste canta, monta podcast e rejeita rimas preconceituosas https://mural.blogfolha.uol.com.br/2018/05/31/criador-da-batalha-da-leste-canta-monta-podcast-e-rejeita-rimas-preconceituosas/ https://mural.blogfolha.uol.com.br/2018/05/31/criador-da-batalha-da-leste-canta-monta-podcast-e-rejeita-rimas-preconceituosas/#respond Thu, 31 May 2018 17:44:02 +0000 https://mural.blogfolha.uol.com.br/files/2018/05/WhatsApp-Image-2018-05-16-at-12.52.12-1-1-320x213.jpeg http://mural.blogfolha.uol.com.br/?p=13357 Leticia Marques

Quando terminou o curso de sistemas da informação e análise de sistemas em 2011, Augusto Oliveira, 27, sentiu que precisava buscar um novo rumo para fazer o que gostava.

Morador de Cidade Tiradentes, na zona leste de São Paulo, ainda trabalha na área de tecnologia, mas deu início a projetos sobre a cultura negra e é o organizador da Batalha da Leste. 

A disputa de rimas é realizada na passarela da estação Itaquera do Metrô todos os sábados às 15h. Em maio,  a batalha completou sete anos.

A ideia surgiu em 2011. O Mc frequentava a batalha da Santa Cruz na Vila Mariana, na zona sul de São Paulo, e resolveu levar o modelo para a zona leste.

“Eu trocava muitas ideias com meus amigos e isso precisava ir para algum lugar. Outras pessoas precisavam ouvir o nosso ponto de  vista sobre música, política, histórias em quadrinhos, filmes, literatura, seriados e empoderamento”, diz Augusto.

O objetivo do evento é de transmitir conhecimento, não só de freestyle (rima improvisada), mas a troca de ideias sobre a realidade de cada um por meio do rap.

Hoje, alguns amigos ajudam na organização das batalhas em sua ausência.

Para participar das batalhas tem que se inscrever em um papel que fica disponível antes de começar as disputas. Quem desenvolve a melhor rima passa de fase e, a cada duelo, o oponente é sorteado. Os jurados são o público, que acompanha de fora e votam por meio da intensidade de aplausos e gritos.

O modelo se espalhou nos últimos anos em várias regiões como Guaianases jardim Ângela, na zonas leste e sul da capital, e cidades da Grande São Paulo como São Bernardo do Campo e Osasco.

“Durante a batalha nós prestamos muito atenção no que os mc’s estão falando, porque não toleramos rimas machistas, homofóbicas, racistas e qualquer tipo de preconceito religioso. Não aceitamos qualquer tipo de rima, tem que ter respeito e ideologia”, comenta Augusto.

O OUTRO LADO DA FORÇA

Depois de três anos a frente da Batalha da  Leste, em 2014, Augusto criou um outro projeto. Ele juntou um grupo de amigos especializados na área da comunicação para criar o site “O Lado Negro da Força”, que contém notícias e podcasts.

No site, o rapper conduz um programa sobre a representatividade negra em filmes, quadrinhos e séries. “Eu nunca me via representado nos quadrinhos, filmes e séries. Então senti a necessidade de falar sobre isso e debater esse tema”, diz.

Augusto atua em outras áreas e busca carreira musical (Divulgação)

DISCO

Em 2017, o mc gravou seu primeiro CD “Oásis”, com a  participação especial do seu padrinho musical Rincon Sapiência e os amigos Torres, Rico Dalasam e Drik Barbosa.

Augusto começou a se interessar  pela música aos 9 anos. Ele escutava blues, rock, jazz, samba, rap, entre outros estilos que seu pai, Antonio Sergio, colocava para tocar em casa.  A influência também veio da escola. 

“A professora Cida, na quarta série, não foi só minha primeira professora negra, mas foi quem me incentivou a cantar. Por conta disso entrei no coral da escola, depois entrei numa banda marcial e de rock”, conta.

Augusto aposta no estilo retrô: black power, óculos escuros e uma camiseta verde com listras verticais estampadas.

O rapper afirma sentir orgulho de como os negros estão se montando na moda. “Nós que somos a moda”, afirma. “Um relógio só passa a estar na moda se a gente usar, então podemos nos vestir da maneira que queremos”.

Letícia Marques é correspondente da Brasilândia
leticiamarques.mural@gmail.com

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Projeto incentiva moeda local para estimular comércio em Itaquera https://mural.blogfolha.uol.com.br/2017/12/05/projeto-incentiva-moeda-local-para-estimular-comercio-em-itaquera/ https://mural.blogfolha.uol.com.br/2017/12/05/projeto-incentiva-moeda-local-para-estimular-comercio-em-itaquera/#comments Tue, 05 Dec 2017 13:44:26 +0000 https://mural.blogfolha.uol.com.br/files/2017/12/Bancadão-no-largo-da-matriz-em-Itaquera-180x135.jpg http://mural.blogfolha.uol.com.br/?p=12321 Nos avisos finais da missa do último domingo (3) na Paróquia Nossa Senhora do Carmo de Itaquera, na zona leste da capital paulista, os fiéis foram avisados que um novo projeto de economia solidária estaria sendo lançado ali mesmo, no largo da matriz, e, lá fora, se viram diante de uma tenda que oferecia produtos customizados, além de cadastro para ter acesso a uma moeda própria do bairro.

Trata-se do projeto Bancadão, um negócio social que afirma ter como missão estimular pessoas dos bairros periféricos de São Paulo por meio de oportunidades e capital social que dá acesso a bens sociais, serviços e capacitação, principalmente nas áreas de economia solidária, comunicação e empreendedorismo.

A ideia partiu dos fundadores, Susanne Sassaki, Marcos Reis e Ivan Zumalde – este último nascido e criado em Itaquera –, atuais sócios da editora Mymag, pela qual estão incubando o projeto Bancadão – Nós por nós, em fase piloto no bairro da zona leste.

“Nossa meta é, após o período de incubação, conseguir investidores e manter três unidades fixas na zona leste, que irão oferecer permanentemente os serviços para os moradores”, explica Ivan, que afirma ter interesse em levar o Bancadão para outros bairros, como o Capão Redondo, na zona sul.

O plano do projeto é estabelecer um ponto de encontro para divulgação de serviços, cursos, produtos e informações sobre a região, estimulando o apoio dos negócios locais credenciados, que ajudam a custear o uso da moeda local – a “banca” – que poderá ser utilizada na rede de comércio e serviços do bairro, sob forma de descontos.

Moedas banca (Livia Lima/Folhapress)

Durante o lançamento, cada morador que se cadastrava, ganhava 20 bancas, sendo que 10 podiam ser utilizadas para compra dos produtos disponíveis no estande, e outras 10 na rede de comércios já cadastrada, que inclui drogaria, pizzaria, sapataria, serralheria, dentre outros.

As bancas também poderão ser utilizadas para financiar cursos que serão oferecidos pelo projeto no dia 16 de dezembro no CIFA (Centro Itaquerense das Famílias Amigas), voltados para criação de aplicativos e de negócios.

A dona de casa Lenilda Maria da Silva, 50, achou interessante a proposta do Bancadão e fez seu cadastro para garantir as bancas e financiar os cursos oferecidos. “Estou desempregada, então será uma boa oportunidade. Aqui não temos oferta de emprego, nem para os mais jovens, como minhas duas filhas. É importante pensar em montar um negócio”, relata.

O estande do Bancadão estará nas próximas semanas circulando por outros endereços de Itaquera para divulgar o projeto e possibilitar aos moradores o cadastro e acesso à moeda, que poderá ser utilizada nos negócios do bairro e também nos cursos, conforme a agenda:

5/12 – Praça da Estação, centro de Itaquera, das 12 às 16h;

7/12 – Praça da Estação, das 16h às 20h;

10/12 – Feira Livre (Rua Ken Sugaya, altura 230), das 9h às 12h;

16/12 – CIFA (Rua Flores do Piauí, 170), a partir das 14h.

 

Lívia Lima é correspondente de Artur Alvim
livia.mural@gmail.com

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‘Moço, eu gosto de zumbi’: Gibiteca em Itaquera reúne HQs para geeks https://mural.blogfolha.uol.com.br/2017/09/15/moco-eu-gosto-de-zumbi-gibiteca-em-itaquera-reune-hqs-para-geeks/ https://mural.blogfolha.uol.com.br/2017/09/15/moco-eu-gosto-de-zumbi-gibiteca-em-itaquera-reune-hqs-para-geeks/#respond Fri, 15 Sep 2017 14:31:17 +0000 https://mural.blogfolha.uol.com.br/files/2017/09/gibiteca-180x97.jpg http://mural.blogfolha.uol.com.br/?p=11915 Domingo, 14h30. Sol a pino na Cohab 2, na zona leste de São Paulo. Dia de churrasco em algumas casas; noutras, reunião familiar. O status, comum em várias periferias, só não é o mesmo na “Okupação Coragem”. Por lá, é dia de juntar os nerds da ZL para jogar Zombicide, ler quadrinhos e mangás e participar de workshops com elementos da cultura geek.

Elisa da Silva Assunção, 7, é um exemplo. Ela chegou até o lugar acompanhada pelo pai. Naquele dia, a maior parte dos presentes era crianças e adolescentes que ocuparam as mesas para ler livros, mas sobretudo jogar com as cartas e dados disponíveis. Ao longo do dia, diversas pessoas, de bebês a idosos, passaram por ali.

“O nosso trabalho sempre foi de formação de público, como biblioteca mesmo”, afirma Fabio Santos, 35, um dos criadores do projeto.

“A gente não costuma fazer atividades que sejam muito grandiosas, muito pretensiosas. Nosso trabalho é aquele de passo a passo, de fazer isso daqui um hábito, de que esses garotos voltem no domingo que vem”, ressalta.

Integrantes e frequentadores do Okupação Cultural Coragem, na Cohab 2, em Itaquera (Lucas Veloso/Folhapress)

A ideia da Gibiteca Balão nasceu em 2013. No ano seguinte, com o apoio do Programa VAI (Valorização de Iniciativas Culturais), Fabio deu início às primeiras atividades na Casa da Memória, no centro de Itaquera. No entanto, após dois anos de encontros, a disponibilidade no espaço foi cancelada por problemas com a administração local.

Neste ano, o projeto passou a ser realizado no espaço da Okupação Cultural Coragem, na Cohab 2, distrito que pertence à Prefeitura Regional de Itaquera. O ambiente foi criado a partir da união de ativistas, que já desenvolviam algumas ações culturais e artísticas na região.

Bianca Alves, 19, é uma das componentes do grupo. Desde pequena, ela se interessava pela cultura nerd, pois assistia em casa desenhos de animes na TV. Com o passar do tempo, percebeu a dificuldade em acessar produtos da cultura geek.

Acervo tem 5.000 HQs, que vão de quadrinhos nacionais a norte-americanos, entre outros (Lucas Veloso/Folhapress)

“Todas as coisas que eu queria ver, ler, tinha que ir pro centro, nas lojas grandes da Liberdade”, afirma. Há alguns anos, ela conheceu e começou frequentar a Gibiteca e foi chamada para compor a equipe do projeto. Atualmente, Bianca é responsável por cuidar dos mangás.

O acervo disponível na Gibiteca, com cerca de 5.000 obras, é composto em grande parte por quadrinhos brasileiros e norte-americanos. Há também HQs adultas que falam de histórias mais dramáticas, da escravidão no Brasil às pessoas que vivem no Oriente Médio, além de terror e aventura.

Gabriel Ian Soares, 10, era uma das crianças mais animadas com os jogos. “É a minha primeira vez aqui. Gosto de cultura nerd. Eu nunca tinha jogado, mas aprendi rápido. Ganhei agora o Left 4 Dead, o jogo que mais gostei. Se minha mãe me trouxer na outra semana, eu venho. Se ela não me trouxer, eu venho só também”, comemora.

A Gibiteca Balão abre aos domingos, das 13h às 19h | gibitecabalao@gmail.com

Lucas Veloso é correspondente de Guaianases
lucasveloso.mural@gmail.com

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Paróquia celebra novena com drag queen e indígena em Itaquera https://mural.blogfolha.uol.com.br/2016/07/19/paroquia-celebra-novena-com-drag-queen-e-indigena-em-itaquera/ https://mural.blogfolha.uol.com.br/2016/07/19/paroquia-celebra-novena-com-drag-queen-e-indigena-em-itaquera/#comments Tue, 19 Jul 2016 17:21:53 +0000 https://mural.blogfolha.uol.com.br/files/2016/07/IMG_3996-180x129.jpg http://mural.blogfolha.uol.com.br/?p=9759 “Penso que a missão principal de um padre é a formação da consciência religiosa e crítica do seu povo, da qual a Eucaristia e os demais sacramentos se tornem bela e comprometida expressão”, é assim que o pároco Padre Paulo Sérgio Bezerra, 62, define a novena da igreja matriz Nossa Senhora do Carmo, em Itaquera, zona leste.

A Igreja Católica tem o costume de realizar novenas dos santos e padroeiros. Em Itaquera, esta iniciativa começou a tomar um viés social no ano de 2006, com o tema Ética e Evangelização e nos anos seguintes outras temáticas foram trabalhadas, como a relação de Deus e a arte (2008) e o feminismo (2013).

Neste ano, com o lema ‘Provados pela vida, arriscam na esperança’, um dos convidados foi o jornalista e morador de Itaquera, Albert Roggenbuck, a drag queen Dindry Buck, que teve espaço na novena para falar sobre diversidade sexual e contar um pouco sobre sua experiência pessoal na missa.

Ao final da missa, os jovens da paróquia chamaram Dindry Buck em tom de acolhida para posar para foto. (Crédito: Dindry Buck/Divulgação)
Ao final da missa, os jovens da paróquia chamaram Dindry Buck em tom de acolhida para posar para foto. (Dindry Buck/Divulgação)

Segundo Buck, o momento mais marcante foi o rito da comunhão. “Fui convidado para distribuir a comunhão e minha mãe recebeu o ‘Corpo de Cristo’ de minhas mãos, enquanto uma menina linda e talentosa cantava “Paula e Bebeto” de Milton Nascimento com o lindo refrão ‘Qualquer maneira de amor vale a pena’, relembrou.

A paróquia de Itaquera também já foi destaque no ano passado quando incluiu em suas preces uma súplica em prol do diálogo sobre as sexualidades, pedindo que as igrejas cristãs possam superar a demonização das relações afetivas, além de rogar pelo fim da criminalidade social e respeito aos direitos dos homossexuais.

Outra presença neste ano, foi a do indígena Karai Popygua, 28, da aldeia índigena Jaraguá. “Uma liderança indígena contando para os fiéis sobre esta violação dos direitos humanos dos povos indígenas que vem acontecendo no Brasil é muito importante e dentro da Igreja, isso é novo”, relatou sobre sua primeira experiência em uma missa.

Para o padre, estes tópicos não são debatidos como deveriam. “Talvez, de todos os clamores, o dos povos indígenas seja o mais distante e desconhecido pelo povo das igrejas e pela sociedade em geral”, disse.

Sete convidados compuseram a programação da novena social deste ano no decorrer de algumas semanas de junho e julho.
Durante a celebração eucarística, por diversos momentos, o indío Karai Popygua auxiliou nos ritos. (Lucas Veloso/Folhapress)

Por outro lado, “há pouquíssimas iniciativas mais ousadas aqui e ali, no sentido da homossexualidade. É um tabu e tratar disso num contexto litúrgico, uma aberração e ‘heresia’ para certo tipo de catolicismo acostumado a sublimar isso como coisa impura, e abraçar o sacrifício como legítima vontade de Deus é a melhor forma de prestar-lhe louvor”, completou.

Para a paroquiana Sônia Helena, 58, a forma de relacionar os temas presentes na sociedade com a religiosidade é algo que traz benefícios aos fiéis. “Em meio a tanto preconceito no mundo, com estas presenças entre nós, sentimos que ainda há esperança”, afirma.

Para Buck, a recepção das pessoas contribuiu para que o acontecimento fosse marcante em sua vida. “Ao final da celebração, muitas mães e pais vieram me abraçar, beijar e relatar que tinham filho ou filha homossexual, bem como algum parente e foi muito importante para eles ouvir meu relato”, reafirmou.

Lucas Veloso, 21, é correspondente de Guaianases
lucasveloso.mural@gmail.com

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Site propõe mapear eventos da cultura negra em São Paulo https://mural.blogfolha.uol.com.br/2016/02/22/morador-da-zona-leste-cria-agenda-para-mapear-eventos-da-cultura-negra-em-sp/ https://mural.blogfolha.uol.com.br/2016/02/22/morador-da-zona-leste-cria-agenda-para-mapear-eventos-da-cultura-negra-em-sp/#respond Mon, 22 Feb 2016 12:00:29 +0000 https://mural.blogfolha.uol.com.br/files/2016/02/agenda_preta-180x51.jpg http://mural.blogfolha.uol.com.br/?p=9232 No rastro do avanço da cultura negra na cidade de São Paulo, o analista de teste de softwares, Edison Magalhães Rocha, 30, decidiu criar um espaço para centralizar a divulgação dos eventos que ocorrem na capital paulista e na Grande São Paulo.

Júnior, como é conhecido, iniciou assim o portal Agenda Preta. A ideia é divulgar as ações e ainda promover a discussão sobre o tema.

“Pouco estudamos sobre a nossa história, pouco sabemos o que já fizemos e o que fazemos, enquanto negros, pela humanidade. Isso não interessa ao poder. A AP vem pra fazer uma humilde contribuição que vai na contramão disso”, afirma.

Nascido e criado na região de Itaquera, zona leste, Júnior teve o primeiro contato com as discussões raciais dentro da própria casa, por intermédio dos pais que militavam pela causa. Além disso, o pai era metalúrgico e atuou no movimento sindical do ABC, enquanto a mãe participava das  pastorais da Igreja Católica.

Junior Rocha estreou portal no final de 2015 (Foto: Divulgação)
Junior Rocha estreou portal no final de 2015 (Foto: Divulgação)

Mas foi aos 14 anos, por meio do hip hop, que ele incorporou de forma mais intensa a cultura negra, por meio do coletivo Força Ativa, de Cidade Tiradentes, também na zona leste.

“Lá, li meu primeiro livro, cantei meu primeiro rap e tive meu primeiro contato com uma crítica social e racial mais aprofundada. Desde esse tempo me vejo como um militante”, afirma.

Desde novembro com o site no ar, ele já recebeu dezenas de sugestões de eventos, em especial pelas redes sociais.

Até agora, os gastos na AP foram destinados para suprir a necessidade do servidor e do domínio, mas o analista aponta que conforme o público aumente, as despesas irão crescer. Ele ainda avalia como financiar a ação, como parcerias.

Atualmente, o idealizador do projeto conta com um grupo de 15 pessoas, além de quem ajuda pontualmente no envio de sugestões. O portal é dividido em categorias como basquete, carnaval, cinema, cursos e dança.

“Mais eficaz é termos gente que nos envie eventos, sem eles a proposta da agenda fica vazia”, comenta Júnior, que enfatiza sua inspiração em novos movimentos que atuam na cidade.

“Tem muita coisa acontecendo nos becos e vielas do Brasil, muita gente se organizando e construindo um conhecimento, uma cultura e uma forma de viver alternativa. Essas pessoas me inspiram”, conclui.

Lucas Veloso, 20, é correspondente de Guaianases
lucasveloso.mural@gmail.com

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