Festival de cinema da zona leste traz produtores e artistas da periferia
A 2ª edição do festival SP Leste em Movimento chegou o fim no dia 14 de dezembro após exibir 63 filmes nacionais, sendo 37 para adultos e 26 para o público infantil, no Ceu Tiquatira e no Centro Cultural Penha.
O evento contou com batalha de poesia, com a participação de Emerson Alcade do Slam da Guilhermina, e apresentações musicais de personalidades da região, que teve a presença de Edvaldo Santana e Nelson Triunfo, retratado no filme “Triunfo”, de Cauê Angeli.
Entre os filmes exibidos “Cangaíba Luz e Movimento”, dirigido pelo curador do festival Pedro Dantas, retrata a história dos moradores daquela localidade, fundada majoritariamente por populações negras e renegadas. De acordo com Dantas, Cangaíba se sente a periferia da periferia. “As coisas chegam com atraso para esse bairro que está à margem da margem”, destaca.
Conhecido como Khondi, Sidnei Cândido Ferreira, coordenador da Associação Cultural Poder Negro, uma das realizadoras do evento, ressaltou que a segunda edição do festival continuou a missão de levar filmes e produções da zona leste para os moradores dessa região reconhecerem e valorizarem suas origens. “A cultura é renegada ao povo da periferia”, afirma.
É o que o músico Edvaldo Santana, nascido no bairro de São Miguel Paulista, também defende. “A zona leste é uma região muito grande, tem muita gente fazendo coisas por aqui. As pessoas têm que saber que existe o festival, conhecer a importância dele, que é um encontro de artistas, de produtores, moradores”, diz.
O cineasta Ari Cândido reforçou a importância da mostra infantil e um bate papo com os menores. “É super caloroso estar com crianças. Já que elas não foram até o cinema, que o cinema vá até elas”.
Segundo Cândido, os pequenos entenderam a linguagem do cinema, interagiram, aplaudiram e questionaram. “Intercâmbio é isso”, explicou.
“Jardim Samara”, um dos filmes da mostra, foi exibido junto com o livro de mesmo nome, ambos feitos pela professora de história Cristina Assunção, 34. A ideia surgiu em 2002, mas a obra só saiu em 2011 quando ela foi contemplada pelo programa VAI (Valorização de Iniciativas Culturais).
“Inicialmente, pensei em fazer o documentário por considerá-lo mais acessível que um livro, mas depois de transformar 16 horas de gravação em 16 minutos, a ideia do livro voltou para contar histórias que não couberam na tela”, explica Cristina.
O filme “Paz Incerta” feito por Ana Paula Costa, Fabio Razuk Jr. e a correspondente da Penha Marina Lopes deu voz às expectativas e histórias dos moradores da Comunidade da Paz. A região é vizinha à Arena Corinthians em Itaquera, que recebeu ameaças de remoção após o anúncio da Copa do Mundo.
O grupo acompanhou os moradores por um ano. “A ideia é apresentar a periferia de uma forma mais humana. Tentamos quebrar os estereótipos que estão associados à vida na favela”, comenta Marina. “Por ser moradora da região, acredito que participar do festival foi extremamente simbólico. Acho importante ter esse espaço para divulgar as produções feitas na zona leste. Temos muitos projetos legais sendo desenvolvidos aqui e isso precisa ser mostrado”, conclui.
Aline Kátia Melo, 31, é correspondente da Jova Rural
@alinekatia
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