Tradicional feira livre da Vila Guilherme agoniza com queda de movimento
“Olha o tomate, dona, tá barato, só três reais”. O feirante Paulo Martinez, 58, se esforça, mas poucos fregueses se animam a comprar tomate “vermelhinho e bom pra molho” na feira livre da rua Catapará, na Vila Guilherme, zona norte de São Paulo.
A tradicional feira, instalada no local desde a década de 1950, tem encolhido em ritmo acelerado, com menos barracas e opções para os clientes. Mesmo no fim da feira, a popular “hora da xepa”, quando os preços caem, o movimento continua desanimador.
Poucas barracas sobrevivem à decadência generalizada. Banca de ovos não tem, de peixe também não. Segundo a prefeitura, essa feira tem “35 permissionários”, mas a realidade é diferente. O Mural visitou o local e contou apenas 19 bancas distribuídas em 100 metros de comprimento. No passado, chegou a ter o triplo do tamanho, de acordo com os moradores.
A dona de casa Juracy Potenza, 77, atendeu aos apelos do feirante Paulo e comprou tomates “para o molho da macarronada de domingo”. Cliente da feira Catapará desde a instalação, ela relembra, saudosa: “minha filha brincava de se esconder debaixo das bancas”. Dona Juracy acredita que a existência de muitas feiras próximas provoca a queda de movimento. Com uma pequena sacola na mão, a também dona de casa Wilma Ortiz, 70, se diz fã incondicional das feiras. “Vou a várias, toda semana, mas nesta faltam opções. Onde tem concorrência, tem preço mais baixo”, decreta.
Apenas o paulistaníssimo pastel ainda atrai clientes por lá. Alexandre Nishimura, 39, de antiga família do ramo, decidiu seguir a profissão dos pais e vende pastel há oito meses nessa feira. Jovem, em relação aos demais donos de bancas, ele justifica a escolha. “Já vi feirantes desistindo, mas nasci no pastel e vou continuar”, diz. Já a outra pasteleira da feira, Ana Paula Minei, 40, culpa a “crise econômica” pela situação.
Uma das soluções apontadas para o problema seria a instalação de feiras noturnas. Onze delas já funcionam em bairros da periferia de São Paulo*, além de outras em espaços internos de condomínios, das 16h às 22h, com sucesso. O pasteleiro Alexandre apoia a ideia. “A feira perdeu os clientes mais jovens. Hoje, o casal trabalha o dia inteiro e procura outras opções e horários para abastecer a geladeira”, analisa.
A secretaria municipal de Desenvolvimento, Trabalho e Empreendedorismo afirma saber da queda de movimento das feiras livres. Para a secretaria, o fato pode ser explicado “pela instalação de comércios do tipo sacolão e mercados ou pela perda do costume dos moradores”. Sobre a falta de bancas vendendo produtos essenciais, o órgão alega que, “se for constatada necessidade, a vaga fará parte do próximo edital. Caso contrário, a feira é compactada para não haver lacunas”. A entidade revela ainda que tem o “plano de reorganizar todas as feiras da cidade, conforme a necessidade da região”.
Sidney Pereira, 60, é correspondente de Vila Maria
@sidneypereira00
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