Mural https://mural.blogfolha.uol.com.br Os bastidores do jornalismo nas periferias de SP Mon, 27 Dec 2021 13:12:41 +0000 pt-BR hourly 1 https://wordpress.org/?v=4.7.2 MC Mineiro era conhecido nas batalhas de rimas em Itaquaquecetuba e nos trens da CPTM https://mural.blogfolha.uol.com.br/2019/12/18/mc-mineiro-era-conhecido-nas-batalhas-de-rimas-em-itaquaquecetuba-e-nos-trens-da-cptm/ https://mural.blogfolha.uol.com.br/2019/12/18/mc-mineiro-era-conhecido-nas-batalhas-de-rimas-em-itaquaquecetuba-e-nos-trens-da-cptm/#respond Wed, 18 Dec 2019 10:59:14 +0000 https://mural.blogfolha.uol.com.br/files/2019/12/71175329_540740756672327_7042340594435280315_n-320x213.jpg https://mural.blogfolha.uol.com.br/?p=17124 Lucas Landin

Todos os dias, os trens da linha 12 da CPTM estão abarrotados de gente. São, em grande maioria, trabalhadores do comércio oriundos de Itaquaquecetuba, Poá ou do extremo leste da capital, acostumados a atravessar mais de 20 quilômetros para chegar ao trabalho. 

Essa era a plateia diária de Guilherme Rodrigues, o MC Mineiro, 23, que morreu no último domingo (15), ao cometer suicídio.

De vagão em vagão da CPTM, Mineiro ganhava a vida apresentando rimas e poesias desde 2017. O jovem, morador da Vila Monte Belo, em Itaquaquecetuba, na Grande São Paulo, transformou a arte em instrumento de trabalho.

Além dos trens, o MC também se apresentava com frequência nas batalhas de rap da Grande São Paulo. Inclusive, foi o vencedor da última que participou, a 53ª edição da Batalha Olhai por Nós, em Cidade Patriarca, zona leste da capital.

MC Mineiro participava de batalhas em Itaquá (Arquivo Pessoal)

Aos poucos, ganhou fama e respeito entre muitos jovens da região metropolitana. Apenas no Instagram, Mineiro tinha mais de 10 mil fãs. 

A morte precoce de Mineiro causou comoção em Itaquaquecetuba, onde vivem boa parte dos seus admiradores. “Só quero lembrar das vezes que o vi feliz, rimando pelos vagões”, desabafa uma fã. 

Amigo e colega de batalhas de rap de Mineiro, Gabriel Salvador, o Salvador da Rima, também expressou o luto pelas redes sociais. “Te amo meu mano, e sempre vou levar você comigo”, escreveu.

Também nas redes, fãs do MC se organizaram para criar um grito a ser entoado nas próximas batalhas: “Que da tristeza e do ódio a poesia nos livre. Mineiro, vive!”.

Mineiro sofria depressão, e encontrou nas rimas uma forma de externalizar parte do sofrimento que sentia. Muitos de seus textos abordavam temas relacionados à doença, como crises e questionamentos existenciais. “Somente depois que todos dormiram, eu consegui chorar e dizer que te amo”, dizia um de seus versos.

Em 2017, aos 21 anos, o MC começou a escrever o primeiro e único livro, Diário de um Suicida, no qual descreve o seu processo de depressão, e como ele influenciou na relação com a família e amigos.

O enterro do MC foi realizado na segunda-feira (16), na zona norte da capital.

SERVIÇO:

Se você precisa de ajuda ou conhece alguém que precise, entre em contato:

Serviços de saúde
CAPS e Unidades Básicas de Saúde (Saúde da família, Postos e Centros de Saúde).

Centro de Valorização da Vida – CVV
Ligue: 188 ou acesse o chat online: www.cvv.org.br

Serviços de Emergência
SAMU: 192

Lucas Landin é correspondente de Itaquaquecetuba

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Crise na Bolívia causa mobilização nas redes sociais em Itaquaquecetuba https://mural.blogfolha.uol.com.br/2019/11/18/crise-na-bolivia-causa-mobilizacao-nas-redes-sociais-em-itaquaquecetuba/ https://mural.blogfolha.uol.com.br/2019/11/18/crise-na-bolivia-causa-mobilizacao-nas-redes-sociais-em-itaquaquecetuba/#respond Mon, 18 Nov 2019 19:45:28 +0000 https://mural.blogfolha.uol.com.br/files/2019/11/WhatsApp-Image-2019-11-18-at-16.31.16-320x213.jpeg https://mural.blogfolha.uol.com.br/?p=16999 Lucas Landin

Desde domingo (10), grupos de rede sociais da comunidade boliviana em Itaquaquecetuba, na Grande São Paulo, estão em polvorosa. Multiplicam-se os vídeos, fotos e memes sobre a crise política que atingiu o país vizinho.

A maioria dos posts são com mensagens a favor do ex-presidente Evo Morales, do partido MAS (Movimento ao Socialismo), que renunciou no dia 10. Nos posts, denúncias de que a Bolívia passa por um golpe de Estado.

“Vamos ao consulado mostrar apoio ao presidente [Evo], irmãos”, chama um dos membros de um grupo no Facebook, com quase 1.700 membros. 

Nas últimas eleições presidenciais bolivianas, Itaquá foi uma das 11 cidades brasileiras a ter um colégio eleitoral. A cidade tem regiões como o bairro Parque Viviane II, com forte presença de imigrantes do país vizinho.

No município, Evo Morales venceu com folga segundo o TSE (Tribunal Superior Eleitoral) boliviano. Recebeu ali 608 votos (72,64% do total). O principal opositor, Carlos Mesa, recebeu 35 votos (4,18%), e amargou o terceiro lugar no município. Doutor Chi (PDC) ficou com 179 votos. 

Rua Santa Luzia concentra presença de imigrantes (Lucas Landin / Agência Mural / Folhapress)

O resultado foi semelhante ao visto na soma das cidades da Grande São Paulo em que houve votação.

Além de Itaquá, São Paulo, Guarulhos, Carapicuíba e Mauá tiveram zonas eleitorais para a escolha. Segundo as atas eleitorais, Evo recebeu 21 mil votos (70%) nas cinco cidades, seguido de Doutor Chi com 5 mil (16%) e de Carlos Mesa, 2,6 mil (8%). 

As últimas eleições, que ocorreram em outubro, foram o estopim da forte crise política que o país vive desde então. 

Com indícios de fraude apontados pela OEA (Organização dos Estados Americanos), a eleição passou a ser questionada pela oposição, que não aceitou o resultado que indicou vitória de Morales ainda em primeiro turno. Evo tentou o quarto mandato.

Sob fortes protestos e pressão do Exército, Evo renunciou assim como o vice-presidente, Álvaro Linera. 

Publicação no grupo do Jardim Viviane, no Facebook (Reprodução)

Com uma nação dividida entre apoiadores e opositores do ex-presidente, quem assumiu o governo foi a senadora opositora Jeanine Áñez, segunda presidente do Senado boliviano, e autoproclamada presidente interina do país. Todo o processo vem sendo denunciado por Morales como “golpe de Estado”.

“Acredito sim que foi um golpe”, afirma a estudante Nayeli Oblitas, 18, umas da eleitoras do ex-presidente no último pleito. Ela disse ter votado em Evo por conta das bandeiras contra a desigualdade. 

Nayeli veio para o Brasil ainda na infância. Conta que a família deixou o país vizinho por conta da pobreza. Ela não pensa em voltar, mas tem preocupação com familiares que seguem no país.  

A estudante diz que o sentimento é de preocupação, seja sobre o futuro do país de origem, seja com parte da família, que ainda vive por lá. “Em nossa comunidade, a maior preocupação é com nossos parentes, que estão lá lutando para defender o nosso país”.

Evo Morales assumiu a presidência da Bolívia em 2006, e foi o primeiro presidente de origem indígena. Teve um governo marcado pelo crescimento econômico e pela queda de desigualdade. Porém, recebia críticas por tentar seguir no poder após 13 anos seguidos.

Ele tentava o quarto mandato, o que é proibido pela Constituição. Mesmo assim, teve aval judicial para concorrer por ser cidadão boliviano, o que ampliou as tensões no país.

Lucas Landin é correspondente de Itaquaquecetuba

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Itaquaquecetuba completa 459 anos sem festas e com comemoração discreta https://mural.blogfolha.uol.com.br/2019/09/06/itaquaquecetuba-completa-459-anos-sem-festas-e-com-comemoracao-discreta/ https://mural.blogfolha.uol.com.br/2019/09/06/itaquaquecetuba-completa-459-anos-sem-festas-e-com-comemoracao-discreta/#respond Fri, 06 Sep 2019 21:44:05 +0000 https://mural.blogfolha.uol.com.br/files/2019/09/Desfile-2017-320x213.jpg https://mural.blogfolha.uol.com.br/?p=16712 Lucas Landin

Sem festa. É assim que Itaquaquecetuba, na Grande São Paulo, vai comemorar os seus 459 anos de fundação neste domingo (8). Segundo a Prefeitura, apenas uma exposição de carros antigos está prevista para a data.

Para o resto do mês, a Prefeitura chegou a divulgar um calendário especial de atividades, mas poucas delas possuem caráter comemorativo. Na lista, constam inaugurações de obras, como a do auditório da Secretaria Municipal de Educação, cursos de capacitação, e até a Marcha para Jesus realizada na cidade.

Quando assumiu como prefeito em 2013, Mamoru Nakashima (PSDB) resolveu cortar parte das festividades de aniversário do município. A justificativa era que a verba destinada para as comemorações poderia ser gasta em outras áreas, como a saúde.

“Essa atitude possui significado simbólico importante. A ausência de um calendário cultural, que conceba também a comemoração de sua fundação, me parece um sintoma de descaso”, afirma a historiadora Diana Costa, que se dedica a pesquisar a história do município. 

Para a historiadora, a falta de investimentos na área cultural acentua o distanciamento que os cidadãos têm com o município, já que boa parte dos moradores o utilizam apenas como cidade-dormitório, ou seja, possuem residência em Itaquá, mas trabalham, estudam e têm a vida social em outros municípios. 

“E a consequência mais grave deste distanciamento é a ignorância gerada pelo desconhecimento do indivíduo sobre sua própria realidade”, comenta.

A primeira festividade a ser encerrada pela prefeitura foi a Festa do Peão de Boiadeiro, ainda em 2013. O evento, que recebia grandes cantores como Michel Teló e Ivete Sangalo, fez parte do calendário da cidade por 14 anos e chegou a receber 900 mil visitantes em sua penúltima edição.

Em 2018, foi cortado também o tradicional Desfile Cívico, uma comemoração conjunta de aniversário da cidade e de Independência do Brasil. O evento contava com apresentações da Guarda Municipal, da Polícia Militar, e de setores da comunidade, como fanfarras de escola. Nesse ano, havia expectativa de que ele voltasse a compor o calendário de festividades, o que não ocorreu.

A consultora de investimentos Danila Perine, 37, participava do desfile todo ano com a família, e se diz desapontada. “Itaquá já não tem muitas coisas referente à educação, então o desfile era importante para um ensino de questões como ética, cidadania, símbolos patrióticos e culturais”, argumenta.

Vista da estação Itaquaquecetuba da CPTM (Lucas Landin/Agência Mural/Folhapress)

APAGAMENTO DA HISTÓRIA

A cidade, fundada pelo padre José de Anchieta no século XVI, fez parte da vizinha Mogi das Cruzes até 1953, quando conseguiu a sua emancipação. A partir de então, se industrializou e virou moradia de centenas de migrantes, sobretudo nordestinos, que vinham para o estado de São Paulo à procura de emprego na área industrial.

Dentre a programação de aniversário, apenas uma atividade será voltada para contar a história do município: uma exposição sobre os 459 anos será montada no Museu Municipal a partir do dia 18.

Diana argumenta que essa atitude ajuda no processo de apagamento da memória da cidade, que também acentua o distanciamento dos moradores, causando um prejuízo em termos de representatividade e de sentimento de pertencimento à comunidade.

“A partir desta realidade, é possível compreender como uma cidade tão plural e diversificada sustenta preconceitos contra suas minorias”, afirma.

A Prefeitura de Itaquaquecetuba foi procurada para comentar as mudanças nas comemorações, mas não se pronunciou.

Lucas Landin é correspondente de Itaquaquecetuba e Poá

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Imigrantes mantêm cultura boliviana em Itaquaquecetuba https://mural.blogfolha.uol.com.br/2019/08/26/imigrantes-mantem-cultura-boliviana-em-itaquaquecetuba/ https://mural.blogfolha.uol.com.br/2019/08/26/imigrantes-mantem-cultura-boliviana-em-itaquaquecetuba/#respond Mon, 26 Aug 2019 15:44:23 +0000 https://mural.blogfolha.uol.com.br/files/2019/08/2_imigracaoboliviana_itaquaquecetuba_blogmural_lucaslandin-320x213.jpg https://mural.blogfolha.uol.com.br/?p=16681 Lucas Landin

Quem anda pela rua Santa Luzia, no Parque Viviane II, em Itaquaquecetuba, Grande São Paulo, pode imaginar que está em território boliviano. Ali, o país vizinho está presente em todo lugar: nas bandeiras, no idioma falado e nos traços dos moradores.

Há cinco anos, a rua se tornou o lar de mais de setenta imigrantes da Bolívia, em sua maioria, oriundos da cidade de La Paz. O costureiro Walter Sinka, 42, se orgulha de ser um dos fundadores da comunidade.

“Eu morava lá no Brás [zona leste de São Paulo], mas o aluguel era muito caro. Então um conhecido disse: ‘tem um terreno vazio lá em Itaquaquecetuba e que cabe no seu orçamento’. Não pensei duas vezes”, lembra.

Walter chegou ao Brasil em 1997, quando ainda tinha 20 anos de idade. O rapaz estava fugindo da pobreza que atingia o seu país. “Era a época em que a Bolívia era um dos países mais pobres do mundo. Que futuro havia para um jovem ali?”. Hoje, garante que a situação por lá é outra. “Desde o governo Evo [Morales, que governa o país de 2006], a Bolívia passou a crescer. Hoje eu tento trazer  jovens de lá para trabalhar aqui comigo, mas não acho”, brinca.

Após a chegada do costureiro, outros bolivianos também se mudaram para o bairro. “Foi passando de boca em boca. E foi bem melhor, porque aqui cuidamos uns dos outros, evitando até mesmo a exploração e casos de racismo”, comenta. 

Unidos, os imigrantes construíram boa parte da infraestrutura do local. Em mutirão, fizeram o calçamento da rua, o encanamento de água e esgoto, uma quadra de futebol, e até construíram um portal de entrada, que acabou cedendo durante uma forte chuva.

“Não esperamos pela Prefeitura. Fizemos tudo aqui unidos e estamos orgulhosos de nossa rua”, conta a costureira Zaida Flores, 40.

Zaida Flores e Walter Sinka na festa de comemoração de cinco anos da rua Santa Luzia (Lucas Landin / Agência Mural / Folhapress)

COTIDIANO

Os imigrantes que moram na rua Santa Luzia trabalham no comércio e no setor têxtil, em oficinas de costura caseiras. Os produtos confeccionados ali continuam sendo vendidos na Feira da Madrugada, em São Paulo.

Vizinhos, os brasileiros da região veem com bons olhos a chegada dos “hermanos”. “Eles ajudaram a dinamizar o comércio do bairro. E posso dizer que, aqui na escola, os jovens bolivianos são aplicados e têm um rendimento alto”, afirma Ronimar Brito, 31, coordenador pedagógico da escola estadual Parque Viviane.

No dia 17 de agosto, a comunidade comemorou o aniversário de cinco anos da rua. Com comidas típicas, danças, inclusive ao som do moderno reggaeton, os bolivianos celebraram a união.

“Hoje, 99% dos moradores daqui são da Bolívia. Será que vamos chegar nos 100%?”, questiona Walter.

Lucas Landin é correspondente de Poá e Itaquaquecetuba

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Em Itaquaquecetuba, vereadores dão metade das homenagens para políticos ‘forasteiros’ https://mural.blogfolha.uol.com.br/2019/05/28/em-itaquaquecetuba-vereadores-dao-metade-das-homenagens-para-politicos-forasteiros/ https://mural.blogfolha.uol.com.br/2019/05/28/em-itaquaquecetuba-vereadores-dao-metade-das-homenagens-para-politicos-forasteiros/#respond Tue, 28 May 2019 19:54:37 +0000 https://mural.blogfolha.uol.com.br/files/2019/05/FB_IMG_1559056347749-320x213.jpg https://mural.blogfolha.uol.com.br/?p=16255 Lucas Landin

O deputado federal Marco Bertaiolli (PSD) constituiu a vida política em Mogi das Cruzes, na Grande São Paulo, onde foi prefeito por duas vezes. Mas recebeu ano passado um agrado da cidade vizinha de Itaquaquecetuba, onde a Câmara Municipal resolveu homenagear o parlamentar com o título de cidadão municipal.

Ele não foi o único. Bertaiolli foi um dos 13 agraciados com o título de “Cidadão Itaquaquecetubense”, concedido pelos vereadores da cidade do Alto Tietê. O ex-prefeito foi o quinto mais votado para a Câmara Federal no município com 5.604 votos.

Esse tipo de homenagem a políticos que disputariam a eleição foi comum no ano passado. Mais da metade das honrarias foram entregues a políticos de fora do município e nem sempre com uma clara ligação do que fizeram pela região.

Além do ex-prefeito mogiano, outros seis “forasteiros” foram contemplados: os deputados federais Alex Manente (PPS) e Samuel Moreira (PSDB); os estaduais Estevam Galvão (DEM), Luiz Gondim (SD) e Marcos Damásio (PR); e a engenheira Juliana Cardoso (PR). Todos concorreram a cargos eletivos em 2018.

Esse tipo de homenagem tem um custo. A Câmara de Itaquaquecetuba informou que para cada placa de bronze, entregue aos homenageados, foi gasto R$ 635.

Só em 2018 foram R$ 8,2 mil com a concessão dos 13 títulos. Numa legislatura de quatro anos, se o número de homenageados for mantido, esse valor pode chegar até R$ 33 mil.

Ex-prefeito de Registro, o deputado Samuel Moreira também recebeu título ano passsado (Divulgação/Câmara Municipal de Itaquaquecetuba}

LEGISLAÇÃO

De acordo com a Lei Orgânica do Município, a honraria pode ser entregue à qualquer cidadão, desde que ele tenha, comprovadamente, prestado serviços relevantes à cidade. A concessão é feita mediante decreto, aprovado por, no mínimo, dois terços dos vereadores.

Bertaiolli recebeu o título no mesmo dia que Damásio, também mogiano. A homenagem para os dois foi proposta pelo vereador Carlos Alberto Santiago (PSD). Ao receber o título, os deputados disseram que irão buscar ajudar a cidade no parlamento.

“Acho ridículo essas concessões. O título deveria ser entregue para quem fez algo pela cidade, para motivar as pessoas a fazerem algo pela cidade”, desabafa a ativista Ana Mattos, 26, moradora de Itaquá há três anos. “Minha esposa Renatta Kelly, por exemplo, é promotora legal e tem um histórico de militância na cidade. Já prometeram para ela um título de cidadã, mas nunca cumpriram”.

Para alguém receber esta honraria, cabe aos vereadores entrar com a proposta na Casa e conseguir convencer dois terços dos colegas.

Plenário da Câmara de Itaquaquecetuba em dia de sessão (Lucas Landin/Agência Mural/Folhapress)

Outro parlamentar a ser homenageado foi o tucano Samuel Moreira, indicado para receber a honraria pela vereadora Adriana Félix (PSDB), um mês antes do início da campanha eleitoral. Samuel constituiu a carreira política em Registro, no interior de São Paulo, foi duas vezes deputado estadual e está no segundo mandato federal.

Na propositura apresentada por Adriana, não consta a comprovação de que Moreira tenha prestado serviços relevantes para Itaquá. A Casa afirmou na época que o deputado atuou “no apoio ao andamento dos trabalhos e projetos na esfera federal, quanto à contenção de enchentes no município”.

Atualmente, o parlamentar é o relator da reforma da Previdência na Câmara dos Deputados.

O título entregue para Juliana Cardoso, candidata a deputada federal nas eleições passadas, também não teve justificativa apresentada. Moradora de Suzano, Juliana nunca ocupou um cargo público. É filha do empresário José Cardoso, sócio da Empreiteira Pajoan, responsável pelo aterro de lixo homônimo na periferia de Itaquá.

Além dos políticos de fora da cidade, cinco moradores de Itaquá também tiveram seus títulos aprovados: o ex-secretário municipal de transportes Dalton Dename, a diretora de escola Valdelice Tonhá, o empresário Sebastião Soares, a professora Verônica Cosmo, e o policial militar Anderson Lima.

Morador da capital, o filantropo Lin Shing completa a lista de homenageados do ano passado.

Passada a eleição, contudo, o ímpeto homenageador dos parlamentares parece ter sido freado.

Neste primeiro semestre de 2019, a Câmara de Itaquá indicou apenas duas personalidades para receber o título de cidadão: o empresário Christhian Cimino e o padre Wally Soares, ambos moradores do município.

O padre ainda aguarda a votação enquanto Cimino teve a homenagem derrubada na votação dos vereadores.

Lucas Landin é correspondente de Itaquaquecetuba
lucaslandin@agenciamural.org.br

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Manhã de greve tem escolas fechadas em ao menos 14 cidades da Grande SP https://mural.blogfolha.uol.com.br/2019/05/15/manha-de-greve-tem-escolas-fechadas-em-14-cidades-da-grande-sp/ https://mural.blogfolha.uol.com.br/2019/05/15/manha-de-greve-tem-escolas-fechadas-em-14-cidades-da-grande-sp/#respond Wed, 15 May 2019 16:50:40 +0000 https://mural.blogfolha.uol.com.br/files/2019/05/WhatsApp-Image-2019-05-15-at-12.34.25-320x213.jpeg true https://mural.blogfolha.uol.com.br/?p=16217 A manhã desta quarta-feira (15) teve escolas fechadas, dúvidas dos pais e mobilização de alunos e educadores nas periferias de São Paulo e da região metropolitana.

A paralisação dos professores atingiu ao menos 14 cidades da Grande São Paulo, segundo levantamento da Agência Mural.

Biritiba-Mirim, Carapicuíba, Cotia, Diadema, Embu-Guaçu, Franco da Rocha, Guararema, Guarulhos, Itaquaquecetuba, Mairiporã, Mogi das Cruzes, Osasco, São Bernardo do Campo, Vargem Grande Paulista, além da própria capital, tiveram interrupção das aulas. Parte dos moradores irá para a avenida Paulista nesta tarde. 

Na região do Parque Cisper, em Ermelino Matarazzo, a escola João Franzolin Neto teve paralisação de 60% dos professores. Na escola municipal Rosângela Rodrigues Vieira, 90% pararam.

Na Brasilândia, zona norte, a escola Hélio Heber Lino teve aula de apenas dois professores em sala de aula, enquanto na CEI Jardim Dionísio, no Jardim Ângela, zona sul, a unidade funcionou até 11h.

“Minha filha de oito anos, que estuda na escola estadual Jardim Aurora, não teve aula. Me prejudicou no que tinha para fazer hoje e também não vai ter balé no CEU Jambeiro”, disse Kátia Figueiredo Lima, 43, moradora de Guaianases, na zona leste.

Professora da escola estadual Aurélio Campos, em Interlagos, na zona sul, Claudia Maria Luciano, 57, afirma que a redução de recursos no ensino superior afeta também o ensino de base.

“A educação básica depende fundamentalmente das pesquisas que são feitas nas universidades públicas. Tudo o que é feito para a melhoria do conhecimento está dentro das universidades. Indiretamente quem acaba sendo prejudicado com isso é a educação básica”, afirma.

Escola sem aulas em Mairiporã (Humberto Muller/Agência Mural/Folhapress)

“Este é o primeiro momento que os agentes da educação estão se mobilizando contra este governo, que tem um discurso anti-intelectual e anti-conhecimento”, diz o professor Raimundo Justino, de Ermelino Matarazzo, na zona leste.

“Já tivemos muitos governos que trataram a educação com descaso, mas esse a trata como inimiga”, opina o educador.

GRANDE SP

Até a noite desta terça-feira (14) escolas de ao menos oito cidades haviam aderido, mas outros municípios também tiveram paralisações na manhã de hoje.

Em Franco da Rocha, na região norte da Grande São Paulo, ao menos quatro escolas tiveram paralisação completa, caso das municipais José Augusto Moreira – Estância Lago Azul, Arnaldo Guassieri, na Vila Lanfranchi, a Egydio José Porto, no Parque Vitória, e a escola estadual Luiz Alexandre, no Jardim dos Bandeirantes.

A informação passada pela coordenadora é de que 90% dos colégios tiveram suspensão parcial ou total das aulas. Na rede municipal, a prefeitura informou que 18 escolas registram paralisação total; 24 com paralisação parcial; 10 funcionam normalmente. Situação parecida vive a cidade vizinha de Mairiporã.

“Na escola da minha filha foi avisado via agenda e o professor reforçou pelo Whatsapp”, diz o autônoma Giselle Guidoni Carvalho, 33. A filha dela estuda na escola municipal Muffarege Salomão Chamma.

“Todos têm o direito de protestarem e paralisarem suas funções em decorrência de uma reivindicação. Entretanto, não existe uma outra solução, pelo menos nos meios em que pesquisei, que solucione a questão da previdência”, diz Giselle.

A auxiliar de farmácia Keiti Moraes Ferraz, 26, tem um filho que estuda na escola Nicolau Pinto da Silva, colégio que também teve aulas paralisadas. “Não me afetou. Super apoio a manifestação dos professores. Inclusive, queria ir participar”, diz Keiti.

Havia um cartaz colado na porta da escola com a informação sobre o funcionamento nesta quarta.

Em Guarulhos, município de 1,3 milhão de habitantes, a informação é de que 119 escolas municipais tiveram paralisação das aulas. A prefeitura de Guarulhos não confirmou a quantidade.

Manifestantes caminharam até a prefeitura em São Bernardo (Cadu Bazilevsky)

No Alto Tietê, de acordo com o Sindicato dos Professores do Ensino Oficial do Estado de São Paulo (Apeoesp), 23 escolas não têm aulas em Mogi das Cruzes. Segundo a entidade, em Biritiba Mirim as três escolas estaduais da cidade funcionam apenas parcialmente. Em Guararema, das seis escolas estaduais, a Apeoesp estima que a paralisação está em 60%.

Em São Bernardo do Campo, os professores caminharam da praça Santa Filomena até o Paço municipal. Em meio ao protesto, houve também reivindicações sobre a educação local.

A professora Andrea Rocha, 46, da rede municipal, dá aula para o quinto ano do ensino fundamental na Emeb Olegário José Godoy, no bairro Montanhão. Ela critica o modelo implantado no colégio.

“Não é uma escola integral, é de tempo integral. [A prefeitura] pegou a escola e colocou os alunos ali dentro. Só que a escola não tem estrutura para receber essas crianças. Não tem quadra, não tem biblioteca, é um computador para cada três crianças”, diz Andrea.

Da Agência Mural: Paulo Talarico, Priscila Pacheco, Rafael Balago, Aline Venâncio, Humberto Muller, Jariza Rugiano, Jéssica Silva, Leticia Marques, Lucas Veloso, Micaela Santos, Thalita Monte Santo.

 

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Itaquaquecetuba entrega kits escolares com atraso e há três anos não oferece uniforme https://mural.blogfolha.uol.com.br/2019/05/06/prefeitura-de-itaquaquecetuba-entrega-kits-escolares-com-atraso-e-ha-tres-anos-nao-oferece-uniforme/ https://mural.blogfolha.uol.com.br/2019/05/06/prefeitura-de-itaquaquecetuba-entrega-kits-escolares-com-atraso-e-ha-tres-anos-nao-oferece-uniforme/#respond Mon, 06 May 2019 12:44:54 +0000 https://mural.blogfolha.uol.com.br/files/2019/05/7.-Elaine-e-a-neta-Sophia-após-a-entrega-do-kit-escolar-na-Emeb-Joaquim-Perpétuo-320x213.jpg https://mural.blogfolha.uol.com.br/?p=16155 Jéssica Lima

As aulas da rede municipal de ensino de Itaquaquecetuba, na Grande São Paulo, começaram no dia 5 de fevereiro. Mas a prefeitura só começou a entregar os kits escolares em meados de abril – 70 dias após o início do ano letivo – e segue sem oferecer os uniformes aos alunos pelo terceiro ano consecutivo.

Ao todo, 40 mil crianças de 57 escolas que compõem a rede de educação infantil e do ensino fundamental 1 foram prejudicadas com o atraso. A entrega em alguns casos coube ao próprio prefeito, Mamoru Nakashima (PSDB), que gravou vídeos no Facebook para divulgar a ação.

Mamoru esteve em seis colégios entre os dias 15 e 17 de abril para fazer a entrega dos kits junto a alguns vereadores. O prefeito culpou “problemas que não dependiam muito da prefeitura” pelo atraso, que seriam de caráter técnico e logístico.

No ato, ele também fala aos alunos. “Esse material, cuida com carinho porque foi difícil da gente conseguir, mas está aqui. Nada de fazer orelha nesses cadernos. Orelha já basta a que a gente tem”, brincou o prefeito. “Vocês prometem que vão cuidar bem?”

PESOU NO BOLSO

A entrega dos materiais não é obrigatória, mas se tornou comum no município e é considerado um dos investimentos na educação.

“Muitas crianças não têm condições de comprar material”, diz a manicure Bianca Benvindo Silva, 30, mãe da estudante Brenda Gabrielly Benvindo de Souza, 6, da Emeb (Escola Municipal de Ensino Básico) Doutor Charles Henry Tyler Townsend, no Jardim Nápoli I.

Alguns dos pais ouvidos pela Agência Mural contaram ter pago ao menos R$ 70 com materiais básicos como caderno, lápis, borracha, lápis de cor, cola e tesoura.

 

Josilaine gastou R$ 140 com a compra dos materiais do filho Carlos e da enteada Mikaely (Jéssica Lima/Agência Mural/Folhapress)

Quem tem mais de um filho matriculado na rede sentiu ainda mais no bolso, como a dona de casa Josilaine Almeida Antônio, 29. O filho Carlos Eduardo Silva Feitosa e a enteada Mikaely Nascimento Souza, ambos de 10 anos, estudam na Emeb Joaquim Perpétuo, no Jardim Itaquá.

“São R$ 140 gastos com material que eu poderia ter empregado em outra coisa. A prefeitura deveria entregar no início das aulas”, disse a mãe. “Sobraram materiais do ano passado e eu guardei, então fui usando este ano”, contou Carlos, do 5º ano.

Outros pais também reaproveitaram as sobras, como a dona de casa Patrícia Aparecida Maranho, 27, que é mãe da estudante Ana Nicolly Maranho da Costa, 5. Desempregada, ela conta que se não tivesse feito isso, passaria por um aperto. “Se tivesse atrasado um mês, a gente improvisava, mas dois meses e meio não têm condições.”

“Todo ano atrasa, mas este ano foi demais”, reclamou a costureira Jéssica Dorico Chrisostomo, 30, que é mãe dos estudantes André Luís Pereira Santos Júnior, 7, e Murilo Pereira Santos, 4, da escola Professor Michel Alves de Souza, no Jardim Maragogipe. Ela gastou R$ 130 na compra de materiais para os dois.

Apesar da insatisfação com o atraso, os pais elogiaram a qualidade dos materiais.

Rosimeire com o filho Guilherme após entrega do kit na Emeb Joaquim Perpétuo (Jéssica Lima/Agência Mural/Folhapress)

UNIFORMES

“E os uniformes, senhor prefeito?” foi o segundo assunto mais comentado nas postagens de Mamoru sobre a entrega dos kits. Há três anos a Prefeitura de Itaquá não fornece os uniformes escolares aos alunos. A gestão afirma que houve cortes em repasses de recursos do governo federal e estadual, o que impediu a compra em 2017 e 2018.

“Seria tão bom se entregassem os uniformes também. As crianças iam sujar menos roupas”, disse a dona de casa Rosimeire Ferreira de Oliveira, 30, mãe do estudante Guilherme Ferreira de Oliveira, 5, da Emeb Joaquim Perpétuo.

“Este é o segundo ano da minha neta na escola e nunca ouvi falar de uniforme”, contou a dona de casa Eliane Almeida Antônio, 43, que cuida da neta Sophia Vitória Antônio Izídio, 5.

André e Murilo foram estudar no dia 24 de abril, na Emeb Prof. Michel, com camiseta de super-heróis. “A gente vai se virando com o que tem”, disse a mãe.

Patrícia com a filha Ana. Há três anos não há uniformes disponibilizados pela gestão (Jéssica Lima/Agência Mural/Folhapress)

PREFEITURA

Por meio de nota, a Prefeitura de Itaquaquecetuba disse que o atraso dos kits aconteceu devido ao processo licitatório e o processo de montagem dos materiais, que chegaram separadamente, “pois a compra é realizada por itens, sempre com o menor preço e a melhor qualidade”.

A nota diz ainda que neste ano também foi entregue material aos professores, uma novidade no município, e que as entregas foram concluídas no dia 24 de abril.

Sobre os uniformes, a gestão de Mamoru Nakashima disse que estão em processo licitatório e que poderá ser entregue ainda este ano, caso a “burocracia” não atrapalhe, e que a Secretaria de Educação está providenciando o início da medição do tamanho das roupas dos alunos.

Jéssica Lima é correspondente de Itaquaquecetuba
jessicalima@agenciamural.org.br

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Bairros de Itaquaquecetuba estão alagados há mais de dois meses https://mural.blogfolha.uol.com.br/2019/03/26/bairros-de-itaquaquecetuba-estao-alagados-ha-mais-de-dois-meses/ https://mural.blogfolha.uol.com.br/2019/03/26/bairros-de-itaquaquecetuba-estao-alagados-ha-mais-de-dois-meses/#respond Tue, 26 Mar 2019 17:38:51 +0000 https://mural.blogfolha.uol.com.br/files/2019/03/Foto-1-320x213.jpg https://mural.blogfolha.uol.com.br/?p=15925 Lucas Landin

Desde o fim da janeiro, os bairros de Vila Sônia, Maria Augusta e Vila Japão, em Itaquaquecetuba, na Grande São Paulo, estão alagados.

Na época de verão, é comum que ocorram transbordamentos no rio Tietê, que margeia a região. Mas, desta vez, dois meses se passaram sem o escoamento da água.

“Não baixou em nenhum momento. Se a água baixa 10 cm, no outro dia aumenta 25 cm”, afirma o preparador de máquinas Paulo Cardoso, 28, que mora há mais de 20 anos na Vila Maria Augusta.

Cardoso comenta que nunca viu uma enchente durar tanto tempo. “A cada dia que passa, a gente fica mais apreensivo com essa situação. A gente não sabe se, quando voltar do trabalho, nossa casa vai estar inundada ou não”.

Na Vila Sônia, a situação é semelhante. A professora Íris Oliveira, 28, sempre morou no bairro, e não tem lembranças de um período tão prolongado de alagamento.

“A água não está escoando. Está num estado de total insalubridade, pois como a água está parada há muito tempo, está ficando esverdeada e cada vez mais nojenta”, lamenta.

Ruas da Vila Sônia, em Itaquaquecetuba, alagadas há mais de dois meses (Íris Oliveira/Acervo Pessoal)

Para evitar o contato com a água suja, os moradores improvisaram e colocaram algumas estruturas de madeira sobre a via. “Mas se é uma pessoa mais idosa, fora de cogitação passar sobre a estrutura, porque vai cair”, constata Íris.

Com as ruas inundadas, os moradores também tiveram que alterar a rotina. “Agora andamos com um par de meias extra, para trocar na estação de trem, se molhar. Alguns vão de bota, e na estação trocam pelo calçado de trabalho”, diz o auxiliar administrativo Ariel Oliveira, 22.

Em vias importantes da cidade como as avenidas Vital Brasil e Almiro Leal, a prefeitura está utilizando bombas d’água para evitar o interrompimento do tráfego de veículos. Ainda assim, a avenida Almiro Leal ficou interditada durante parte da semana passada, o que causou congestionamentos na área central do município.

“Para chegar do centro até o hospital Santa Marcelina, foi coisa de uma hora. Com a avenida [Almiro Leal] fechada, estava impossível de pegar corridas aqui na região de Itaquá”, conta Robson Junior, 29, motorista de um aplicativo de transportes.

Também há dificuldade para acessar os trens da linha 12-safira da CPTM. Com as interdições, os moradores trocaram a estação Itaquaquecetuba, no centro, pela estação Engenheiro Manoel Feio, que fica mais distante.

“Como não conseguimos mais chegar no centro de Itaquá, nem a pé e nem de carro, agora vamos até a estação de Manoel Feio”, diz Íris.

Situação persiste mesmo sem chuvas (Iris Oliveira/Acervo Pessoal)

PODER PÚBLICO

O prefeito Mamoru Nakashima (PSDB) utilizou o Facebook para cobrar providências do DAEE (Departamento de Águas e Energia Elétrica) e do Governo do Estado, responsáveis pela limpeza e pelo desassoreamento do Rio Tietê.

“É importante lembrar que essa limpeza do rio Tietê é de responsabilidade do DAEE”, alfinetou o prefeito. O tucano vive uma crise política na cidade e terá julgado um pedido de afastamento pelos vereadores nesta terça-feira (26).

Convidado pelo Condemat (Consórcio de Desenvolvimento dos Municípios do Alto Tietê), o secretário estadual de Meio Ambiente, Marcos Penido, visitou a região. Para o secretário, “a resposta é investir no desassoreamento”, mas afirmou que as intervenções nesse sentido serão realizadas apenas para o próximo verão.

Na última terça (19), a Câmara de Itaquaquecetuba enviou requerimento à prefeitura pedindo isenção do pagamento do IPTU para os contribuintes que vivem nas áreas alagadas. A decisão está sob a análise do Executivo.

Lucas Landin é correspondente de Itaquaquecetuba
lucaslandin@agenciamural.org.br

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‘Não consigo entrar na padaria’, diz moradora com deficiência em Itaquaquecetuba https://mural.blogfolha.uol.com.br/2019/02/28/nao-consigo-entrar-na-padaria-diz-moradora-com-deficiencia-em-itaquaquecetuba/ https://mural.blogfolha.uol.com.br/2019/02/28/nao-consigo-entrar-na-padaria-diz-moradora-com-deficiencia-em-itaquaquecetuba/#comments Thu, 28 Feb 2019 19:22:43 +0000 https://mural.blogfolha.uol.com.br/files/2019/02/10.-Valdemira-e-açougue-acessível-no-Louzada-2-320x213.jpg https://mural.blogfolha.uol.com.br/?p=15674 Pessoas com mobilidade reduzida enfrentam dificuldades para acessar comércios do município da Grande São Paulo

Jéssica Lima

A cidade de Itaquaquecetuba, na Grande SP, é um desafio para pessoas com deficiência física e mobilidade reduzida. A falta de acessibilidade em espaços públicos e privados impedem que a locomoção seja feita com segurança até mesmo para efetuar tarefas simples, como comprar algo em uma loja.

A aposentada Valdemira Farias Paiva, 52, teve poliomielite aos dois anos e meio de idade e usa cadeira de rodas. Ela mora no bairro Louzada (a 8,6 km do centro) e é obrigada a esperar por atendimento na rua em quase todos os comércios do bairro, porque não há acessibilidade na porta e tampouco nas calçadas.

Quando vai comprar algo, Paiva encosta a cadeira na guia, em frente ao estabelecimento, e é atendida ali mesmo. “Não posso comprar um pão porque não consigo entrar em uma padaria e não posso entrar em uma quitanda, tenho que deixar o dono escolher o tomate para mim. A lei está sendo violada”, disse.

Há duas leis que estabelecem normas e critérios para a promoção da acessibilidade (a 10.098, de 2000, e o Estatuto da Pessoa com Deficiência, lei 13.146, de 2015). Elas dizem que deve-se criar “possibilidade e condição de alcance para utilização com segurança e autonomia de espaços mobiliários, equipamentos urbanos, edificações, transportes, informação e comunicação”.

Diz também que a medida se estende a “outros serviços e instalações abertos ao público, de uso público ou privados de uso coletivo, tanto na zona urbana como na rural” e que “cabe aos Estados, Municípios e ao Distrito Federal, no âmbito de suas competências, criar instrumentos para a efetiva implantação”.

Marinete e gráfica sem acessibilidade no centro (Jéssica Lima/Agência Mural/Folhapress)

No centro comercial, onde o fluxo de pessoas é maior, as calçadas são acessíveis em alguns pontos, mas a maioria dos comércios ainda não possui acesso adequado, mesmo nas grandes redes como a Marabraz e O Boticário.

Alguns comerciantes ouvidos pela reportagem culparam a largura da calçada que, por ser estreita, dificulta a possibilidade de seguir as normas. “Quando aparece algum cadeirante, levo a mercadoria e atendo na porta”, contou a balconista Beatriz Barbosa, 18, da assistência técnica de celulares MultCell.

“Não consigo ir ao dentista se o consultório fica no piso superior e não tem elevador. Nas lojas térreas, só consigo entrar se tiver acessibilidade ou o degrau for baixo”, explicou a aposentada Marinete Sangy de Almeida, 57, que mora no bairro Estância Guatambu (a 6,4 km do centro).

Almeida também teve poliomielite aos dois anos e meio e ainda tem osteoporose. Ela anda com a ajuda de uma bengala e, mesmo assim, os movimentos são limitados. Qualquer passo em falso pode resultar em uma queda.

O gerente Gilberto Santana, 54, da loja de calçados Darc, da avenida Emancipação, disse que a prefeitura não fez a calçada com acessibilidade. “Estou esperando por isso para tornar a entrada da loja acessível”, acrescentou.

Panificadora tem rampa inclinada no Caiuby (Jéssica Lima/Agência Mural/Folhapress)

NOS BAIRROS

A situação fica ainda pior nos mini centros dos bairros como o Jardim Caiuby (a 6,5 km do centro), Louzada, Jardim Paineira (a 4,3 km) e Maria Augusta (a 1,8 km).

Alguns estabelecimentos até possuem acessibilidade na porta, mas a maioria não tem calçada acessível. Quem usa cadeira de rodas, divide espaço com os carros.

“Se a prefeitura aplicasse multa pelo não cumprimento da lei de acessibilidade, muitos já teriam dado um jeito de se adaptar, mas nunca passou fiscalização aqui”, comenta Maria de Lurdes Lourenço, 31, proprietária do Hortifruti da Lú, no Louzada.

Em todos os comércios visitados, a reportagem perguntou se já houve fiscalização da Prefeitura de Itaquá e todos disseram que não.

O locutor Valdeir Ferreira dos Santos, 53, mora no Jardim Napoli I (a 7,5 km do centro), e há seis anos teve três AVC’s e um infarto. Desde então, usa cadeira de rodas. “Mesmo sendo motorizada, tenho dificuldade para me locomover e preciso andar pela rua por conta da situação das calçadas.”

Quando se depara com um degrau alto na entrada de algum estabelecimento, o também aposentado Benedito Aparecido da Silva, 64, que mora na Vila Japão (a 2,2 km do centro) e tem nanismo, pede ajuda ou se ajoelha para entrar no comércio.

“Converso com o gerente ou responsável para melhorar o acesso e falo das vendas que está perdendo por não ter rampa de acesso ou calçadas mais baixas”, diz.

O estudante do ensino médio Fernando Batista Manoel, 40, mora no Jardim Carolina (a 6,7 km do centro) e tem amiotrofia muscular na espinha. Há 25 anos, ele parou de andar. Desde então conta com amigos e com a esposa para ajudá-lo.

“Não dá para andar pelas calçadas por causa dos buracos e desnivelamentos, mas, nos comércios, como tenho ajuda, até que é tranquilo para entrar.”

RAMPA INCLINADA

Alguns comércios possuem rampas, mas não seguem a NBR 9050, norma que dá parâmetros de acessibilidade para edificações e leva em conta a inclinação.

Várias padarias no bairro Caiuby, por exemplo, têm rampas que chegam a 20 centímetros de altura. Para servir de comparação, no Louzada, há um açougue com a rampa que mede cerca de 3 centímetros que Paiva consegue passar facilmente com a cadeira de rodas.

“Tenho medo de cair, já levei muitos tombos”, conta Marinete Almeida, que mora no bairro ao lado.

Loja de roupas MKE sem acessibilidade no Caiuby (Jéssica Lima/Agência Mural/Folhapress)

OUTRO LADO

O vereador Rolgaciano (PODE) disse que a Câmara Municipal de Itaquá tem cobrado da prefeitura a fiscalização de acessibilidade nos comércios e calçadas.

Ele propôs um projeto chamado “selo calçada legal”, que visa padronizar as calçadas do município e torná-las acessíveis, mas a ação não avançou porque os vereadores não podem apresentar projetos de lei que gerem custo ao governo municipal.

“Tenho cobrado para que a prefeitura abra concurso público para fiscais. Hoje, a cidade não deve ter nem 30”, contou Rolgaciano.

Por meio de nota, a Acidi (Associação Comercial e Industrial de Itaquaquecetuba) culpa a gestão Mamoru Nakashima (PSDB) pela falta de planejamento e execução de obras para alargamento das calçadas nas principais vias da cidade.

“A Acidi e seus associados têm feito estudos e projetos para dar mais acessibilidade aos frequentadores da região central, mas a inépcia da gestão municipal impede que setor público e privado convirjam suas ações no mesmo sentido.”

O Boticário alegou, por meio de nota, que “respeita integralmente a legislação brasileira e tem um compromisso com a acessibilidade das lojas de sua rede.”

Disse também que “a marca acionou o responsável pela operação das duas lojas no centro de Itaquaquecetuba, que afirmou estar com um projeto especial para a adequação das construções antigas, anteriores à legislação”. Procurada por telefone e via e-mail, a Marabraz não respondeu.

Já a Prefeitura de Itaquaquecetuba disse, em nota, que “está utilizando os recursos de obras dos governos federal e estadual, priorizando revitalizar passeios, criando acessibilidade e também pedindo auxílio aos comerciantes da cidade para que criem rampas de acesso em frente aos seus comércios.”

A nota diz ainda que “este é um trabalho de conscientização, pois Itaquaquecetuba é uma cidade que não foi preparada ao longo de sua história para atender este público, com calçadas estreitas, pouca acessibilidade e problemas até mesmo com concessionárias de energia que instalaram postes nas calçadas.”

“Diante deste quadro, a administração já tem feito obras de acessibilidade, como lombofaixas e rebaixamento de calçadas.”

Jéssica Lima é correspondente de Itaquaquecetuba
jessicalima@agenciamural.org.br

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Ex-eleitores do PT em Itaquaquecetuba explicam voto em Bolsonaro https://mural.blogfolha.uol.com.br/2018/11/08/ex-eleitores-do-pt-em-itaquaquecetuba-explicam-voto-em-bolsonaro/ https://mural.blogfolha.uol.com.br/2018/11/08/ex-eleitores-do-pt-em-itaquaquecetuba-explicam-voto-em-bolsonaro/#comments Thu, 08 Nov 2018 12:32:21 +0000 https://mural.blogfolha.uol.com.br/files/2018/11/Eng.-Manoel-320x213.jpg https://mural.blogfolha.uol.com.br/?p=14819 Lucas Landin

Itaquaquecetuba está a apenas 39 km da capital paulista, mas tem pouco a ver com a imagem típica de São Paulo. Não se vê altos edifícios. Apenas casas grandes e pequenos prédios.

Ruínas de fábricas falidas na crise dos anos 1990 dividem lugar com pequenos comércios locais e loteamentos irregulares. Nesse cenário, o capitão da reserva Jair Bolsonaro (PSL) obteve 90.182 votos (58,40% do total), contra 41,6% do petista Fernando Haddad, no segundo turno da eleição presidencial em 28 de outubro.

“Votei no Bolsonaro sim, estava na hora de mudar”, diz Jorge Matias da Silva, 59, dono de um boteco na periferia da cidade. Jorge é um dos 39% dos moradores de Itaquaquecetuba que possuem renda mensal per capita de até meio salário mínimo.

Vive com o que ganha em seu pequeno negócio e tem a renda complementada pelos R$ 180 mensais que a esposa, Mazé, 54, recebe do Bolsa-Família. Na cidade de 369 mil moradores, há 42 mil famílias cadastradas no programa que é uma das bandeiras do PT.

Eleitores como Jorge e sua família representam o duro golpe que o petismo sofreu nas periferias. Em Itaquá, a expressiva votação de Bolsonaro representou uma guinada histórica à direita, após sucessivas vitórias ao Partido dos Trabalhadores desde 2002.

Em 2014, o município foi um dos seis onde o PT venceu o segundo turno na Grande São Paulo. Dilma Rousseff obteve ali 83.651 votos (52,81%) contra 74.759  (47,19%) do tucano Aécio Neves.

Durante os governos petistas, a cidade obteve importantes avanços na área social, mas a insatisfação popular cresceu desde o início da crise econômica.

“Tá tudo ruim, você sai de casa e não sabe se volta. No posto de saúde não tem médico, não tem remédio. A moçada não tem emprego, fica por aí fazendo o que não deve. Na última [eleição] eu fui de Dilma. Mas hoje, não dá mais para votar no PT”, desabafa.

Apesar de nunca ter sido governada diretamente pelo PT a nível municipal, o partido esteve presente na vida política da cidade no último período: foi base do prefeito Armando da Farmácia (2005-2012) do PR, e ocupou pastas na primeira gestão do governo Mamoru Nakashima (2013-2016), na época do PTN.

Em 2016, Mamoru se filiou ao PSDB para tentar a reeleição, e se distanciou dos petistas. Nesta eleição, o prefeito se manteve neutro, mas os vereadores tucanos declararam apoio a Bolsonaro e ao governador eleito João Doria (PSDB).

EMPREGO E CORRUPÇÃO

Outro novo eleitor da extrema-direita é o servente de pedreiro Ademilton Silva, 37, que deu o primeiro voto para presidente em Luiz Inácio Lula da Silva (PT) ainda em 1998. “Sempre votei no PT, mas dessa vez eles não tiveram meu voto”.

Desempregado há dois anos, Ademilton espera que o presidente eleito promova mudanças na economia e seja mais rigoroso no combate à corrupção. “Hoje em dia o povo não aguenta mais corrupção, ladroagem desses caras”, desabafa.

Sobre as polêmicas envolvendo o próximo presidente da República, como falas machistas, racistas e homofóbicas, Ademilton desconversa. “Os gays também devem estar precisando de emprego”.

Além de Bolsonaro, seus apoiadores também se saíram vitoriosos na cidade. O filho, Eduardo Bolsonaro (PSL), foi o segundo deputado federal mais votado ali (com 9.650 votos), enquanto Major Olímpio (PSL) foi o senador mais bem votado, com 47.460 votos.

Lucas Landin é correspondente de Itaquaquecetuba
lucaslandin@agenciamural.org.br

Bolsonaro vence no ABC; Doria perde em cidades da Grande SP

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