Mural https://mural.blogfolha.uol.com.br Os bastidores do jornalismo nas periferias de SP Mon, 27 Dec 2021 13:12:41 +0000 pt-BR hourly 1 https://wordpress.org/?v=4.7.2 Perto do vestibular, estudantes de Perus conhecem escritor angolano Pepetela https://mural.blogfolha.uol.com.br/2019/11/05/perto-do-vestibular-estudantes-de-perus-conhecem-escritor-angolano-pepetela/ https://mural.blogfolha.uol.com.br/2019/11/05/perto-do-vestibular-estudantes-de-perus-conhecem-escritor-angolano-pepetela/#respond Tue, 05 Nov 2019 17:11:35 +0000 https://mural.blogfolha.uol.com.br/files/2019/11/2019-10-18_PEPETELA-EM-PERUS_0014-320x213.jpg https://mural.blogfolha.uol.com.br/?p=16957 Jéssica Moreira

Foi durante uma aula de redação que o angolano Artur Carlos Maurício Pestana dos Santos abandonou a mesmice dos temas gerais e escreveu a primeira história.  “Pensei que a professora iria brigar, mas ela gostou muito e leu para a turma. Me livrei das redações sem graça nenhuma”, conta. 

Descobrira ali a vocação para escritor, tornando-se mais tarde Pepetela. Aos quase 78 anos, o autor é um dos maiores nomes da Literatura de Língua Portuguesa no mundo, vencedor do Prêmio Camões. A obra Mayombe é leitura obrigatória do vestibular da Fuvest, vestibular que dá vagas para a USP (Universidade de São Paulo). 

Às vésperas dos vestibulares no país, o escritor africano esteve na Biblioteca Padre José de Anchieta, em Perus, na região noroeste de São Paulo, no mês passado, reunindo mais de 200 pessoas em uma sexta-feira à noite, principalmente estudantes de escolas públicas e de cursinhos populares da região.

“Ele vai cair no vestibular e a gente está o vendo aqui, ao vivo. Aproxima a gente. Quando eu ver o nome dele na prova, vou lembrar desse momento”, diz Diego Alves, 17, morador da Parada de Taipas e estudante do Cursinho Livre da Lapa. 

Mesmo sendo professor de Física no Cursinho Livre da Lapa, zona oeste, Tiago Almeida, 36, não deixou de levar suas alunas e alunos para a palestra. “Entre os autores exigidos pela Fuvest, ele é o único vivo. É uma oportunidade incrível para eles poderem ouvir e trocar com ele”. 

“Eu me interessei porque fiz um trabalho na escola sobre ele. Foi gratificante estudar sobre ele e vê-lo aqui. Foi muito legal ouvir as experiências dele”, diz a aluna do Cursinho Livre da Lapa, Laís Xavier, 17, da Freguesia do Ó. 

Pepetela é o primeiro autor que a estudante que quer cursar Direito conheceu  pessoalmente. “Há uma admiração em ver a pessoa que li, ouvindo falar sobre a escrita e trajetória dele”. 

LITERATURA DESPERTA CONSCIÊNCIA

Para quem fica se perguntando como fazer uma boa redação nas provas, Pepetela diz “escrevo para aprender, escrevo para pensar”. 

Para o autor de “O quase fim do mundo”, obra que traz muito do contexto angolano, “a  literatura é um despertador de consciência”, uma ferramenta importante para aguçar a curiosidade de uma comunidade e organizar o pensamento para novas estratégias. “A literatura cria hipóteses, mas a solução dos problemas só vem da sociedade”. 

A escrita foi sua maior estratégia durante os anos que atuou pela libertação de Angola. 

Pepetela lutou ao lado do MPLA (Movimento Popular de Libertação de Angola), nos anos 1970. 

À noite, quando as tropas deitavam as armas e Pepetela estava finalmente sozinho, a caneta e o papel se tornavam a melhor companhia e um modo de compreender as situações de guerra à sua volta.  

“Eu embrulhava o livro em um plástico e escondia em um buraco dentro de uma árvore. Em caso de desastre ou chuva, eu não o perderia. Às vezes, passava dias longe”, diz. 

Obra de escritor está na lista da Fuvest (Kapulana/Divulgação)

“A literatura angolana continua a ser periférica e marginalizada no contexto das literaturas mundiais. Um ou outro autor consegue publicar fora. Há número grande de escritores, mas que não saem de Angola”. 

Falando também para uma plateia de educadores, Pepetela diz acreditar que tanto esses profissionais, quanto os escritores podem colaborar para disseminar a literatura africana no Brasil.

BRASIL E ANGOLA

“Há uma semelhança muito grande entre Angola e Brasil. Que é a capacidade de rir”, diz o escritor, que também lembra como autores e artistas brasileiros, como Graciliano Ramos e Jorge Amado, influenciaram a literatura e a cultura angolana. 

“Mesmo vivendo em uma situação de ditadura, não havia censura de livros brasileiros em Angola; livros que formaram toda uma geração”.

Os angolanos também receberam apoio intelectual com visitas de cantores como Chico Buarque de Holanda, compositor da canção Morena de Angola, interpretada por Clara Nunes.

“O Chico é reconhecido internacionalmente. Ele não precisa de certificado de prêmios”, diz, ao ser questionado sobre a polêmica do Prêmio Camões, que Chico Buarque não pode receber sem autorização do presidente da República, Jair Bolsonaro (PSL). 

Na política, Angola também se espelhou muito no Brasil, criando em 1951 o Partido Comunista de Angola, inspirado na sigla brasileira. 

A palestra foi parte do 2° Encontro Literário Áfricas, Memórias e Resistência, organizado pelo Coletivo de Educadores Perus-Pirituba, com apoio de Rita Chaves, especialista em literatura africana de Língua Portuguesa e professora da USP. 

Para a professora, embora a ligação dos dois países comece de forma dolorosa, diante da realidade da escravidão, é importante ressaltar como a cultura une as duas nações. 

“Uma história de troca que começa da pior forma possível pode ser transformada e gerar um diálogo que nos traz numa sexta à noite pra baixo de uma árvore, para falarmos de literatura, de história e resistência”, afirma. 

“O Brasil está enfrentando um recuo, que ameaça nossa estabilidade, mas essa esperança tem que ser capaz de promover a mudança. A literatura traz imaginação, nos tira da vida para nos devolver mais fortes dessa vida”, ressalta.

Jéssica Moreira é correspondente de Perus

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“A arte nos coloca no mapa”, apontam artistas que fazem celebração dos 85 anos de Perus https://mural.blogfolha.uol.com.br/2019/09/20/a-arte-nos-coloca-no-mapa-apontam-artistas-que-fazem-celebracao-dos-85-anos-de-perus/ https://mural.blogfolha.uol.com.br/2019/09/20/a-arte-nos-coloca-no-mapa-apontam-artistas-que-fazem-celebracao-dos-85-anos-de-perus/#respond Fri, 20 Sep 2019 13:36:30 +0000 https://mural.blogfolha.uol.com.br/files/2019/09/foto-3-e1568982314804-320x213.jpg https://mural.blogfolha.uol.com.br/?p=16783 Jéssica Moreira

“Norte e Nordeste compõem essa minha quebrada. Fica na beira da estrada e tem um fundo que é mata. São Paulo já é grande, mas esse bairro ainda alarga”. 

O verso, marcado pela geografia periférica, é da cantora e compositora Ariany Marciano, 23, que junto a outros artistas de Perus, região noroeste de São Paulo, celebram no Festival Mupope (Música Popular Periférica) os 85 anos do bairro com ares de interior e histórico de lutas. 

Organizado pelo Mapp (Movimento Arte Plural Perus), o evento traz para as principais ruas da região 22 atrações artísticas como shows, batalhas de rap, performances, cortejo e também gastronomia. 

O evento foi custeado pela verba adquirida por edital do Proac (Programa de Ação Cultural em SP) e também apoio de comerciantes locais. 

Uma das atrações é MC Neguinho da Kaxeta, que foi um dos mais pedidos pela população do bairro em enquete realizada pelo Mapp. O MC toca no encerramento do evento, no domingo (22). 

A ideia do movimento é reforçar a identidade dos moradores com o bairro. “A vida toda a gente ouve pessoas dizendo que nunca nem escutaram falar sobre o local onde a gente mora”, diz Ariany. “Isso reverbera na gente, nos fazendo questionar se nosso lugar existe mesmo, já que ninguém ouviu falar. Um festival como esse nos coloca como sujeito, mostra que nossos passos existem”. 

Grupos culturais da região de Perus querem reforçar vínculo de moradores com o bairro (Divulgação)

HISTÓRIA

São 85 anos no papel, já que o surgimento de Perus vem muito antes, com a construção das primeiras linhas de trem nos anos 1860 pela São Paulo Railway. O mesmo trajeto é utilizado para o transporte público pela linha 7-rubi da CPTM (Companhia Paulista de Trens Metropolitanos). 

Reza a lenda que a região era uma parada de tropeiros, onde uma dona de nome Maria criava Perus. A resistente fábula da “Maria dos Perus” atravessa gerações e dá nome à praça de alimentação do evento, localizada na entrada do Recanto dos Humildes, com comidas típicas. 

“Essa proposta surgiu após percebermos que não fazia sentido celebrar a história do bairro e não ter as personalidades importantes que construíram o chão e a história desse lugar”, afirma Valéria Motta, 38, pedagoga e articuladora cultural, e uma das organizadoras do evento. 

A verdade por trás da anedota, no entanto, é que a palavra Perus é um derivado de “Peri”, que em tupi-guarani significa água entre as pedras, uma característica muito presente na geografia da região. 

Em 1923, o bairro foi berço da primeira fábrica de cimento do Brasil – a Companhia de Cimento Portland Perus, onde ocorreu uma greve que perdurou longos sete anos, de 1962 a 1969, colocando a região na história do movimento sindical de todo o país e do mundo. 

Os Queixadas, alcunha dada aos sindicalistas dessa paralisação, também serão homenageados com o nome de um dos palcos, na Praça Sales, na sexta-feira (20). Será nela a abertura do evento, com projeções audiovisuais e performances, das 18h30 às 21h. 

A história dos trabalhadores já foi tema de peças de teatro, trilhas de memória, livros e filmes, e é constantemente relembrada por coletivos culturais. Eles reivindicam a criação de um centro cultural e de uma universidade desde que a indústria foi fechada, no fim dos anos 1980. 

“Somos gratos por aqueles que amassaram o barro pra gente chegar até aqui. Estamos trazendo isso para que a história não seja esquecida e que possa inspirar a juventude cada vez mais”, aponta Valéria. 

Para os organizadores, é essa memória de luta e resistência que os inspira e deu gás também para o surgimento do Movimento Hip Hop peruense. 

Foi a partir de mcs, rappers, dançarinos de break e djs da região que Perus entrou para a cena do hip hop da São Paulo dos anos 1990. Sérgio Barbosa (VL), 40, um dos precursores do movimento em Perus e também integrante do Mapp, relembra como era ir de Perus a Diadema ou à zona leste para fazer articulações. 

“Perus é onde começou a nossa história de vida e existência. A arte nos mantém em pé”, conta VL, que também ressalta a importância do samba local. 

O palco principal, na avenida Dr. Silvio de Campos, recebe o nome de Valenças, que é o mesmo nome da escola de samba do bairro. 

“Envolver os artistas e moradoras à celebração de aniversário do bairro cria um sentimento de pertencimento e é também um exercício de cidadania com as pessoas que moram e contribuem para o avanço do nosso território”, aponta Juliana Sete, 35, MC, produtora musical e parte do Mapp. 

PROGRAMAÇÃO

Na noite de sexta-feira (20), haverá a abertura do evento, com vídeos e performances que trazem o lema do festival “a periferia é o centro”, na Praça Sales, conhecida como rua da feira da estação Perus.

No sábado (21), das 13h às 21h30, as atrações ficam na Casa Hip Hop Perus, na Rua Julio Maciel, 550, onde também estará concentrada a praça de alimentação. Haverá rap, batalhas de rimas e apresentações de dança das crews. No domingo (22), o encerramento terá apresentações de samba e do MC Neguinho da Kaxeta. A programação completa está na página do Mupope.

Paralelamente à programação, haverá ações organizadas pela Subprefeitura de Perus, que divide o palco da Av. Dr. Silvio de Campos com atrações como Rodriguinho, ex-Travesso, Fundo de Quintal e Sula Miranda. 

Jéssica Moreira é correspondente de Perus

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Girlei Miranda celebra 30 anos de carreira com tambores, guitarra e baixo elétrico https://mural.blogfolha.uol.com.br/2019/08/15/girlei-miranda-celebra-30-anos-de-carreira-com-tambores-guitarra-e-baixo-eletrico/ https://mural.blogfolha.uol.com.br/2019/08/15/girlei-miranda-celebra-30-anos-de-carreira-com-tambores-guitarra-e-baixo-eletrico/#respond Thu, 15 Aug 2019 12:05:22 +0000 https://mural.blogfolha.uol.com.br/files/2019/08/Girlei-ensaiando-para-os-shows-de-17-e-31-de-agosto-que-celebram-os-30-anos-de-sua-trajetória-musical-III_Divulgação-320x213.jpg https://mural.blogfolha.uol.com.br/?p=16652 Jariza Rugiano

Batuques de samba embalaram o nascimento de Girlei Luiza Miranda, 57. Os pais faziam uma festa com feijoada na Casa Verde, zona norte de São Paulo, quando ela veio ao mundo em 1962. A batucada faria parte da vida dela, que se tornou uma multiartista e completa neste ano três décadas de carreira musical.

Foi com o pandeiro que Gigi, chamada assim pelos mais chegados, se percebeu como percussionista, compositora e cantora, campos que a levaram também à contação de histórias e ao circo. 

Nos dias 17 e 31 de agosto, ela apresenta o  show “30 anos de Girlei Luiza Miranda e seus tambores” no teatro Commune, no bairro Consolação, às 21h. 

Girlei vive na Vila Penteado, na Brasilândia, na zona norte de São Paulo. Filha de mestre de bateria, o pai dela foi cofundador de três escolas de samba em São Paulo, a Unidos do Peruche, Mocidade Alegre e Rosas de Ouro. Na última, a mãe da percussionista fazia parte da ala das baianas. 

“O primeiro instrumento que chamou minha atenção e que ganhei de meu pai foi um pandeiro. A gente tinha muita acessibilidade aos instrumentos e os compositores arrumavam os enredos em casa”, diz.

Girlei Miranda na Oficina Cultural Oswald de Andrade durante entrevista para a Agência Mural_(Jariza Rugiano/Agência Mural/Folhapress)

Na adolescência, Gigi pensava seguir no esporte, já que gostava de jogar vôlei, ou como aeromoça por se encantar com a ideia de sempre poder viajar e conhecer novos lugares. “A música foi mais forte”, conta a percussionista.

O sonho de ser aeromoça ficou para trás, mas a atuação artística a levou a países como Áustria e Hungria. A apresentação mais recente no exterior foi em Moçambique, onde apresentou Mjiba – a boneca guerreira, fazendo parte da Trupe Liuds, de Perus, distrito do noroeste de São Paulo.

MULHERES NA PERCUSSÃO

No início, Girlei sentia que precisava mostrar um diferencial para participar de apresentações como rodas de samba. “Por ser mulher negra, passei muito pelo processo de precisar validar meu talento, principalmente por tocar um instrumento que estava sempre no foco do homem”, lembra. 

Hoje, com mais mulheres tocando tambor, a artista conta que ajudou a abrir esse caminho ao lado de outras percussionistas como Dofona, Valquíria Rosa e Miriam Capua.

Ela integrou grupos como Banda-Lá no final dos anos 1970, e o Oriashé em 1997. Colaborou na fundação do bloco afro Ilú Obá de Min em 2004, onde ensina percussão. As alunas atuaram na elaboração do espetáculo que vai reunir as músicas de Girlei, todas compostas a partir do tambor e agora somadas com baixo elétrico e guitarra.

Girlei é uma das cofundadoras do Ilú Obá de Min, grupo com mais de 400 mulheres (Eliária Andrade/Divulgação)

“A gente acaba sendo produto na mão de produtores. Com elas não. [As alunas] me veem como a Gigi, a professora. Isso que é mais terno. O trabalho que faço e o show que vou apresentar é principalmente para elas, e tem a ver com a cura que o toque do tambor oferece”, diz.

No Ilú Obá de Min, Gigi também compõe músicas para o Carnaval. São cerca de 450 mulheres de diversas etnias, idades e classes sociais que atuam na percussão.

ANCESTRALIDADE

Atabaques, djembês, congas e rumpi estão entre os diversos tambores afro-brasileiros tocados por Girlei e por onde ela resgata timbres ancestrais em suas composições para os orixás, como Ogum e Oxum.

“[O tambor] é fortemente ligado à ancestralidade. Os tambores estão em todos os lugares, têm os africanos, indígenas, orientais e xamânicos, por exemplo. Tem um significado espiritual, de acolhimento e de pureza. A maioria é para a cura”, descreve. 

Quanto às influências de percussão que marcam a atuação musical dela, a artista aponta Tião Carvalho, Mônica Millet, Ilê Aiyê e Araketu. “Para poder ensinar, você precisa saber aprender. Tive grandes mestres que me fizeram perceber isso, como o Dinho Nascimento, Dinho Gonçalves e Lumumba”, completa.

Girlei acompanhada de banda durante ensaio para o show que marca 30 anos de carreira como percussionista e compositora (Divulgação)

Girlei vive com a esposa, a mãe, irmã e sobrinho em uma casa na Brasilândia. Ela sempre esteve envolvida em trabalhos e ações de cunho social com temas sobre questões raciais e de gênero. “Minhas vivências influenciam no meu jeito de fazer arte. E quando podemos contar com amigos, o trabalho se enriquece, chega com mais força em quem assiste”, descreve.

No teatro Commune, Girlei se apresentará com duas percussões feitas por ela e Bruna do Prado, com Xantille Jesus no baixo e Guilherme Maximiano/ Guima na guitarra. 

A direção artística é dela e da cantora e atriz Paula Pretta. “A apresentação será variada, tem até rock in roll. Não tem como classificar em um ritmo apenas”, diz.

Os ingressos para a primeira apresentação se esgotaram e para a segunda, em 31 de agosto, seguem à venda. Se disponíveis ainda no dia, podem ser comprados até uma hora antes da apresentação, direto na bilheteria.

Jariza Rugiano é correspondente de São Bernardo do Campo

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Moradores fazem da Jova Rural espaço para fotografia e oferecem cinema gratuito https://mural.blogfolha.uol.com.br/2019/08/13/moradores-fazem-da-jova-rural-espaco-para-fotografia-e-oferecem-cinema-gratuito/ https://mural.blogfolha.uol.com.br/2019/08/13/moradores-fazem-da-jova-rural-espaco-para-fotografia-e-oferecem-cinema-gratuito/#respond Tue, 13 Aug 2019 18:55:26 +0000 https://mural.blogfolha.uol.com.br/files/2019/08/FB_IMG_1565197536217-320x213.jpg https://mural.blogfolha.uol.com.br/?p=16638 Aline Kátia Melo

Um ônibus passa pelas ruas da Jova Rural, na zona norte de São Paulo. No meio da paisagem quase interiorana do bairro uma cena incomum: no caminho preenchido com vegetação, jovens com câmera fotográfica, tripé e rebatedor fazem fotos. 

“Um tripé na periferia já assusta. No centro é muito normal”, diz fotógrafo Alexandre Gomes, 20. Morador da região, Alexandre faz parte do coletivo Gueto Cine, projeto que realiza aulas de fotografia na Jova Rural.

Tudo começou quando ele teve contato com a área quando era aprendiz na Fábrica de Cultura do Jaçanã. Lá não era possível sair nas ruas com a câmera. Hoje, ele consegue providenciar práticas externas pelo bairro. 

“Aqui a gente comprou uma câmera para circular por empréstimo. Sempre incentivo eles a praticarem”, comenta.

Foi durante a oficina na Fábrica que nasceu o coletivo, formado por Gomes, Patrick Yamamoto e Danilo Gomes.

Oficina recebe convidados, como o fotógrafo Renan Crhistofoletti (Aline Kátia Melo/Agência Mural/Folhapress)

Os três tiveram como educador Flávio Galvão, de outro coletivo de audiovisual, o Fabcine. Criado em 2005, o Fabcine atua com produção, difusão e exibição audiovisual.

Em 2017, os integrantes dos dois grupos se juntaram e enviaram uma proposta que foi aprovada pelo Edital Fomento à Cultura da Periferia, para realizar oficinas de audiovisual.

“A gente tem que praticar aqui. Eu prefiro fazer ensaio aqui do que no centro. Se você tira uma foto na periferia, cada periferia é diferente. Só quem é sabe”, diz Gomes.

“Antes eu achava que era só pegar na câmera, mas não é assim”, conta a  agente operacional Samantha Kathrin de Souza, 31, que participou da oficina. “Não tinha condições de pagar curso de fotografia e aprendi bastante coisa.” 

Outra aluna que aceitou o desafio de pegar a câmera emprestada para praticar foi a estudante Érika Carvalho Carneiro, 17. 

“Eu peguei a câmera para fazer meu primeiro ensaio de fotos com uma amiga que estava grávida. O Alexandre disponibilizou o computador para editar as fotos lá no Gueto Cine. Minha amiga ficou bem satisfeita com o resultado. O pessoal ajuda bastante a gente”, diz.

Casa na Jova Rural é onde são feitas oficinas de audiovisual (Aline Kátia Melo/Agência Mural/Folhapress)

EM CASA

Alexandre mora na rua José Milton Barbosa, bem próxima ao prédio da Fábrica. Na parte superior da casa, havia um cômodo que não era utilizado. Com a aprovação do edital, de fevereiro a setembro de 2018, eles conseguiram reformar o espaço e transformá-lo para receber as atividades.

Antes disso, Alexandre e a família passaram por alguns problemas. “A telha atrasou a entrega, era época de chuva. Ficou cheio de água aqui e desceu molhando uma cama da minha mãe que quebrou”, relembra.

Houve reforma do teto e das paredes e o trabalho teve início em fevereiro de 2018.

Segundo Yamamoto, as oficinas são realizadas todo sábado e domingo das 10 às 13h e, além de moradores do bairro, têm recebido interessados de outras regiões da cidade. São de 15 a 20 participantes. Também são ensinadas aulas básicas de edição.

Móveis como mesa, cadeiras e geladeira vieram de doações. A manutenção do lugar é feita pela própria equipe.

Fabcine atua de forma itinerante em São Paulo (Gueto Cine)

ITINERANTE

Apesar de atuarem em parceria, Guetocine e Fabcine têm focos diferentes. Enquanto o GuetoCine se transforma em um espaço fixo de formação na Jova Rural, a missão do FabCine é itinerante. 

Com edital, o FabCine equipou uma kombi com equipamento e estrutura para exibições itinerantes de filmes em várias periferias de São Paulo uma vez por mês. 

“Ir ao cinema é caro tanto o ingresso quanto a pipoca. A gente chega com os filmes nacionais nas margens. Além do filme ser de graça, a gente também leva a pipoca”, afirma Alexandre.

“A gente é da cidade, não é de lugar nenhum, por isso temos uma kombi e não um espaço físico. A gente pensa em ter um micro-ônibus. A nossa sede é ambulante, a gente não tem lugar”, completa Galvão.

Aline Kátia Melo é correspondente da Jova Rural
alinekatiamelo@agenciamural.org.br

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Nove anos depois de anunciado, área do ‘Piritubão’ segue sem uso em São Paulo https://mural.blogfolha.uol.com.br/2019/08/06/nove-anos-depois-de-anunciado-area-do-piritubao-segue-sem-uso-em-sao-paulo/ https://mural.blogfolha.uol.com.br/2019/08/06/nove-anos-depois-de-anunciado-area-do-piritubao-segue-sem-uso-em-sao-paulo/#respond Tue, 06 Aug 2019 20:26:01 +0000 https://mural.blogfolha.uol.com.br/files/2019/08/MG_9951-320x213.jpg https://mural.blogfolha.uol.com.br/?p=16583 Renan Cavalcante

O bairro de Pirituba, na zona norte de São Paulo, chamou a atenção internacional em 2010 quando começou a sair na imprensa a notícia de que o estádio para a Copa do Mundo de 2014 seria construído na região.

Nove anos se passaram, o Brasil perdeu na semifinal, o mundial teve jogos em Itaquera, na zona leste, já foi realizada a Copa na Rússia, mas o Piritubão não virou realidade. No local, nada foi construído no terreno, mas rumores sobre o futuro não pararam de chegar para os moradores.

Atualmente, a última informação é de que o local pode se tornar um bairro planejado.

“Isso foi na Copa, não foi? Saiu daqui e foi para Itaquera. Tinha problema de metrô e não fizeram”, relembra o torneiro mecânico Benedito Rodrigues, 68, que mora em frente ao terreno desde quando ali “era tudo mato”. A referência ao Metrô é pelo fato de Itaquera ser servido pela linha 3-vermelha.

“Mas dizem que aqui está para sair um grande empreendimento, igual ao Anhembi. Porque aqui tem saída para todo lado”, ressalta.

Região ainda não teve uso definido, mas empresa quer fazer um bairro planejado Renan Cavalcante/Agência Mural/Folhapress)

De fato, a Prefeitura emitiu um decreto declarando o imóvel de aproximadamente 1,7 milhão de km², entre as avenidas Raimundo Pereira de Magalhães e Doutor Felipe Pinel, como de utilidade pública. Mas longe de pensar na Copa do Mundo ou em uma nova casa para o Corinthians, a ideia era de que o local abrigasse um “Polo de Feiras e Exposições”. O decreto, válido por cinco anos, perdeu efeito em 2013.

Atualmente, o terreno é uma área verde, arborizada, cercada e com placas que indicam “propriedade particular”. Um dos fatores que impediram a construção do estádio era a situação do solo. O terreno contém metais pesados.

De acordo com a Cetesb (Companhia Ambiental do Estado de São Paulo), a contaminação é proveniente de resíduos de uma cava de mineração que existia no local. Sobre a situação atual do terreno a Companhia diz em nota que há três anos não há risco para a saúde da população.

“A área mencionada é classificada como Reabilitada para Uso Declarado desde 2016, ou seja, não oferece risco à saúde humana”, diz a empresa. Ainda assim, até liberação da Cetesb, estão proibidas a escavação no terreno; o uso da água subterrânea; e a construção de moradias ou edificações.

O terreno pertence à Companhia City, empresa que teve forte atuação na urbanização de São Paulo no século passado, com a criação do Jardim América e outros bairros nobres da capital.

Procurada, a City informa que mantém os planos originais para a propriedade, com a ideia de implantar um novo bairro.

“Existe apenas restrição ao uso residencial em área de aproximadamente 24.250m2, que não será utilizada, remanescendo na propriedade dos atuais proprietários, que se responsabilizarão pela sua segurança e manutenção”, afirma a City em nota.

Segundo a empresa, o desejo é que o espaço conte com áreas residenciais, comerciais e também receba equipamentos públicos como escolas. Também fala em um novo parque ao longo do Córrego do Canta Galo.

Outra proprietária do terreno e controladora da Companhia City, a empresa Anastácio Empreendimentos Imobiliários não respondeu ao contato da Agência Mural para esclarecer as questões sobre o terreno.

ALÍVIO E INCERTEZA

Apesar da incerteza, entre os moradores que vivem perto do que seria o Piritubão, há quem veja de forma positiva o terreno ainda não ter sido usado para algo esportivo.

O comerciante Márcio Prete, 42, vende cervejas na região. Apesar disso, via a ideia do estádio com receio por conta do conflito entre torcidas. “Alguns comerciantes gostaram, mas quando pensam na questão de violência, briga, o pessoal já fala que é melhor não ter”.

A visão do comerciante é compartilhada por Maria da Cruz. Com 65 anos, a aposentada diz acreditar que a região ficaria barulhenta. Mas a maior preocupação dela foi com o rumor de que as propriedades vizinhas ao estádio perderiam dez metros de terreno.

“Você se mata para conseguir alguma coisa e vê muitos casos em que desapropriaram e não pagaram as pessoas até hoje”, diz.

Rodrigues, que diz não acompanhar futebol porque os jogadores não têm mais amor à camisa, pensa no gasto financeiro que a construção do estádio traria. “O governo e a prefeitura estão falidos. Está igual a ponte da marginal”, afirma se referindo à promessa de ligação da entre a Lapa e Pirituba, separados pelo Rio Tietê.

Em junho, a prefeitura anunciou o início das obras da ponte.

Renan Cavalcante é correspondente de Pirituba
renancavalcante@agenciamural.org.br

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Em Perus, lanchonete Dan Dog atrai público com 50 opções de lanches https://mural.blogfolha.uol.com.br/2019/07/12/em-perus-lanchonete-dan-dog-atrai-publico-com-50-opcoes-de-lanches/ https://mural.blogfolha.uol.com.br/2019/07/12/em-perus-lanchonete-dan-dog-atrai-publico-com-50-opcoes-de-lanches/#comments Fri, 12 Jul 2019 19:17:12 +0000 https://mural.blogfolha.uol.com.br/files/2019/07/x_contra_file_03-320x213.jpg https://mural.blogfolha.uol.com.br/?p=16457 Ira Romão

Quando abriram uma lanchonete há 19 anos, a ideia de Alfredo Clóvis Lázaro, 50, e Darci Aparecida Lázaro Catelani, 54, era trabalhar com a venda de cachorro-quente em Perus, na zona noroeste de São Paulo.

Hoje, o Expresso Dan Dog conta com um cardápio que contém mais de 50 opções de lanches, que custam entre R$ 8,50 e R$ 25, dentre eles sete tipos de hot-dog. 

“Quem foi direcionando nosso trabalho e aumentando o leque do cardápio foram os próprios clientes. Eles iam pedindo outras opções de lanches e nós começamos a incrementar”, relata Alfredo. 

O espaço comandado pelos irmãos é um dos principais points gastronômicos de Perus.

Eles contam que a ideia surgiu por sentirem falta no bairro de um local mais tranquilo para bater um papo e que oferecesse algo que acolhesse as famílias.

“Nós comíamos um cachorro-quente lá pelos lados da Freguesia do Ó. Gostávamos de lá, do lanche e do formato que era na baguete. Então decidimos montar uma lanchonete para vender só hot-dog preparado na baguete e bebidas enlatadas”, relembra Alfredo.

Alfredo e Darci apostam na lanchonete desde o início dos anos 2000 (Ira Romão/Agência Mural/Folhapress)

A escolha do nome Dan Dog tem um significado especial para os sócios. “Dan” vem de Danilo, em homenagem ao filho de Darci, que morreu aos 12 anos, quando o projeto da lanchonete estava em desenvolvimento. E o “Dog” corresponde à ideia inicial de vender apenas hot-dog.

Localizado na Avenida Comendador Fiorelli Peccicacco, uma das principais vias de Perus, o Dan Dog funciona de terça a domingo, das 11h à meia-noite, e atrai diferentes públicos. Eles estimam que, em média, passam pelo local cerca de 200 clientes por noite.

Antes, no mesmo endereço, existia um depósito de areia. Ao locar parte do terreno, os irmãos construíram um salão e uma cozinha para poder abrir o negócio. 

O estabelecimento oferece ainda porções, refeições completas, sobremesas e conta com variedade de bebidas alcoólicas e não-alcoólicas.

Embora a principal opção de lanche seja o hot-dog, o campeão de vendas da casa é outro. “O [lanche] disparado é o x-contra filé com bacon, seguido da porção de tilápia. No terceiro lugar aparecem os hot-dogs especiais com frango e com catupiry”, aponta Darci.

Área externa do Expresso Dan Dog (Ira Romão/Agência Mural/Folhapress)

RELAÇÃO COM OS CLIENTES 

Mesmo fechando as portas meia noite, o atendimento continua até que o último cliente peça a conta.  

A cabeleireira Camila Barreto, 25, não esquece uma vez em que estava com os amigos e ao saírem tarde da noite do boliche, no Shopping Center Norte, não encontraram lugar aberto para comer. 

“Chegando em Perus, quase de madrugada, decidimos verificar se o Dan Dog estava aberto. Por sorte fomos atendidos”.

Além de trazer recordações, para alguns clientes a lanchonete é também ponto de referência.

“Venho aqui desde os 15 anos. Moro a cinco minutos daqui. E quando preciso dar referência do meu endereço, indico o Dan Dog. As pessoas conhecem mais do que a própria estação de trem”, afirma a analista administrativo Taís Oliveira, 31.  

Em 2005, houve a expansão física do espaço, quando surgiu a necessidade de criar uma área exclusiva para não-fumantes. Como na época, ainda não vigorava a Lei Antifumo nº 12.546/2011, que proíbe fumar em locais totalmente ou parcialmente fechados, muitos clientes fumavam próximos a outros, e isso incomodava os não-fumantes. 

Porção de tilapia no Dan Dog (Ira Romão/Agência Mural/Folhapress)

Como solução, os irmãos locaram mais uma parte do terreno do antigo depósito. Ampliaram a cozinha e construíram outro salão, reservado para clientes não-fumantes, na época, um diferencial no bairro.  Como resultado, conquistaram novos clientes.  

“Até hoje, mesmo não podendo fumar em locais fechados, muitas famílias que frequentam aqui gostam de ficar naquele salão”, relata Darci. 

Com a ampliação do espaço físico, surgiram novas demandas. “O pessoal começou a pedir comida. As firmas da região procuravam a gente para servir almoço. Foi quando inserimos no cardápio refeições”, explica a proprietária. 

A sociedade entre os irmãos é anterior ao restaurante. Eles chegaram a administrar simultaneamente três cantinas em escolas públicas. Por conta disso, muitos clientes antigos os chamam, até hoje, de “tios”. 

“No início tínhamos um público muito jovem em decorrência das escolas. Hoje eles continuam vindo, mas boa parte já estão casados e com filhos”, menciona Alfredo.

Ira Romão é correspondente de Perus
iraromao@agenciamural.org.br

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De Perus à África: Trupe Liuds leva espetáculo sobre mulher negra para Moçambique https://mural.blogfolha.uol.com.br/2019/06/17/de-perus-a-africa-trupe-liuds-leva-espetaculo-sobre-mulher-negra-para-mocambique/ https://mural.blogfolha.uol.com.br/2019/06/17/de-perus-a-africa-trupe-liuds-leva-espetaculo-sobre-mulher-negra-para-mocambique/#respond Mon, 17 Jun 2019 17:46:41 +0000 https://mural.blogfolha.uol.com.br/files/2019/06/WhatsApp-Image-2019-06-17-at-14.31.25-320x213.jpeg https://mural.blogfolha.uol.com.br/?p=16349 Jéssica Moreira

Uma boneca africana inicia uma longa trajetória em busca das raízes ancestrais. Criada pela Trupe Liuds, em Perus, na região noroeste de São Paulo, a história de Mjiba – a boneca guerreira – atravessou o Oceano Atlântico e chegou às crianças da Maputo, em Moçambique.

A trupe viajou na primeira semana de junho para o continente africano, onde ficará até o final do mês.

Formada pelos palhaços Torradinho (Valmir Santana), 29, Candango (Clébio Ferreira), 34, e Gigica (Girlei Miranda), 57, a peça foi uma das selecionadas pelo FITI (Festival Internacional de Teatro de Inverno) de Maputo.

A trupe também está ministrando oficinas de comicidade negra e faz debates com artistas da região.

Para os integrantes, a viagem até Moçambique simboliza um verdadeiro fechamento de ciclo, seja para o grupo, que agora inicia novas pesquisas, quanto para a personagem Mjiba, que finalmente encontra as origens africanas.

Cangango, Gigica e Torradinho formam a Trupe Liuds (Divulgação)

“O espetáculo levanta discussões bem relevantes ao atual momento da luta das mulheres e principalmente das mulheres negras, e faz com que crianças e jovens discutam as formas de educação impostas, que na maioria das vezes é opressora e machista”, aponta Clébio, o palhaço Candango.

O espetáculo conta a história de dois palhaços carteiros que, ao se depararem com uma encomenda sem remetente, encontram algo inesperado dentro dessa caixa: uma boneca negra.

De forma leve e ao mesmo tempo educativa, os palhaços falam sobre a história da colonização e da escravidão que atravessa o Brasil pela ótica da mulher negra, trazendo ao palco as discussões sobre a padronização da imagem feminina.

TRUPE

Criada em 2006, com o intuito de difundir a arte circense na periferia de São Paulo, a trupe é uma companhia composta por palhaços negros e moradores da periferia.

Eles utilizam a linguagem lúdica para recriar a realidade cotidiana e, assim, despertar o imaginário das pessoas em relação à questão de raça.

Na peça, dois carteiros encontram uma caixa com objeto misterioso (Clayton João/Divulgação)

Misturando  cenas do circo tradicional à cultura popular, a Trupe Liuds também tem como proposta ocupar espaços públicos e espaços ociosos com espetáculos, oficinas e intervenções circenses.

Para os integrantes, estar no continente africano é um caminho para conhecer mais da história ancestral brasileira e desmistificar a região, muitas vezes representada de maneira negativa pelos livros didáticos.

“A África sempre fez parte do nosso imaginário, e hoje ter a oportunidade de vir até aqui para trazer  o nosso trabalho é maravilhoso”, avalia Valmir Santana, o palhaço Torradinho. “Realizar esse intercâmbio nos fortalece e nos dá mais energia para fazer mais pela nossa comunidade, dando dimensão de outras realidades e lógicas e como elas operam no mundo.”

Em março de 2019, Moçambique foi um dos países devastados pelo Ciclone Idai, deixando milhares de pessoas mortas e diversas regiões destruídas. A trupe entende que levar a peça para o país neste momento é um jeito de prestar solidariedade.

“Pensamos ser de extrema importância poder compartilhar nossa arte com esse povo nesse momento. Sabemos que não será fácil, pois estamos em um lugar diferente do nosso, mas compartilhamos a mesma luta. Estamos de coração aberto e dispostos a contribuir para uma troca sincera e profunda”, diz Girlei, a palhaça Gigica.

Jéssica Moreira é correspondente de Perus
jessicamoreira@agenciamural.org.br

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UBS do Jardim Fontalis, na zona norte de São Paulo, mudará em agosto https://mural.blogfolha.uol.com.br/2019/06/07/ubs-do-jardim-fontalis-na-zona-norte-de-sao-paulo-mudara-em-agosto/ https://mural.blogfolha.uol.com.br/2019/06/07/ubs-do-jardim-fontalis-na-zona-norte-de-sao-paulo-mudara-em-agosto/#comments Fri, 07 Jun 2019 20:48:11 +0000 https://mural.blogfolha.uol.com.br/files/2019/06/011-320x213.jpg https://mural.blogfolha.uol.com.br/?p=16295 André Santos

Mesmo sob reclamação e abaixo-assinado de moradores, a UBS (Unidade Básica de Saúde) do Jardim Fontalis, na zona norte de São Paulo, vai mudar de endereço.

A saída da unidade para um novo prédio a 1,5 km do local onde funciona atualmente tem causado reclamação de moradores da região. Por outro lado, funcionários apontam que o atual prédio está com problemas estruturais, goteiras e pontos descobertos.

A mudança foi marcada para 20 de agosto, após 18 anos de funcionamento na rua Antônio Piccarolo. O novo endereço será a rua Mota. A unidade é umas das 11 da subprefeitura Jaçanã/Tremembé.

“Sou totalmente contra a saída do posto. Será um desastre para o bairro que já não tem nada de benefício”, afirma Wagner Pereira Santos, 46, morador há mais de duas décadas do Jardim Fontalis.

Wagner e outros moradores organizaram um abaixo-assinado para reivindicar a permanência da unidade e a ampliação do prédio. O documento pede também que seja reformado o espaço ou construído um prédio próprio. Mais de 120 pessoas assinaram.

UBS está no local há 18 anos (André Santos/Agência Mural/Folhapress)

“Nosso bairro já não tem nada, não tem um mercado, uma farmácia e o posto que é uma coisa boa que temos vai sair”, protesta o aposentado Francisco das Chagas, 64.

“Tem gente que faz acompanhamento com os médicos aqui, como vai ser agora? Uma pessoa que precisa ir ao posto todo dia ou três vezes por semana vai ter que ir até lá, e se não tiver dinheiro de condução? Tem que ver isso”.

Os moradores têm tentado se mobilizar para evitar a mudança, houve uma reunião com a administradora da UBS, mas apenas três pessoas compareceram. “Infelizmente as pessoas não deram importância, só vão dar importância quando chegarem pra ser atendidos e o posto não tiver mais lá, infelizmente”, lamenta Wagner.

Para Francisco, a mudança pode ser evitada. “Tem um monte de terreno aqui no bairro que dá pra fazer um posto novo, maior”, alega.

PROBLEMAS E CHEGADA DE MAIS FUNCIONÁRIOS

Segundo a supervisora da unidade, Karen Aparecida Santos Ferreira, a mudança é necessária, pois o prédio atual da UBS tem problemas estruturais sérios.

“O telhado está com infiltração, molha material, prontuário, vira uma cachoeira. Fizemos consertos pontuais, mas sempre aparece mais. A sala de espera dos pacientes molha durante as chuvas”, afirma.

Supervisora, Karen diz que novo local abrigará mais funcionários (André Santos/Agência Mural/Folhapress)

Os moradores admitem que a situação da estrutura é complicada, mas que a solução seria reformar ou construir um novo prédio por perto.

A UBS funciona onde era moradia dos antigos donos das terras que hoje é o bairro Associação Sobradinho.

Após o loteamento, o prédio foi sede da Associação de Moradores do bairro, logo depois a associação cedeu a casa para que a UBS passasse a funcionar ali. “Era pra funcionar por dois anos e já estamos há 18 aqui”, afirma Karen.

“Esse prédio não comporta toda a equipe, por isso que a mudança será um ganho. Vão ganhar mais seis médicos e duas equipes de saúde bucal”.

A supervisora afirma que a equipe passará de 42 pessoas para 86. Para driblar a falta de espaço, a UBS tem realizado algumas das reuniões numa igreja evangélica que fica ao lado da unidade.

O prédio onde passará a funcionar a UBS será locado e toda a parte de estrutura e de acessibilidade foi executada pelo proprietário do imóvel.

“Nenhuma família será descadastrada, ninguém vai ser, todos vão continuar sendo atendidos em casa pelos agentes de saúde, e os grupos de saúde vão continuar normalmente também”, diz Karen.

André Santos é correspondente do Jardim Fontalis
andresantos@agenciamural.org.br

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Campeã da Taça das Favelas, Mineira trabalha com panfletagem nas ruas de SP https://mural.blogfolha.uol.com.br/2019/06/04/campea-da-taca-das-favelas-mineira-trabalha-com-panfletagem-nas-ruas-de-sp/ https://mural.blogfolha.uol.com.br/2019/06/04/campea-da-taca-das-favelas-mineira-trabalha-com-panfletagem-nas-ruas-de-sp/#respond Tue, 04 Jun 2019 20:28:18 +0000 https://mural.blogfolha.uol.com.br/files/2019/06/IMG_2950-320x213.jpg https://mural.blogfolha.uol.com.br/?p=16285 Rubens Rodrigues

Ana Karolyna Aparecida de Jesus Ribas, 21, veio morar em São Paulo no ano passado, com objetivo de tentar uma vaga no MPU (Ministério Público da União). No entanto, conseguiu nas últimas semanas a conquista de um outro sonho: jogar futebol.  

“Quando eu ganhava boneca, eu tirava a cabeça dela e brincava de jogar bola”, revela Ana, mais conhecida como Mineira, atacante campeã da Taça das Favelas.

Mineira foi destaque no último sábado (1º) na conquista do torneio. Ela foi autora dos dois gols da vitória do Complexo Casa Verde contra o Paraisópolis em disputa no estádio do Pacaembu.

Natural de Catuti, no interior de Minas Gerais, a atacante começou a viver na Vila Aurora, bairro do distrito da Casa Verde, na zona norte. Veio para São Paulo morar na casa de uma amiga e fazer cursinho preparatório para um concurso público, com objetivo de entrar na área administrativa do MPU.

Desapontada por não ser aprovada, e prestes a voltar para a cidade natal, viu em uma página no Facebook o PS9 (Projeto Social 9), que faz integração de meninas que sonham em ser jogadoras de futebol.

“Pedi uma chance e eles deram. Prometi não decepcioná-los. Os treinadores Dayana e o Luiz costumam dizer que os nossos sonhos também são os sonhos deles. Deixaram eu treinar e estou aqui desde abril de 2018”.

Casa Verde venceu por 2 a 0 o time de Paraisópolis (Jonathan Paixão/Taça das Favelas)

Atualmente, Mineira divide a casa de atleta do PS9 com a zagueira Andressa Castro. Os gastos são custeados pelo clube.

Fora dos treinamentos, ela começou a trabalhar há duas semanas com a entrega de panfletos de uma loja de portões automáticos nos bairros da zona norte.

CAMPANHA

Durante todo o campeonato, Mineira entrou por quatro vezes na seleção da rodada da Taça das Favelas. O desempenho constante a cada partida serviu para esquecer um passado infeliz. Após se consagrar campeã ela desabafou.

“Isso daqui para mim é muito gratificante, pois passei por uma depressão e eu pensei em me matar”, afirmou. A situação se agravou após não ter passado no concurso. “Estar aqui hoje é uma redenção para mim, estou muito feliz, não tem como explicar”.

Todas as terças e quintas Mineira se junta com mais 35 atletas e treinam no campo do São Bento, que fica na região de Santana, na zona norte. O gramado é esburacado e quando chove a lama toma conta e dificulta o trabalho das meninas. A condição não foi motivo para não se dedicar ao futebol.

“Faça chuva ou faça sol, a gente sempre está lá treinando, mas às vezes fica difícil porque é um campo com buracos e quando chove já viu. O que o futebol feminino precisa é de apoio. Falta incentivo”, relata a camisa 19.

A Taça das Favelas reuniu 32 equipes femininas na competição, enquanto no torneio masculino foram 64, com o título para o Parque Santo Antônio. A organização do campeonato premiou com R$ 5.000 os campeões, R$ 3.000 os vices, e R$ 2.000 os terceiros colocados. A artilharia, melhor jogador e melhor treinador foram contemplados com R$ 1.000.

Além de ser campeã, Mineira foi a artilheira do campeonato com seis gols. A boa atuação a anima a manter o sonho em jogar em um time profissional.

Apesar da esperança, ela sabe das dificuldades para conseguir espaço e diz que se não atingir o objetivo, pretende cursar administração ou educação física. 

“Estou lá [em Catuti] quase sempre pra ver minha família, e minha avó sempre pede pra eu ir porque diz que está morrendo de saudades”. Diz estar adaptada a periferia da zona norte e não pretende seguir com a vida na capital. “Para morar [em Minas] pretendo ir quando eu me aposentar”, brinca.”

Rubens Rodrigues é correspondente de Embu-Guaçu
rubensrodrigues@agenciamural.org.br

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Manhã de greve tem escolas fechadas em ao menos 14 cidades da Grande SP https://mural.blogfolha.uol.com.br/2019/05/15/manha-de-greve-tem-escolas-fechadas-em-14-cidades-da-grande-sp/ https://mural.blogfolha.uol.com.br/2019/05/15/manha-de-greve-tem-escolas-fechadas-em-14-cidades-da-grande-sp/#respond Wed, 15 May 2019 16:50:40 +0000 https://mural.blogfolha.uol.com.br/files/2019/05/WhatsApp-Image-2019-05-15-at-12.34.25-320x213.jpeg true https://mural.blogfolha.uol.com.br/?p=16217 A manhã desta quarta-feira (15) teve escolas fechadas, dúvidas dos pais e mobilização de alunos e educadores nas periferias de São Paulo e da região metropolitana.

A paralisação dos professores atingiu ao menos 14 cidades da Grande São Paulo, segundo levantamento da Agência Mural.

Biritiba-Mirim, Carapicuíba, Cotia, Diadema, Embu-Guaçu, Franco da Rocha, Guararema, Guarulhos, Itaquaquecetuba, Mairiporã, Mogi das Cruzes, Osasco, São Bernardo do Campo, Vargem Grande Paulista, além da própria capital, tiveram interrupção das aulas. Parte dos moradores irá para a avenida Paulista nesta tarde. 

Na região do Parque Cisper, em Ermelino Matarazzo, a escola João Franzolin Neto teve paralisação de 60% dos professores. Na escola municipal Rosângela Rodrigues Vieira, 90% pararam.

Na Brasilândia, zona norte, a escola Hélio Heber Lino teve aula de apenas dois professores em sala de aula, enquanto na CEI Jardim Dionísio, no Jardim Ângela, zona sul, a unidade funcionou até 11h.

“Minha filha de oito anos, que estuda na escola estadual Jardim Aurora, não teve aula. Me prejudicou no que tinha para fazer hoje e também não vai ter balé no CEU Jambeiro”, disse Kátia Figueiredo Lima, 43, moradora de Guaianases, na zona leste.

Professora da escola estadual Aurélio Campos, em Interlagos, na zona sul, Claudia Maria Luciano, 57, afirma que a redução de recursos no ensino superior afeta também o ensino de base.

“A educação básica depende fundamentalmente das pesquisas que são feitas nas universidades públicas. Tudo o que é feito para a melhoria do conhecimento está dentro das universidades. Indiretamente quem acaba sendo prejudicado com isso é a educação básica”, afirma.

Escola sem aulas em Mairiporã (Humberto Muller/Agência Mural/Folhapress)

“Este é o primeiro momento que os agentes da educação estão se mobilizando contra este governo, que tem um discurso anti-intelectual e anti-conhecimento”, diz o professor Raimundo Justino, de Ermelino Matarazzo, na zona leste.

“Já tivemos muitos governos que trataram a educação com descaso, mas esse a trata como inimiga”, opina o educador.

GRANDE SP

Até a noite desta terça-feira (14) escolas de ao menos oito cidades haviam aderido, mas outros municípios também tiveram paralisações na manhã de hoje.

Em Franco da Rocha, na região norte da Grande São Paulo, ao menos quatro escolas tiveram paralisação completa, caso das municipais José Augusto Moreira – Estância Lago Azul, Arnaldo Guassieri, na Vila Lanfranchi, a Egydio José Porto, no Parque Vitória, e a escola estadual Luiz Alexandre, no Jardim dos Bandeirantes.

A informação passada pela coordenadora é de que 90% dos colégios tiveram suspensão parcial ou total das aulas. Na rede municipal, a prefeitura informou que 18 escolas registram paralisação total; 24 com paralisação parcial; 10 funcionam normalmente. Situação parecida vive a cidade vizinha de Mairiporã.

“Na escola da minha filha foi avisado via agenda e o professor reforçou pelo Whatsapp”, diz o autônoma Giselle Guidoni Carvalho, 33. A filha dela estuda na escola municipal Muffarege Salomão Chamma.

“Todos têm o direito de protestarem e paralisarem suas funções em decorrência de uma reivindicação. Entretanto, não existe uma outra solução, pelo menos nos meios em que pesquisei, que solucione a questão da previdência”, diz Giselle.

A auxiliar de farmácia Keiti Moraes Ferraz, 26, tem um filho que estuda na escola Nicolau Pinto da Silva, colégio que também teve aulas paralisadas. “Não me afetou. Super apoio a manifestação dos professores. Inclusive, queria ir participar”, diz Keiti.

Havia um cartaz colado na porta da escola com a informação sobre o funcionamento nesta quarta.

Em Guarulhos, município de 1,3 milhão de habitantes, a informação é de que 119 escolas municipais tiveram paralisação das aulas. A prefeitura de Guarulhos não confirmou a quantidade.

Manifestantes caminharam até a prefeitura em São Bernardo (Cadu Bazilevsky)

No Alto Tietê, de acordo com o Sindicato dos Professores do Ensino Oficial do Estado de São Paulo (Apeoesp), 23 escolas não têm aulas em Mogi das Cruzes. Segundo a entidade, em Biritiba Mirim as três escolas estaduais da cidade funcionam apenas parcialmente. Em Guararema, das seis escolas estaduais, a Apeoesp estima que a paralisação está em 60%.

Em São Bernardo do Campo, os professores caminharam da praça Santa Filomena até o Paço municipal. Em meio ao protesto, houve também reivindicações sobre a educação local.

A professora Andrea Rocha, 46, da rede municipal, dá aula para o quinto ano do ensino fundamental na Emeb Olegário José Godoy, no bairro Montanhão. Ela critica o modelo implantado no colégio.

“Não é uma escola integral, é de tempo integral. [A prefeitura] pegou a escola e colocou os alunos ali dentro. Só que a escola não tem estrutura para receber essas crianças. Não tem quadra, não tem biblioteca, é um computador para cada três crianças”, diz Andrea.

Da Agência Mural: Paulo Talarico, Priscila Pacheco, Rafael Balago, Aline Venâncio, Humberto Muller, Jariza Rugiano, Jéssica Silva, Leticia Marques, Lucas Veloso, Micaela Santos, Thalita Monte Santo.

 

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